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Roberto de Rezende Barbosa

Presidente do Conselho de Administração das Empresas NovAmerica

Op-AA-40

O "barco" da cadeia produtiva da agroenergia

O “barco” da cadeia produtiva da agroenergia está sofrendo com os enormes buracos, fazendo-nos adernar, e, nessas horas, só remando rápido para não afundarmos de vez. Não temos, neste momento, como reivindicar uma salvação nas instituições federais e estaduais, que se envolveram em armadilhas com difícil retorno e soluções, tais como:

• retirada da CIDE (reduzindo a competitividade do etanol);
• necessidade de importação de combustíveis (vendendo, aqui no Brasil, com baixo custo);
• construção atrasada de novas refinarias que objetivavam suprir a demanda crescente de combustível no consumo interno.

Novamente, o mercado "preço" será a salvação; temos como fundamento o mercado de açúcar, que nos indica estar em recuperação. Com uma certa paciência, poderemos esperar até 2015. Quanto ao etanol, a dúvida persiste, contudo, há esperanças ... Hoje, as políticas populistas terão que encontrar uma breve solução no novo governo, seja qual for o eleito.

A cadeia produtiva só se salvará na busca do custo baixo, sob uma gestão austera, com uma operação eficiente, implementando todas as tecnologias comprovadas e de olho nas novas que estarão surgindo no tempo futuro, torcendo para que a natureza se mantenha em equilíbrio e nos ajude nessas águas revoltas. O grande drama está sendo como a nossa cadeia produtiva é percebida pela sociedade como um todo; neste momento, a sobrevivência está difícil: diminuição da oferta, pois os canaviais indicam uma queda nas próximas safras 2014/2015/2016, bem como uma drástica perda de produção, já que várias unidades estão parando, com consequências sociais no seu entorno, não tendo mais como financiar o serviço das dívidas e captar novos recursos.

Resta-nos apenas sobreviver com o fluxo de caixa, sem agregar valor para depreciação dos ativos, liquidar as dívidas e remunerar o negócio, dificultando, ainda, empreendimento de novas unidades, necessárias para a crescente e real demanda. A sensibilidade para as externalidades do setor não faz parte do referencial institucional com grande dificuldade para o setor se expor e dialogar com esta dita percepção popular, sendo combustível renovável, interiorizado socialmente, economicamente viável, está gastando toda sua energia para remarmos até um porto seguro, antes que esse fluxo de águas nos afunde sem salvação.

Ainda temos um barco salva-vidas ao largo, que podemos acessar. É a pesquisa e desenvolvimento que busca o uso dos subprodutos da cadeia produtiva da cana, para viabilizar-se como um negócio, que são: a palha, a vinhaça e o próprio bagaço. A palha, temos que recolhê-la no campo com custos compatíveis ao valor calórico dela e a seu peso especifico, enfardando para o transporte. Está sendo um desafio.

A vinhaça deverá ir para um biodigestor eficiente; o bagaço e palha, sacarificados com enzimas modernas e produtivas, e assim teremos a segunda geração do etanol. Os produtos finais dessas sobras se tornarão matérias-primas e terão valor econômico: pellets de bagaço e palha, gás “metano”, que deverá ser purificado, para uso em motores ou queima em caldeiras, gerando energia elétrica para exportação (já operacional) em algumas unidades. Os investimentos nessas novas áreas são altos e de longo tempo de operação e maturação com economicidade, que não são de longo prazo e nada fáceis, principalmente neste momento de “águas revoltas”.