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Pedro Jacob Christoffoleti

Pesquisador da PJC Consultoria Agronômica

OpAA70

Manejo seletivo das plantas daninhas

Nossa visão para o produtor atingir um novo patamar de produtividade na cultura de cana-de-açúcar está fundamentada no princípio de um controle de plantas daninhas com eficácia, seletividade, sustentabilidade econômica e ambiental, visando, sempre, mitigar o banco de sementes em suas áreas. Para isso, deve integrar práticas de manejo em todo o processo produtivo: desce a implantação do canavial, passando pela rotação de culturas, cana-planta e cana-soca, até a pré-colheita.


Dessa forma, abordamos, neste artigo, as principais práticas modernas que o produtor precisa empregar nessas etapas, sempre com o intuito de proteger a produtividade potencial do canavial, com o foco de maximizar a produtividade e menor custo.


Na implantação do canavial, o primeiro passo é a erradicação eficaz da soqueira e plantas daninhas perenes remanescentes do ciclo anterior de soqueiras, com o princípio de implantação do canavial “no limpo”. Para isso, a matriz de conservação de solos exige, na maioria das situações, que essa destruição seja química, através do herbicida glifosato. No entanto essa molécula, na atualidade, tem tido um custo muito elevado e escassez no mercado, levando o produtor a procurar alternativas. Um outro ponto interessante a ser salientado nesse tópico é a provável existência futura da cana tolerante ao glifosato, fato que inviabiliza o uso dessa molécula para a destruição de soqueira, levando à necessidade de registros de novas moléculas, como os inibidores da ACCase, (o cletodim, o fluazifop-butil e o haloxyfop).


Uma tendência futura na canavicultura, que já é realidade para a maioria dos produtores de cana, é a utilização do sistema de meiosi (método inter-rotacional ocorrendo simultaneamente), ou a rotação simples na reforma do canavial. Para isso, dois aspectos  importantes devem ser destacados: a “linha mãe”, que, no caso de uso de mudas pré-brotadas (MPB), intercaladas com culturas de grãos (soja ou amendoim, principalmente), tem limitações de escolha de herbicidas, relacionada com sua seletividade; por outro lado, a cultura intercalar, que, na maioria dos casos, utiliza herbicidas pós-emergentes, como o glifosato, para a soja transgênica resistente a esse herbicida, ou os inibidores da ACCase (cletodim), no caso do amendoim, com grande risco de derivas para a “linha mãe”.


Assim, nossa recomendação é o uso de herbicidas pré-emergentes na cultura da soja (flumioxazin, pyroxasulfone, s-metolachlor etc.). Já para o amendoim, um dos principais herbicidas que o produtor utiliza é o imazapic, que, se utilizado dentro das recomendações de bula, não apresenta efeito de carryover sobre a cana plantada na desdobra da “linha mãe”.


Para muitos produtores de cana, a grama-seda é, com certeza, uma das plantas daninhas perenes, na reforma do canavial, que “tira o solo” de preocupação, devido à grande dificuldade de controle. Assim, a tendência futura de controle dessa planta daninha na reforma do canavial é o mapeamento das áreas infestadas, e, nas “reboleiras”, utilizar o herbicida imazapic, de acordo com a recomendação de bula, respeitando aspecto de período de espera para o plantio e quantidade mínima de chuva necessária.


Para o produtor que pretende instalar uma cultura em rotação, como a soja, nessa área, necessita de um programa de aplicações sequenciais de glifosato e inibidores da ACCases para seu controle. Destacamos a necessidade de integração de medidas no plantio com o uso de pré-emergentes (clomazone e indaziflan), assim como no pós-plantio com herbicidas pós-emergentes.


No momento do plantio do canavial, quando existe um banco de sementes na área de alta infestação, é recomendável que um herbicida de pré-plantio seja utilizado, como a trifluralina, ou, no caso da tiririca, o sulfentrazone (aplicação sequencial desse herbicida em pós-plantio), ou, no caso da grama-seda, o clomazone em pré-plantio. Seguido ao plantio, é necessária a escolha de um herbicida de pré-emergência, que, na maioria dos casos, exige a associação com um pós-emergente, que seja eficaz, de amplo espectro, fundamentado na época de aplicação (clima), com residual até o “quebra-lombo”, conhecendo o mecanismo de ação dos herbicidas e sua eficácia, bem como grupo de plantas daninhas infestantes da área.


A maioria dos produtores, que não fazem o plantio nivelado da cana, utilizando um cultivo de nivelamento do solo para a colheita, operação chamada popularmente de “quebra-lombo”, necessita de um herbicida extensor de residual (remonte de pré-emergente), visando ao “fechamento” do canavial no limpo, sem plantas daninhas de infestação tardia, evitando “repasses”.


Para a cana-soca, cortada durante o período seco do ano, a tendência futura é para o uso de formulações avançadas, contendo associações de herbicidas com longo residual, que tenham características físico-químicas, e de formulação para permanecer sob condições de deficiência hídrica, por um longo período sobre a palhada seca. As moléculas que mais toleram essas condições são os inibidores da ALS imazapic, sulfometuron, diclosulan; os inibidores do fotossistema II, amicarbazone, hexazinona, tebuthiuron; os inibidores da DOPX clomazone; os inibidores da HPPD isoxaflutole; os inibidores da Protox flumioxazin e sulfentrazone, e o inibidor da síntese de celulose indaziflan. Nas soqueiras de época chuvosa, há necessidade de ajustes de doses dos herbicidas de seca, quando recomendados, tendo também outras opções de herbicidas.


Nas soqueiras, eliminar remanescentes é fundamental para garantir produtividade e evitar o enriquecimento futuro do banco de sementes de plantas daninhas. Para isso, podem ser utilizados, no caso das gramíneas, herbicidas de absorção radicular, como a hexazinona, aplicados de forma dirigida e concentrada no centro da touceira das gramíneas. No caso de folhas largas, principalmente plantas volúveis (trepadeiras), como a corda de viola e mucuna, o uso de herbicidas auxínicos, principalmente, bem como inibidores do fotossistema II (ametrina, diuron, atrazina etc.), associados ou não com mesotrione, podem ser utilizados.


Esse manejo na pré-colheita é fundamental não apenas para evitar perdas de rendimento operacional da colhedora, mas também para evitar enriquecimento do banco de sementes.


Finalmente, carreador no limpo reduz riscos de incêndio e enriquecimento do banco de sementes, e a “boca de rua” exige medidas de controle além do período crítico de competição. Para isso, o produtor utiliza herbicidas residuais de longo período de controle no carreador e herbicidas nas bordas do talhão, remontando o herbicida residual. Os dois herbicidas mais utilizados para esse fim são flumioxazin e indaziflan, aplicados em condições de pré-emergência.


Caso o produtor opte por fazer a aplicação em pós-emergência das plantas daninhas, com o canavial já desenvolvido, a mistura de glifosato com flumioxazin ou imazapic é a principal opção.


Canavial “no limpo”, sem a incidência de plantas daninhas interferindo com a produtividade, ou enriquecendo o banco de semente, é a base para atingir um novo patamar de produtividade. Para isso, o produtor deverá estar atento ao utilizar práticas de manejo em todas as etapas do processo produtivo.