O agronegócio é um vetor fundamental do crescimento econômico nacional. Em 2019, a soma de bens e serviços gerados no setor chegou a R$ 1,55 trilhão, respondendo por 21,4% do PIB brasileiro. A grandeza do segmento é o reflexo do comprometimento de todos os envolvidos na cadeia para garantir eficiência.
Nesse contexto, entender de maneira mais clara e objetiva o funcionamento do negócio é necessário para conquistar resultados mais promissores, visto que o setor está sujeito a fatores externos, a exemplo de riscos climáticos, financeiros e operacionais – sem falar de uma pandemia global no meio do caminho.
Nesse cenário, o setor sucroalcooleiro tem sido expoente e, para manter-se como tal, está avançando na aplicação de novas tecnologias, em especial na área agrícola. Muito além de utilizar tecnologia como método de digitalização de processos, as ferramentas de inteligência no setor estão sendo empregadas de modo a mapear, diagnosticar, gerenciar e complementar o conhecimento operacional e agronômico já presente nas corporações.
Mais do que nunca, a busca por inovação leva em conta a sustentabilidade do negócio e a eficiência da operação, desde a fase de preparo de solo até a colheita da cana. Nesse contexto, o avanço na aplicação de solução que soma produtividade e eficiência é imperativo para uma matriz de processos eficaz.
De costume, gerenciamos os processos operacionais e, portanto, as eficiências operacionais resultantes deles; ter um olhar sobre a eficiência agronômica também se faz necessário, já que os processos agronômicos também apresentam significativos efeitos nos resultados finais.
De forma prática, podemos expressar a Eficiência Operacional = ƒ (faixa de trabalho, velocidade média, logística, número de “passadas”, entre outros) e a Eficiência Agronômica = ƒ (insumo, dose do insumo, forma de aplicação do insumo, uniformidade de aplicação, posicionamento/localização do insumo, timing/prazo de aplicação, sequência operacional, entre outros).
Nesse sentido, a combinação dessas eficiências traz aumento de produtividade do recurso e da lavoura e, como resultante comum, a redução de custos. Com o advento de novas tecnologias, a área agrícola vem desenvolvendo muitos projetos, tanto na linha da eficiência operacional como da eficiência agronômica.
Todos eles são empregados, desde o preparo do solo para o plantio até o transporte da cana para a unidade produtora, e estão mostrando que a modernização é um movimento essencial ao favorecer o aumento de produtividade e reduzir custos. A aplicação de técnicas de agricultura digital é liderada pelas geotecnologias, que utilizam imagens de satélite e de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), entre outras, e são ferramentas fundamentais no planejamento agrícola atualmente.
A utilização de imagens de satélite na caracterização dos ambientes de produção, com desdobramentos em blocos de manejo, é um exemplo disso. Tal prática tem efeito direto na eficiência agronômica e operacional, uma vez que cria as condições para o manejo agronômico ideal, o sequenciamento e a cadência das operações, com ganhos também na gestão.
Nas operações de preparo de solo, desde a sistematização da área, os VANTs podem ser utilizados para gerar o Modelo Digital de Terreno (MDT), dando condições únicas para a elaboração de projetos de sistematização mais avançados, garantindo o melhor projeto para a conservação do solo e para a logística agrícola, tudo isso em um ambiente digital, com possibilidade de várias simulações e a geração das linhas de plantio, mesmo do escritório.
A redução de manobras proporcionada por essa tecnologia pode chegar a 30%. Ainda na fase de pré-preparo de solo, por meio de imagens de VANT e algoritmos inteligentes de classificação, é possível identificar, qualificar e mapear a dispersão de ervas daninhas que ocorrem na área, sendo as informações utilizadas para as tomadas de decisões na estratégia de controle de ervas durante o ciclo da cultura.
Assim, as linhas de plantio geradas e aprovadas na fase de projeto são utilizadas durante o plantio nos pilotos automáticos e auditadas após o estabelecimento na lavoura e viram referência para as operações de tratos culturais e colheita durante todo o ciclo da cultura. Essa prática cobre mais um ponto de extrema importância da condução adequada da lavoura, que é o controle de tráfego para evitar o pisoteio do canavial.
O desenvolvimento de novos equipamentos para os tratos culturais, com funções multioperacionais, tecnologias embarcadas de piloto automático e controladores de vazão para insumos que se utilizam das linhas de culturas georreferenciadas da formação de lavoura já é uma realidade e traz, na sua essência, ganhos de eficiência operacional e, principalmente, agronômica.
A imagens de VANT complementam esse pacote tecnológico informando a localização e a dispersão das plantas daninhas, melhorando o controle, reduzindo o esforço e o consumo de insumos. Ainda nos tratos culturais, o uso de VANTs ou drones se destaca em duas novas fronteiras:
a) para aplicação de espécies de inimigos naturais que controlam a broca-da-cana de maneira natural; no processo, esses agentes são colocados em dispositivos e carregados nas aeronaves, que são responsáveis pela liberação em áreas e locais preestabelecidos, diminuindo a necessidade de mão de obra e aumentando a qualidade da aplicação, bem como a eficiência agronômica do controle biológico.
b) para o controle localizado de daninhas/catação: essa tecnologia rapidamente vem se mostrando eficaz e complementar ao uso de aviões agrícolas, economizando esforços e insumos em áreas de menor infestação e menor dispersão das plantas, já que o equipamento “enxerga” a posição e a quantidade das daninhas e atua especificamente no seu controle.
Em relação ao uso racional da vinhaça, subproduto da produção do álcool, rica em potássio e matéria orgânica, também tem servido para mostrar o pioneirismo do setor na busca por soluções inovadoras e sustentáveis. A chamada “vinhaça enriquecida”, mistura de adubo na vinhaça, e sua aplicação direcionada à linha da cultura vêm proporcionando aumento da eficiência agronômica da fertilização, bem como a diminuição do consumo de fertilizante mineral.
A opção por utilizar a vinhaça também diminui a pegada de carbono e os custos operacionais, gerando ganhos ambientais e de produtividade da cultura, estimulando a prática da economia circular. A capacidade do setor de incorporar as novas tecnologias ao sistema produtivo é uma realidade, e a procura, agora, é para consolidar a inovação como uma competência fundamental para os negócios do futuro.
O fato é que disponibilizar informação qualificada e transformá-la em operações mais precisas é uma ambição da área agrícola. Por fim, a adoção de tecnologia no setor se tornou muito mais do que introduzir novos métodos; hoje, a inovação é fundamental ao agregar todos da cadeia produtiva em uma gestão eficiente em relação à produção.
Se, antes, ferramentas de inteligência na agricultura aperfeiçoavam operações, garantindo melhores resultados nas safras, hoje, a tecnologia ultrapassou territórios ao demonstrar que é necessária, inerente e eficiente em todos os processos. A busca por eficiência, aliás, bem como tecnologia, é a solução para uma matriz de processos efetiva.