Diretor-geral da Itaipu Binacional
Op-AA-35
A produção de energia para promover o crescimento sustentável – especialmente, sem aumentar a concentração de carbono na atmosfera – é, hoje, uma questão estratégica para todos os países do mundo. Há consenso na comunidade científica e econômica internacional de que a solução passa pela redução da forte dependência de combustíveis fósseis, altamente poluentes e produtores dos gases do efeito estufa.
O Brasil tem uma condição privilegiada para responder a esse desafio. Metade da energia primária (elétrica + combustíveis) que move a economia brasileira provém de fontes renováveis, proporção bastante significativa se comparada com a média mundial, de apenas 13%. O contraste é ainda maior em relação aos países ricos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que dispõem de apenas 6,1% de fontes renováveis na sua matriz energética.
Se considerarmos apenas o suprimento de energia elétrica, a vantagem brasileira é ainda mais contrastante: 79% da nossa capacidade instalada é de fontes renováveis, com predomínio da hidreletricidade, contra 23,4% da média mundial. Outro destaque é o nosso pioneirismo na área de biocombustíveis, principalmente o etanol, em que o País detém tecnologia de ponta.
Mas ainda há muito a se fazer, pois a demanda por energia é crescente. A nosso favor, conta o fato de o Brasil ter um potencial para o desenvolvimento de energias renováveis praticamente ilimitado, dadas as características nacionais relacionadas ao clima, à biodiversidade, aos recursos naturais e ao meio rural.
E a forte presença de hidrelétricas também é um ponto favorável, pois tais usinas são viabilizadoras do aproveitamento de outras fontes renováveis (vide, por exemplo, a complementariedade da hidreletricidade com a geração eólica, devido às características climáticas do Brasil, ou ainda a possibilidade de as hidrelétricas promoverem o uso da biomassa residual das atividades agropecuárias para a geração energética, como a Itaipu vem fazendo).
Na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o País recuperou a capacidade estatal de investimento e de planejamento a longo prazo do setor energético. O Brasil aprendeu as amargas lições do “apagão” de 2001, crise que dificilmente voltará a se repetir. Por isso, ao lado dos esforços para viabilizar novos projetos hidrelétricos, o Governo Federal adotou uma ambiciosa política de estímulo ao desenvolvimento de biocombustíveis e de fontes não convencionais de energia. O fato é que o Brasil está, hoje, entre os 10 países que mais investem em energia limpa e caminhando para assumir uma posição de liderança em algumas das modalidades de renováveis, como é o caso da eólica.
É nesse contexto que se insere a geração distribuída (produção junto ao consumo) de energia elétrica. A biomassa é uma alternativa viável para expandir o parque gerador nacional. O uso do bagaço de cana para produção de energia já se mostrou uma opção viável e rentável. Com o crescimento da demanda por etanol no mercado mundial, o Brasil deverá ampliar o plantio de cana-de-açúcar.
É interessante observar que a sua colheita nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste coincide com a estação de estiagem. Portanto o uso do bagaço da cana para geração de energia poderá compensar eventual perda de capacidade de geração das usinas hidrelétricas durante o período de baixa dos reservatórios.
Mas essa não é a única alternativa para ampliar a geração distribuída no País. Um potencial ainda inexplorado é a biomassa residual derivada do lixo urbano e de atividades agropecuárias e agroindustriais. Um projeto desenvolvido pela Itaipu e diversos parceiros vem comprovando a viabilidade técnica e econômica da geração de energia elétrica a partir do biogás, produzido por biodigestores que processam dejetos da agropecuária e do tratamento de esgoto.
A experiência, em andamento em diversas unidades de demonstração na região oeste do Paraná, testou com sucesso tecnologia desenvolvida pela Copel para a conexão de microgeradores à rede elétrica. Além de oferecer solução para um sério problema ambiental, o aproveitamento da biomassa residual para produção de energia elétrica representa uma nova fonte de renda para cooperativas e associações de agricultores familiares.
A Itaipu Binacional, maior hidrelétrica do mundo em geração de energia elétrica, participa com entusiasmo dessa iniciativa, por reconhecer os enormes benefícios que a sociedade brasileira poderá obter com o uso intensivo de biodigestores para alimentar microgeradores. Um estudo promovido pela FAO em parceria com a Itaipu apontou que, considerando apenas os esgotos produzidos por animais que passam ao menos algumas horas do dia confinados, seria possível produzir 1 terawatt/hora/mês no Brasil, energia suficiente para abastecer uma cidade com 4,5 milhões de habitantes.
No governo da presidenta Dilma Rousseff, as renováveis permanecem como prioridade, apesar de as térmicas também terem sua importância e continuarem prestando um serviço essencial ao País nos períodos de baixa dos reservatórios, como o que ocorreu nesse final de 2012 e início de 2013. Porém as chuvas das últimas semanas já puseram fim ao deplecionamento dos reservatórios e caminha-se para uma situação de normalidade, afastando qualquer possibilidade de racionamento.
Agora, para fazer frente às necessidades de crescimento do País, considerando a inclusão social e a melhoria da distribuição de renda, o Brasil precisa adicionar 7 mil megawatts (meia Itaipu) à sua capacidade instalada todo ano. Em 2013, esse desafio será vencido com folga, pois serão acrescentados 8.500 MW, além de mais 7.400 km de linhas de transmissão. Nos próximos anos, o País prosseguirá nessa rota de crescimento associado à segurança energética, à medida que projetos como Belo Monte, complexo Tapajós, Jirau e Santo Antônio atingirem sua capacidade plena de operação.