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Pedro Isamu Mizutani

Vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raizen

Op-AA-37

Inovação é fundamental

A necessidade por etanol aumenta significativamente a cada ano no mundo, seja pelo aumento da frota de veículos no Brasil e lá fora, seja porque, cada vez mais, os países aderem à mistura do etanol ao combustível fóssil. No entanto a oferta não tem fôlego para acompanhar o constante crescimento. Hoje, os grandes responsáveis pela maior parte da produção de etanol no mundo são Brasil, com o produto proveniente da cana-de-açúcar, e os Estados Unidos, com o biocombustível de milho. Juntos, os dois países produzem 80% de todo o etanol consumido no planeta atualmente.

No Brasil, para atender à crescente demanda de cana-de-açúcar, estima-se que a moagem precise alcançar 1 bilhão de toneladas nos próximos oito anos. Isso representa investimentos de US$ 67 bilhões ou 172 novas usinas, com capacidade de moagem de 3 milhões de toneladas cada uma, segundo dados da Unica - União da Indústria de Cana-de-Açúcar. Em função da atual instabilidade econômica mundial, e inexistência  de uma política pública relativa ao etanol, a construção dos chamados greenfields não está no plano de investimento de grande parte das companhias que atuam no setor brasileiro.

Para incrementar a produção, as saídas mais viáveis passam por aportes em tecnologia e inovação, com o intuito de aumentar a produtividade da cana com a mesma área plantada. Sem contar, claro, os investimentos na melhoria de processos e na expansão das unidades já existentes, que também contribuem para o crescimento da produção no Brasil. Para se ter uma ideia da importância da pesquisa para a indústria, não houve, nos últimos dez anos, aumento de produtividade na cultura da cana. Pelo contrário. Em razão da crise de crédito e das condições climáticas desfavoráveis das últimas safras, desde 2009, a produtividade de 90 toneladas por hectare de cana vem caindo gradativamente e chegou a ficar em menos de 70 toneladas por hectare em 2011.

 Ano passado, o setor conseguiu um pequeno incremento, por volta de 75 toneladas, mas ainda é um valor muito baixo para o que a indústria precisa para retomar o crescimento.  É fundamental que as companhias invistam em pesquisas para desenvolver novas tecnologias para o setor sucroenergético. Ajustes no processo industrial também são primordiais: hoje, existe uma perda de cerca de 10% no processo de fermentação, por exemplo.

O CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, atua há mais de 40 anos no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o setor canavieiro, toda a cadeia produtiva. Trata-se do maior centro de pesquisa de cana-de-açúcar do mundo. O investimento, no entanto, ainda é pequeno se compararmos com os recursos aportados em pesquisa e inovação de outras culturas, como soja e trigo. Há um grande potencial para aumentar a produtividade da cana-de-açúcar e do etanol. Estudos de transgenia, por exemplo, apontam um potencial aumento de produtividade de até 50%.

Além de usar seleção artificial para cultivar cana com alto rendimento e maior resistência, as atuais pesquisas também fazem experimentos com variedades geneticamente modificadas. A primeira delas poderá estar disponível em escala comercial daqui há quatro anos. É uma parte da indústria canavieira do Brasil ainda pouco conhecida, mas com potencial para revolucionar a produção no país e ajudar a recuperar a lucratividade do setor.

Além de investir em cana transgênica, existe um vasto campo para aprofundar pesquisas na área de etanol de segunda geração, aproveitando a biomassa – folha e bagaço – da cana para a produção de biocombustível. Essa nova tecnologia permitirá dobrar a quantidade de etanol produzido por unidade, sem a necessidade de expandir a área cultivada.

Além do CTC, grandes companhias do setor já conduzem pesquisas na área, que devem trazer resultados já nas próximas safras. A Raízen, por exemplo, iniciará a construção de sua primeira unidade de etanol celulósico na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, ao lado da unidade Costa Pinto, de primeira geração. O objetivo é aproveitar as sinergias entre as plantas industriais.  

Mecanização: Além de contribuir para a diminuição de gases do efeito estufa, o processo de mecanização da colheita da cana-de-açúcar em São Paulo, que envolve a adoção de novas técnicas e equipamentos, também gera ganhos de eficiência e produtividade. Atualmente, o índice de mecanização no estado já atinge mais de 70%.

O acordo, estabelecido pelo Protocolo Agroambiental firmado entre o setor e a Secretaria do MeioAmbiente do Estado em 2007, determina que, até 2014, todas as áreas com declive até 12% estejam 100% mecanizadas.

O investimento das empresas em capacitação de pessoas para operar cada vez melhor as novas colhedoras já mostram resultados no campo, com o aumento da produtividade das máquinas. Ou seja, a relação tonelada de cana por equipamento por dia tem melhorado a cada safra.

Políticas públicas: As recentes políticas públicas divulgadas pelo Governo Federal também surgem como um importante incentivo para o setor.

A desoneração da cadeia produtiva, como a redução do Pis-Cofins, as novas linhas de crédito e o aumento da mistura do etanol anidro na gasolina, até contribui para a indústria, cujo objetivo maior é aumentar a produção de etanol e recuperar o preço do biocombustível a patamares competitivos com o da gasolina. Todas as iniciativas do poder público são válidas para setor sucroenergético.

No entanto a indústria espera do poder público uma definição mais clara com relação ao papel do etanol na matriz energética brasileira. A partir dessa definição, as empresas terão mais previsibilidade e segurança para injetar recursos em novas unidades de produção de etanol, contribuindo para a geração de mais empregos, renda e melhor qualidade de vida para o planeta.