Me chame no WhatsApp Agora!

Pedro Jacob Christoffoleti

Professor de Produção Vegetal Esalq-USP

Op-AA-05

Manejo de plantas daninhas: presente e futuro

Colaboração: Saul Jorge Pinto de Carvalho e Marcelo Nicolai pós-graduandos em Fitotecnia

A cultura da cana-de-açúcar (Saccharum spp) participa da economia brasileira há mais de quatro séculos, sendo que sua importância tem aumentado nos últimos anos, em conseqüência da exigência da sociedade pela adoção de combustíveis menos poluentes, provindos de fontes renováveis, além da produção de açúcar.

Neste contexto de otimismo, tem-se observado a crescente busca do setor sucroalcooleiro por tecnologias que promovam maior produtividade e melhor qualidade do material colhido. É exatamente neste ponto que está inserido o manejo de plantas daninhas. Inúmeros trabalhos demonstram que a presença de espécies infestantes dentro dos canaviais diminui o perfilhamento e a produção das touceiras, reduz o número de cortes economicamente viáveis, dificulta o processo de colheita (reduzindo a eficiência do sistema), além de prejudicar a qualidade da matéria prima encaminhada para as usinas.

Sabe-se que erradicar as plantas daninhas é insensato e, sobretudo, inviável economicamente. Assim sendo, o bom manejo é aquele que visa o convívio da cultura agrícola com níveis toleráveis da comunidade infestante, de forma que a presença destas não promova a redução da receita do empreendimento. Este modelo de manejo, em teoria é simples, contudo, na prática, tem se mostrado bastante complicado.

O ponto de equilíbrio entre o menor custo de controle a ser empregado e a alta eficácia na supressão das plantas daninhas, com conseqüente máxima produtividade, é tênue e está embasado em conhecimentos sólidos sobre a biologia e ecologia destas plantas e sobre as moléculas herbicidas disponíveis no mercado. Embora muito se estude sobre biologia e ecologia de plantas daninhas, pouco do manejo é feito com base nestes conhecimentos.

Dentre as etapas biológicas das espécies, cujas características devem ser utilizadas como ferramentas de otimização de manejo, destacam-se: padrão de recrutamento de indivíduos aptos a germinar do banco de sementes; condições em que a germinação ocorre; crescimento e duração do ciclo vegetativo e reprodutivo, etc.

Diversas são as aplicações para a integração da biologia ao manejo de plantas daninhas, como, por exemplo, a supressão de espécies da família poácea (gramíneas) com a adoção de colheita de cana-crua no talhão, a flexibilização das aplicações de herbicidas, com base no tempo mínimo para o florescimento e competitividade das espécies e, talvez a mais importante, a prevenção da infestação por meio dos conhecimentos de dispersão, que ainda não tem sido encarada com a devida seriedade.

Como mencionado, o domínio da biologia das espécies é uma ferramenta extra para a redução dos problemas relacionados com as plantas daninhas, contudo, por si só, não é suficiente. O manejo a ser utilizado está baseado, também, em outras formas de supressão da comunidade infestante, onde os herbicidas aparecem como a opção mais utilizada na cultura da cana.

Para poder extrair ao máximo a eficácia de cada produto disponível à comercialização, espera-se que haja o pleno conhecimento de cada molécula, por parte dos que estão comprometidos com o setor. Entende-se que as informações sobre cada herbicida nem sempre estão acessíveis a todos, no entanto, em um ambiente onde se almeja alta produtividade, não se pode admitir que ainda existam “receitas prontas” para o controle de plantas daninhas.

A condição climática do local, o tipo de solo, o conjunto de espécies presentes, o relevo, bem como todo o sistema de produção (cana queimada versus cana crua) variam de local para local e até mesmo dentro de cada talhão. Assim sendo, cada ambiente de produção requer a adoção de herbicidas específicos que corresponderão às expectativas do produtor em termos de eficácia e seletividade.

A problemática agrava-se no instante em que a recomendação fixa de um determinado herbicida é mantida ao longo dos anos. A rotação das moléculas a serem aplicadas, bem como do mecanismo de ação dos produtos são práticas agrícolas que devem ser utilizadas em qualquer cultura, cujo desrespeito pode acarretar problemas de eficácia no futuro, decorrentes da seleção de espécies ou biótipos insensíveis ao herbicida.

Ainda não foi detectado nenhum caso de resistência de plantas daninhas a herbicidas na cultura da cana-de-açúcar, contudo a ocorrência de focos de capim-colchão (Digitaria nuda) insensíveis a determinados produtos é um exemplo claro da seleção de espécies, conseqüência da aplicação repetitiva de herbicidas. Por fim, considera-se que a busca de novas tecnologias que possibilitem a maior flexibilidade das etapas de manejo é extremamente salutar, mas vale insistir que todo progresso tecnológico deve estar baseado no pleno domínio do que já existe.

O que anos atrás se imaginava como os novos desafios para o controle de plantas daninhas, hoje já é realidade, como a aplicação de herbicidas sobre palhada, por exemplo, que é uma inovação que tende a manter-se e, provavelmente, expandir-se. A perspectiva futura para sucesso no controle de plantas daninhas em cana-de-açúcar é vista como a combinação entre conhecer e dominar o que está disponível, adequar-se às novas condições de produção, assimilar e adaptar a tecnologia em desenvolvimento e exercitar a predição do que se tornará problema dentro de alguns anos.