Nos últimos anos, muito se tem aplicado no sistema de drenar o caldo que sai da compressão da cana ou bagaço, de entre os rolos da moenda, em auxílio ao sistema normal de drenar somente pelos vãos formados pelos frisos das camisas. Critérios de cálculos que vão de furos/m², furos/polegada ou comprimento da camisa até os cálculos das velocidades do caldo dentro dos furos, são muito variados. Nós adotamos este último.
A ideia é, a princípio, baratear ao máximo a aplicação; já que é um produto caro. Uma camisa perfurada custa de 1,5 a 3 vezes o valor de uma camisa convencional. Essa taxa varia de fabricante para fabricante, bitola da moenda, quantidade de furos transversais (boquilhas ou insertos), material das boquilhas, quantidade de furos axiais (ou galerias como alguns preferem), etc.
Falando de custos, na verdade o que nos interessa é sempre a relação custo/benefício. Mais que o valor do produto, o que interessa é o ganho que ele proporciona e se esse ganho compensa com sobras expressivas o maior custo que representa o produto.
Temos visto que sim, na maioria das aplicações.
• Camisa Perfurada no último terno:
Algumas usinas objetivam a redução da umidade do bagaço e, com isso, melhor eficiência nas caldeiras. Esse aumento de eficiência pode representar ganhos extras na produção de eletricidade, ou seja, mais lucro com a mesma quantidade de cana moída. Com a redução da umidade do bagaço há um aumento de extração. Então, o ganho é duplo.
Nessa aplicação, temos obtido reduções de 2
pontos na umidade, ou mais. Assim, teríamos, como exemplo: Retorno financeiro: considerando-se uma safra de 3.000.000 TC, 125 kg Açúcar/TC, R$ 59,00/ saco teríamos: R$ 646.592,00. No caso acima, a usina não aumentou a taxa de embebição (250%), mas temos casos nos quais a maior drenagem foi aproveitada para manter a umidade com maior volume de embebição. Temos casos que chegaram a 300% de Embebição%Fibra. Esses valores poderiam ser contestados, pois sabemos que a eficiência da embebição, na moenda, é muito baixa – chegamos a 30% no caso acima); mas, por outro lado, temos as impurezas – principalmente as minerais – prejudicando muito as extrações, a partir da moagem de cana integral.
• Camisa Perfurada no primeiro terno:
Algumas usinas objetivam o aumento de moagem sem aumentar a moenda, ou seja, aumentar a capacidade de moagem da mesma moenda. Temos obtido ganhos de 8 a 12% para as mesmas condições de cana e de parâmetros de projeto de regulagem da moenda. Ou seja, mantendo-se a mesma qualidade da cana e as mesmas aberturas do 1º terno, consegue-se moer entre 8 e 10% a mais.
Junto a esse ganho, conseguimos também um expressivo ganho de extração do 1º terno. Com a melhor drenagem do caldo, a moenda escorrega menos, há menos reabsorção do caldo e consegue-se moer mais com a mesma rotação ou a mesma taxa, com menor rotação. O volume de caldo que sai nesse terno aumenta e, como aqui não há o efeito da eficiência da embebição – pois a mistura da água com o açúcar é o da natureza –, o que sai é açúcar mesmo.
Esse efeito é semelhante ao uso de desfibrador com índices de preparo elevado, no qual um aumento de 85% de I.P. para 92%, proporciona aumento de 76% para 80% na extração do 1º terno.
Com as camisas perfuradas no 1º terno, os índices de extração subiram de 76, 78%, dependendo do caso, para 80 a 84%. Esse aumento, de 4 a 8% no 1° terno, corresponde a ganhar, no final da bateria de moendas, de 0,4 a 0,8 pontos. No mesmo caso acima, tivemos:
Retorno financeiro: considerando-se uma Safra de 3.000.000 TC, 125 kg Açúcar/TC, R$ 59,00/ saco teríamos: R$ 2.443.987,00.
• Camisa Perfurada no primeiro e no último terno:
Não será preciso repetir os raciocínios, mas a composição das 2 soluções trará um ganho maior ainda, sem dúvidas. Temos casos de ganharmos desde a fase com todas as camisas convencionais até o uso de 2 camisas perfuradas (1° e 6°), acima de 1,56 pontos e mais um pouco ainda com o uso de 3 camisas perfuradas (1º, 5º e 6º).
• Camisas Perfuradas em todos os ternos:
Ainda não temos essa experiência e comentaremos à frente. Mas, podemos citar um caso com 5 camisas em bateria de 6 ternos e 4 camisas em bateria de 5 ternos. Antes de comentarmos os resultados esperados nesses aumentos de colocação de rolos com camisas perfuradas, devemos acrescentar um uso interessante: quando temos bateria mista – ternos grandes misturados com ternos menores –, os ternos pequenos limitam a moagem, caso os maiores estejam com capacidade ociosa.
É possível obter um ganho individual nesses ternos menores, de até cerca de 20%, dependendo da posição do terno na bateria e da diferença das capacidades nominais das bitolas envolvidas. Temos casos de moendas 45”x78” moendo 1.000 TCH, com cana de 12% de fibra.
Nos casos que conhecemos não houve ganho direto com o uso de mais de 2 camisas (1º e último). Talvez o uso de uma 3ª camisa como penúltimo terno, possa ser interessante para aumentar a embebição e diminuir a umidade do bagaço.
• Por que não colocar rolos perfurados em todos os ternos?
A menos que seja por motivos de capacidade de moagem individual de determinados ternos, acreditamos que não haverá retorno de investimento e em determinados casos até uma redução na extração. Como sabem os especialistas, a eficiência da embebição na moenda é baixa (não chega a 50%). Se pegarmos o bagaço embebido antes de cair no Donelly, poderemos constatar facilmente isso – existem estudos de laboratório mostrando. Há casos que não passam de 30%. O efeito de transbordamento do caldo sobre o rolo superior é, na verdade, o segredo da boa extração.
O caldo que sobe, vindo da entrada da moenda é que vai homogeneizar a embebição na camada de bagaço que quer entrar na moenda. Núcleos encharcados de embebição no bagaço, ao serem espremidos deslocam o líquido para áreas mais secas do bagaço, nas quais há mais açúcar. Assim, o bagaço é lavado e a eficiência da embebição sobe para a casa dos 60 a 70%.
Dessa forma, o uso de camisa perfurada onde se deseja maior eficiência da embebição, irá impedir o efeito. Com o ganho de capacidade de pega do rolo e também com o ganho na umidade do bagaço, poderemos até crescer o volume de embebição a valores extremamente altos (350 a 400%Fibra), mas isso irá comprometer o balanço térmico da usina.
A aplicação poderá até ter certa lógica em casos de excesso de impurezas que impeçam a aplicação da embebição. Nesse caso, se tivermos hoje, taxas de 150%, por exemplo, por conta disso e pudermos subir para acima de 250%, obviamente teremos ganhos. Mas será uma aplicação para tirar a operação de uma aberração para colocá-la em uma situação normal. Espero até estar equivocado e podermos ter moendas com altos índices de moagem concomitantes com extrações na casa dos 98%.
• Conclusões:
As camisas perfuradas servem para:
• Diminuir a umidade de bagaço;
• Aumentar a extração;
• Aumentar a capacidade de moagem.
Com essa solução, estamos voltando a alguns valores que obtínhamos quando a cana era limpa. O que perdemos com a qualidade da cana, estamos recuperando com certa sobra. Sinal de que ainda temos o que ganhar ao limpar a cana com eficiência.