Diretor Executivo da Caltec Química Industrial
Op-AA-06
A produção de açúcar com elevado padrão de qualidade é o objetivo de todas as usinas de açúcar. Autores de inúmeros livros e práticos do setor são unânimes em considerar que para garantir a excelente qualidade do produto e diminuir as perdas, o processo de tratamento do caldo é essencial. Quando a clarificação é deficiente, o caldo retém impurezas que vão se acumulando à medida que o caldo é concentrado, incorporando-se ao açúcar, prejudicando, desta forma, sua qualidade.
Estas impurezas, além de diminuírem o rendimento do açúcar, são higroscópicas, levando à inversão de sacarose no produto final, já estocado e desclassificando completamente o açúcar. Outro problema bem grave, que resulta da deficiente retirada das impurezas, são as altas taxas de incrustações nos tubos de evaporadores e os tachos de cozimento.
Estas incrustações diminuem a taxa de transferência térmica, elevando o consumo energético, diminuindo a capacidade de evaporação e prejudicando, desta forma, a produtividade da usina. A dinâmica do setor sucroalcooleiro sugere que as usinas reforcem a sua preocupação com as tecnologias de tratamento do caldo, para que possam atender o aumento da demanda de açúcar e atender aos padrões de qualidade exigidos pelo mercado internacional.
Outro motivo é a crescente mecanização da colheita da cana, regulamentada pelas legislações federais e estaduais, que prevêem a eliminação das queimadas de forma gradual, com reduções de 30%, até 2006, 50% até 2011, chegando à eliminação total até 2021. A cana colhida mecanicamente não pode ser lavada, carregando para o processo uma grande quantidade das impurezas vegetais e minerais, as quais deverão ser removidas nos processos de clarificação.
Apesar destas conjunturas, pouco se vê no desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento de caldo. Pelo contrário, este setor de produção aparenta estar no segundo plano das usinas, tendo alguns sistemas de tratamento sem investimento para modernização há décadas, prejudicando, além do crescimento da usina, a qualidade de seus produtos.
As poucas tecnologias existentes para o tratamento do caldo devem-se ao esforço de pesquisa e desenvolvimento de poucos fornecedores, os quais visualizam que a tecnologia será o diferencial competitivo. A seguir serão apontados alguns dos principais problemas observados nas etapas de clarificação do caldo, na fase de branqueamento e de caleação.
O branqueamento do açúcar é uma etapa de tratamento de caldo que não recebe investimento há décadas. O processo de sulfitação carece de equipamentos e controles modernos, pois ainda há fornos precários para a queima de enxofre, os quais são alimentados manualmente, gerando desperdício de insumo e baixa produtividade. Com a maior abertura do mercado europeu, que não aceita açúcar produzido com enxofre, esse quadro tende a mudar.
Atualmente, há duas tecnologias disponíveis para este fim, que é a utilização do ozônio e o processo de carbonatação. A outra etapa de clarificação é a caleação, a qual necessita ser revista pelas usinas, devido aos gargalos identificados para o preparo do “leite de cal” que ainda é produzido em sistemas antiquados e ineficientes, como, por exemplo, as chamadas piscinas de cal.
Estes processos produzem material - seja esse cal comum ou produtos específicos para caleação, de baixa reatividade, elevando o consumo e impactando diretamente na composição do custo da usina, principalmente, quando a meta é produzir açúcar branco para o mercado internacional. Segundo especialistas do setor, já há disponibilidade de tecnologias para o preparo do “leite de cal”, que demandam baixos investimentos para adequação e ótimos resultados de produtividade, reduzindo, inclusive, custos de produção, devido à diminuição de incrustações e ao aumento de tempo de campanha dos evaporadores.
Uma destas tecnologias é o sistema hidratec-clarisina, desenvolvido pela empresa Caltec Química Industrial, com impactos significativos no aumento de produtividade e de qualidade nas usinas, que utilizam essa tecnologia. Outro gargalo da caleação é o tempo de reação entre o caldo e a cal. Nesta etapa, ocorrem inúmeras reações químicas entre os componentes do caldo e o da cal, precipitando as impurezas que serão removidas nas etapas consecutivas.
Muitas destas reações não são instantâneas e precisam de um período para se completar, exigindo um tempo de residência mínimo para se obter os resultados esperados (o recomendado da literatura é de 15 a 20 minutos). O que se observa na prática são os tempos de residência reduzidos a menos de um minuto ou até dosagens diretas na linha, o que certamente afeta negativamente a qualidade de clarificação do caldo.
A exigência imposta pelos compradores internacionais, maior mercado do setor sucroalcooleiro brasileiro, impulsionará o setor a aplicar novas tecnologias para a produção do açúcar, naqueles processos que ainda possuem modelos ultrapassados e que necessitam ser adequados à nova realidade do mercado, como, por exemplo, a caleação. A busca contínua por melhorias e a necessidade de aumento de produtividade, abre, para as empresas especializadas, uma nova oportunidade de negócio, focada na inovação tecnológica e nas soluções customizadas, porém, com a responsabilidade de serem co-participativas nos resultados alcançados.