Presidente da UDOP
Op-AA-31
O setor sucroenergético vive hoje uma crise de produção, como classificam alguns analistas. O grande dilema é que precisamos crescer, sabemos disso, mas ao mesmo tempo temos uma ociosidade próxima a 30% de nossa capacidade de produção, ou mais ou menos déficit de 150 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para processar por safra no Centro-Sul. Como resolver esse dilema ?
Ao folhearmos os principais jornais e revistas do País, percebemos que, finalmente, viramos a bola da vez quando o assunto é matriz energética, agronegócio ou mesmo sustentabilidade. Mas, ao invés do que prevíamos, essa vitrine veio mesmo por uma falta de estratégia, e não por algo positivo que fizemos.
Assumindo um pouco a culpa do atual status quo que vivemos, não podemos esquecer que por anos, por culpa nossa e do governo, mais dele do que nossa, fomos obrigados a abastecer o mercado nacional com etanol abaixo dos custos de produção, o que fez com que os preços ficassem, em média, 50% dos praticados na gasolina, acostumando mal uma demanda crescente que acabava de comprar um carro flex.
Vamos aos fatos. Podemos destacar que a atual situação da falta de cana-de-açúcar é decorrente, principalmente, de sucessivas perdas ocasionadas por problemas climáticos, como o excesso de chuva em 2009, a falta dela em 2010 e depois as geadas, o florescimento da cana e novamente a seca no último ano, somadas aos problemas econômicos mundiais, que fecharam as torneiras dos financiamentos, e para piorar a situação, uma alta nos custos de produção na ordem de 50%.
Mas a pergunta que não quer calar é como deixamos as coisas ficarem da forma como estão? Vale uma reflexão. Fizemos crescer nossa produção, entre os anos de 2005, 2006 e 2007, em cerca de 20% ao ano, tanto em produção de cana, ampliação dos parques das usinas e ainda implantação de projetos greenfields. Vivíamos um cenário de pleno crescimento no mercado nacional, enquanto, no internacional, víamos um oásis que por fim se concretizou apenas agora.
Mas o estrago estava feito.
Enchemos o mercado interno de etanol a baixos preços, endividando-nos e ainda acostumando mal nossos consumidores. Isso eu chamo de subsídio indireto à gasolina, que, no período, não subiu um centavo sequer.Sabemos, por vezes, que mudar o passado é tarefa impossível, mas construir um novo futuro é nosso dever. Então, mãos à obra.
Para voltarmos a crescer, objeto desse artigo, acredito que devemos trabalhar em três diferentes frentes, não menos importantes e tampouco exclusivas, outras poderão surgir e devemos agir com destreza.
Por sorte (não acredito em sorte, mas sim no resultado de muito esforço), o primeiro passo já está dado. Temos demanda. Interna e principalmente externa. O oásis se tornou real e, hoje, é altamente factível que temos o melhor produto que o mundo quer, basta produzi-lo e vendê-lo.
A abertura do mercado norte-americano é uma grande oportunidade para o setor, pois, considerando a sede americana por etanol, hoje temos um combustível que visivelmente deve atrair mais e mais investimentos a nosso país. Todavia, só termos demanda não enche a barriga de ninguém.
Sabemos que, para abastecê-la, outras barreiras devem ser superadas, e aí entraria talvez o que chamo de nosso segundo, e não menos importante, desafio: ter rentabilidade.
No capitalismo que vivemos, é notório que os grandes investimentos são direcionados àqueles que dão um retorno, senão rápido, maior a seus investidores. Não basta termos o melhor produto do mundo; se ele se tornar economicamente inviável, será apenas um sonho.
Aumentar, ou criar rentabilidade em nosso setor, demanda esforços conjuntos das usinas, das entidades e, principalmente, do governo constituído. Hoje, numa análise mais simplista, a desoneração de PIS/Cofins e ICMS poderia ser o início desse desatador de nós.
Mas outras bandeiras poderiam ser levantadas, quando falamos em aumento de rentabilidade. É notório o avanço, por exemplo, de novas usinas em regiões de pouca tradição, como os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Tocantins, enfim, novas fronteiras, onde as terras ainda não estão superfaturadas e há disponibilidade de mão de obra e clima favoráveis.
As boas performances dessas áreas, no entanto, acabam desestimuladas por um custo logístico muito maior. Então, outro grande desafio seria o de acelerar os corredores de etanol, quer etanoldutos ou mesmo a utilização de hidrovias e quem sabe até as ferrovias, para o escoamento mais rápido e mais barato de nosso biocombustível.
O terceiro desafio, mas não menos importante, que, acredito ser consequência dos dois primeiros, é o retorno de linhas de crédito para a construção de novas usinas. Dessa forma, com demanda, rentabilidade e dinheiro, conseguiremos atender ao enorme mercado que se abriu, e que sonhamos ocupar.