Professor de Logística da UF de São Carlos
Op-AA-16
O transporte de cana é condicionado pelas operações de corte/colheita e carregamento/transbordo, que conjuntamente formam o sistema de corte, carregamento e transporte - CCT. Este grupo de operações responde por cerca de 30% do custo da cana na esteira e deve ser observado sempre do ponto de vista sistêmico, uma vez que o transporte eficiente depende das condições em que o corte e o carregamento foram efetuados. Com foco apenas na operação de transporte de cana, a análise pode ser feita a partir de duas perspectivas: infra-estrutura e operações.
1. Infra-estrutura: A infra-estrutura diz respeito às características e ao estado de veículos, estradas e equipe de manutenção. Os caminhões da linha superpesada, acima de 400 cv, possuem grande capacidade de tração, porém limitada às restrições da lei da balança.
As composições de alto desempenho mais utilizadas nas usinas são o rodotrem e o treminhão, com PBTC - Peso Bruto Total Combinado, de 74 t e 63 t, respectivamente. Ambas configurações possuem vantagens operacionais e podem ser compartilhadas em uma mesma frota, desde que alocadas em frentes de corte separadas.
A maior vantagem do rodotrem é relativa à melhor capacidade de carga e à versatilidade de operação do sistema “bate e volta”, que maximiza o uso do cavalo mecânico. Por outro lado, os pontos fortes do treminhão são relativos à distribuição de carga nos eixos tratores e ao maior número de articulações, que permite sua operação em áreas com restrições de espaço - menor raio de giro.
Uma vantagem adicional do treminhão é que em regiões onde há restrição noturna para composições longas, ao se desengatar o segundo reboque, 66% da carga ainda é transportada, contra apenas 50% da carga, no caso do rodotrem, ao se desengatar o segundo semi-reboque. Investimentos na infra-estrutura de manutenção (veículos de apoio à manutenção externa, como comboios, caminhões-oficina, caminhão borracheiro, etc) também conferem aumento da disponibilidade dos veículos e dos demais recursos que compõem o sistema de CCT. A disponibilidade dessa estrutura, aliada ao serviço eficiente de manutenção, permite à frota operar com menores custos.
Tendências: A definição da configuração de transporte é favorável ao rodotrem, em virtude da maior capacidade volumétrica. Projetos novos chegam a ter capacidade superior a 90 m3, por semi-reboque. Outro fator que reforça a opção pelo rodotrem é a topografia de boa parte das áreas atuais de expansão dos canaviais, em terrenos planos e em áreas contínuas (MS, GO e Oeste de SP).
Já o uso do treminhão é indicado, predominantemente, em áreas com restrição de espaço e com maior declividade, onde o rodotrem poderia apresentar dificuldades de tração. Ainda quanto à infra-estrutura, a condição de tráfego nas estradas é um fator preocupante. Após a carga transportada por viagem, velocidade e distância são os fatores que possuem maior influência na composição do custo de transporte. Algumas estradas não apresentam boas condições de pavimentação e há regiões, cujo traçado e quantidade de faixas de rolagem permanecem inalterados há anos.
A tendência de aumento de tráfego não se limita apenas aos veículos canavieiros, mas também às atividades de apoio, como caminhões basculantes, ônibus e demais veículos. O aumento da demanda por transporte, na mesma rede de estradas, deverá aumentar o rigor sobre o cumprimento da legislação, sobretudo por questões de segurança.
2. Operações: As operações correspondem à gestão dos recursos de transporte e sua manutenção. O mercado dispõe de boa diversidade de soluções, para o planejamento e controle de suas frotas. Novas tecnologias de controle, registro, transmissão de dados e automação foram disseminadas nos últimos 10 anos, para suporte à operação das frotas.
No entanto, em boa parte das usinas aumentou-se o volume de dados armazenados, sem que houvesse a transformação desses dados em informação, para interferir na gestão do sistema de CCT. Em outras usinas, os erros de apontamento são recorrentes e os dados contidos dos sistemas de informação, de baixa confiabilidade, acabam por promover tomadas de decisões equivocadas.
Tendências: O desenvolvimento e a disseminação de ferramentas de apoio ao sistema de CCT deve se intensificar, à medida que o porte das usinas aumenta. Quanto maior a complexidade do sistema, maior é a interação entre diferentes recursos e a necessidade de se utilizar sistemas de suporte à decisão, com apoio computacional.
Futuramente, esses sistemas devem ser cada vez mais integrados a outras áreas e será possível efetuar a análise de todo o processo de produção de açúcar e álcool. Também é tendência o estabelecimento de contratos de terceirização da manutenção, onde as grandes concessionárias são remuneradas pela prestação do serviço e, em contrapartida, garantem um patamar mínimo de disponibilidade mecânica.
De maneira geral, o sistema de CCT é uma seqüência de operações discretas (destacadas, com início e término bem definidos, por exemplo, colheita, transbordamento, transporte), que visam atender a um processo contínuo, que é a manutenção da taxa de moagem. Idealmente, todos os processos deveriam seguir a cadência determinada pela moenda.
A conscientização de interdependência de processos já faz parte da cultura de algumas usinas, onde os operadores dos equipamentos são comprometidos com as metas de produção e reconhecidos como fundamentais para a manutenção da moagem. Em tais usinas, o monitoramento do processo de entrega de cana é constantemente acompanhado por índices de desempenho simples e claros, que norteiam as operações no campo, como a quantidade de caminhões enviados pela frente de colheita, por hora ou turno.
Da mesma maneira, a rapidez com que as ocorrências de manutenção dessas usinas são informadas garante um pronto atendimento dos equipamentos. Apesar dos investimentos e esforços de comunicação e controle serem maiores, tais custos são compensados pela continuidade da moagem e pelo aumento da utilização dos equipamentos.