Relatórios do IPCC vêm constantemente alarmando sobre os potenciais efeitos catastróficos do aquecimento global na sociedade. Apesar de não haver um consenso científico sobre quais são os reais impactos ao setor sucroenergético, seus efeitos vêm sendo observados há tempos: períodos de seca ou chuvas alterando substancialmente a produtividade e prejudicando os indicadores financeiros.
Dados mundiais coletados pela plataforma global e certificação Bonsucro há mais de 10 anos apontam que, em média, quase 70% das emissões das usinas certificadas são oriundas da fase agrícola, 5% do transporte de cana e 25% da fase industrial do processo produtivo. Mesmo com seus cerca de 400 milhões de toneladas de CO2eq emitidos anualmente, o cultivo de cana-de-açúcar não está entre as principais commodities agrícolas emissoras: carne bovina, frango, laticínios, carne de porco, milho, óleo de palma, arroz, soja e trigo.
O setor sucroenergético, na verdade, já se provou um grande aliado à descarbonização do planeta, movimento que ocorre em duas frentes: por meio dos produtos low-carbon que o setor produz e dentro do próprio processo produtivo agroindustrial (para a redução ainda maior da intensidade carbônica dos produtos).
A natureza intrínseca renovável dos produtos à base de cana é uma vantagem por si só, pois possuem uma menor intensidade de carbono em comparação com os derivados fósseis. De biocombustível para transporte terrestre, aéreo e marítimo até bioplásticos e cosméticos, o etanol é a estrela da vez com sua grandiosa versatilidade.
Mas não se resume a isso. Cada vez mais o setor também vem incorporando a circularidade no processo produtivo, ou seja, os resíduos gerados se tornam sua própria matéria-prima. Esse é o caso do biogás, que pode ser produzido a partir da vinhaça, torta de filtro, bagaço e palha, e do etanol de segunda geração, produzido a partir de bagaço e palha. São os chamados waste-based products, ou produtos à base de resíduos, que estão sendo cada vez mais valorizados pelos mercados mundiais por conta da baixíssima intensidade de carbono atrelada.
A produção agrícola é também uma das poucas atividades econômicas que removem dióxido de carbono da atmosfera por meio da fotossíntese das plantas cultivadas. Por isso, considera-se que a intensidade de carbono dos produtos do setor seja menor ainda, colocando-o em posição realmente privilegiada e competitiva no contexto mundial de descarbonização. Isso significa que o carbono removido nos canaviais tem um grande potencial de tornar-se um novo ativo ou produto valioso do setor.
Quanto à descarbonização do processo agroindustrial sucroenergético, implementar um padrão internacional de certificação como o Padrão de Produção Bonsucro oferece uma trilha concreta com orientações, ferramentas alinhadas à ciência e indicadores quantitativos a serem seguidos para descarbonizar ainda mais essa cadeia produtiva, dentre diversos outros benefícios ambientais, sociais e operativos.
Na média global, as unidades certificadas pela Bonsucro reduzem 17% das suas emissões em 5 anos, indicando que, quanto mais tempo se mantém a certificação, maiores são as reduções. Por exemplo, no quinto ano de certificação, pode-se chegar a 26,31 kg CO2eq emitidos por tonelada de cana.
O Brasil é o país que possui a maior área de cana certificada pela Bonsucro no mundo. São 1,6 milhões de hectares que totalizam 96 milhões de toneladas de cana certificada no país, o que demonstra a competividade e excelência do setor sucroenergético brasileiro nos critérios socioambientais mais restritivos do mercado. A eficiência ambiental também vem sendo impulsionada por outros programas como o RenovaBio, que também incorpora um protocolo de certificação para que a descarbonização aconteça de forma mensurável e válida para o mercado.
O setor sucroenergético desempenha papel crucial na descarbonização global ao fornecer bioenergia limpa e renovável, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Além de gerar biocombustíveis sustentáveis como o etanol, o setor contribui para a captura de carbono e a mitigação das mudanças climáticas. Sua expansão, certificação e inovação são essenciais para uma economia de baixo carbono.