A edição deste ano do Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro, em Davos, na Suíça, teve como tema central a chamada "Quarta Revolução Industrial”. O assunto descreve uma economia com forte presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade de pessoas e de coisas e tem a informação como valor central. Foram feitos questionamentos sobre quais impactos essa nova “revolução” teria no setor sucroenergético.
Contudo, para essas indagações, compartilho algumas reflexões e – por que não dizer – algumas provocações: será que é esse movimento de que precisamos agora? O setor já incorporou os avanços que outros segmentos já conquistaram? Inicio afirmando que julgo o termo “revolução” como inadequado, pois pressupõe mudanças rápidas e também fáceis, que seduzem a todos. Olhando para a história, percebemos que nenhuma revolução, nem mesmo as três primeiras revoluções industriais foram processos de ruptura imediata, mas evolutivos, que tinham como principal fato um novo conjunto de valores e de tecnologias que se tornaram o novo paradigma vigente.
Com esse olhar, a lógica de uma evolução gradual é ainda mais verdadeira no setor sucroenergético – trabalhando com uma cultura semiperene aliada a características de um mercado cíclico. Não devemos buscar para nós nenhuma revolução instantânea, mas sim contínua, desde valores e tecnologias, as quais estabelecerão um novo paradigma a partir de uma base sólida. Esse novo paradigma começou a ser estabelecido ao longo dos últimos anos, a partir de algumas dimensões, como a sustentabilidade, em seus vários aspectos, a mecanização, novas tecnologias e, sobretudo, a cultura empresarial e a formação das equipes.
A dimensão sustentabilidade trouxe oportunidades com a demanda que o etanol obteve no mercado, com suas características únicas de absorção de CO2 da atmosfera e também na consolidação do papel das usinas nos aspectos de responsabilidade social e ambiental que muito tem sido discutido. Já a dimensão ligada à mecanização e às novas tecnologias, talvez seja a que mais tenha forçado o setor a mudar. Durante muito tempo, a colheita e o plantio da cana-de-açúcar foram feitos usando mão de obra sazonal e de baixa qualificação.
Os aspectos ambientais da sustentabilidade levaram o setor a se comprometer com uma mudança radical e eliminar a queima da lavoura antes de sua colheita. Essa alteração forçou a implantação acelerada de colhedoras mecânicas e aspectos normativos, que, ligados ao mercado de trabalho, forçaram a implantação acelerada de sistemas de colheita mecanizados. Esses processos impulsionaram o desenvolvimento e uso de novas tecnologias, como a utilização de drones, pilotos automáticos, uso de GPS e imagens de satélites e de mudas pré-brotadas, entre outros aspectos.
A constante evolução dessas duas dimensões tem como pré-requisito a transformação do setor e a adequação dos papéis das pessoas nas organizações, bem como das culturas empresariais. Essa é a base sólida de que necessitamos. Olhando retrospectivamente – para as usinas que eram alimentadas por cana cortada a mão e tinham processos simples de moagem e produção de açúcar –, podemos observar mudanças significativas e afirmar que, hoje, a indústria se transformou em uma rede de células de produção no campo, em que cada grupo, ou frente de trabalho, é responsável por equipamentos sofisticados e de alto valor.
A frota de alimentação das usinas é um complexo sistema logístico, e os processos internos mostram-se cada vez mais sofisticados e automatizados. É interessante comparar este momento do setor sucroenergético com a grande mudança que aconteceu na indústria automobilística do Japão, na década de 1970. Naquele momento, permanecia o sistema de produção em massa disseminado com a montadora Ford. No entanto o processo de produção japonês, conhecido como produção enxuta ou Toyotismo, ganhava cada vez mais espaço.
Esse era o paradigma da terceira revolução industrial. O sistema implantado reunia equipes de operários muito bem treinados e com habilidades desenvolvidas para trabalharem ao lado de máquinas automatizadas, produzindo uma quantidade maior de bens. A hierarquia gerencial e as linhas de produção passaram a ser substituídas por equipes multiqualificadas enxutas, trabalhando em conjunto e diminuindo o esforço humano, além dos custos. O setor sucroenergético segue o mesmo caminho, em especial depois que começou a criação de grandes grupos, que consolidaram parte da produção no Brasil.
E, para podermos avançar rapidamente, é importante desenvolvermos todas as nossas equipes em aspectos técnicos e o senso de pertencimento, o que se dá com modelos de organização leves e descentralizados, em que as pessoas são sempre tratadas com respeito e lhes é atribuída a responsabilidade, e fortalecido o sentimento de dono. Tal qual na terceira revolução industrial. Esse é o atual desafio do setor, avançar rápido pelos caminhos já trilhados por outras indústrias e buscar, em paralelo, o uso de novas tecnologias.
Estou seguro de que empresas com culturas empresariais fortes e líderes que valorizam suas equipes não só vão capturar as oportunidades que estão ao seu alcance, mas também vão fazer uso das tecnologias mencionadas como parte da “Quarta Revolução Industrial”. O setor sucroenergético poderá ter, em breve, menos protagonistas do que teve no passado, principalmente com os desafios enfrentados nas últimas safras. Porém, estou seguro de que as práticas dos líderes dessa indústria serão, no futuro, muito pouco comparáveis com as do passado. A reinvenção está em curso e nada a fará parar.