Até o final da década de 1990, o setor sucroenergético vivenciava um ambiente de negócios caracterizado pela determinação dos preços e quantidades pelo governo. Com o início do processo de desregulamentação, as unidades produtoras ganharam a possibilidade de exportar seus produtos diretamente, sem qualquer intervenção do governo, e, assim, explorar os diversos mercados consumidores pelo mundo.
Desde a desregulamentação, a cadeia da cana-de-açúcar passou por profundas transformações, com a mecanização do processo de colheita e plantio, o uso de tecnologias de informação para otimização do controle de pragas, a introdução de novas variedades, o aperfeiçoamento da logística de transporte e escoamento da matéria-prima e da produção, além de melhor gestão dos ativos.
Todos esses movimentos garantiram ganhos de eficiência que, hoje, se refletem no posicionamento do País no mercado internacional de açúcar. A indústria sucroenergética brasileira se consolidou como principal player no mercado mundial de açúcar – nos últimos dez anos, o País foi responsável por quase 50% do comércio global de açúcar.
Atualmente, cerca de 70% da produção doméstica é direcionada à exportação. Essa liderança ocorreu mesmo em condições bastante adversas às exportações, pois alguns grandes produtores se valem de medidas protecionistas e de subsídios para sustentar a produção doméstica.
Ao longo desses anos, o processo de comercialização também foi aprimorado e, atualmente, o entendimento e o uso do mercado futuro de açúcar são comuns na maior parte das empresas, garantindo maior previsibilidade de preço por meio da fixação antecipada das vendas.
Outro elemento ímpar do setor se refere à sua capacidade de ajustar as demandas do mercado a partir da flexibilidade da produção. A possiblidade, ainda que restrita, de alterar a proporção de cana-de-açúcar direcionada à fabricação de açúcar confere vantagem estrutural ao permitir uma gestão de riscos mais eficiente.
Um retrato explícito do benefício dos investimentos para a ampliação da flexibilidade da produção pode ser observado nos resultados da última safra, 2020/2021. O setor expandiu a oferta de açúcar em 12 milhões de toneladas no espaço de apenas um ano, sem promover riscos ao dinâmico e competitivo mercado de etanol. Esse resultado gerou a maior produção da história do País, com um total de 41,5 milhões de toneladas de açúcar e a maior quantidade exportada por um único país – somou, no ciclo 2020/2021, 32,1 milhões de toneladas.
Assim como outras commodities, o mercado de açúcar apresenta ciclos de produção e de preços. Nos períodos de superávit, os países produtores de açúcar a partir de culturas de ciclo curto, como a beterraba, podem alternar a lavoura com o cultivo de outros produtos, mas, para os produtores de culturas semiperenes, como a cana-de-açúcar no Brasil, a flexibilidade é fundamental.
A despeito da discussão em diversos países sobre medidas para restringir o consumo de açúcar, especialmente nos países desenvolvidos, ele ainda é a fonte de carboidrato mais barata do mundo. Trata-se de um mercado maduro, com um crescimento vegetativo anual entre 1% e 2%, sustentado, principalmente, pelo aumento populacional, pela expansão da urbanização e pelo aumento de renda nos continente africano e nos países do sul e leste asiático, que devem continuar demandando adoçante dos produtores brasileiros.
No último ano, as exportações brasileiras para essas regiões representaram cerca de 70% da exportação de açúcar, tendo China, Argélia, Bangladesh e Índia como os principais parceiros comerciais. Os maiores desafios do setor sucroenergético para manutenção e crescimento da sua posição no mercado internacional passa pelo esforço em buscar ações para a redução das medidas protecionistas e dos subsídios aos produtores locais em outras nações e pelo persistente empenho dos produtores brasileiros para ampliar a eficiência produtiva, logística e ambiental ao longo dos próximos anos.