Especialista do Setor Sucroenergético e Presidente da Agência Goaiana de Comunicação
Op-AA-37
“A única constante é a mudança”, já ensinava o filósofo grego Heráclito de Éfeso, cinco séculos antes de Cristo. Vivemos em uma era onde as mudanças são mais drásticas e mais rápidas do que em qualquer outra. Transformações importantes estão acontecendo nos mais diferentes setores da economia mundial, como finanças, comunicações, infraestrutura, alimentos, transportes, energia e combustíveis.
O grande desafio está em entender o sentido dessas mudanças e para traduzir em novas estratégias e ações que vão ao encontro da nova realidade mutante da sociedade. O setor sucroenergético está no centro de duas importantes transformações socioeconômicas do planeta: 1. a alteração da matriz energética (gradual, porém consistente) e 2. a mudança de hábitos alimentares.
Ambos os fenômenos, impulsionados pelo crescimento populacional, pelo aumento da renda e pela maior urbanização da população. Essas informações estão estampadas na nossa frente, mas a pergunta é: o Brasil tem feito o suficiente para se posicionar adequadamente nesse cenário? A resposta é não.
O mundo busca uma matriz energética mais diversificada e mais limpa. O etanol faz parte da solução dessa equação. No entanto a falta de estratégias adequadas tem causado um descompasso entre a oferta e a demanda do etanol brasileiro, nos fazendo desperdiçar oportunidades preciosas.
Nos últimos anos, houve uma estagnação dos investimentos em expansão da produção causada pela redução da capacidade de investimentos do setor produtivo, pelo aperto das margens de rentabilidade e também pelo crescimento da ociosidade industrial. Estima-se que, em 2015, o crescente déficit de oferta de etanol brasileiro possa atingir 12 bilhões de litros, um mercado que, infelizmente, está sendo ocupado pela gasolina.
Na outra ponta, o açúcar vive a dicotomia de um mundo que precisa cada vez mais de alimento, mas que busca também um consumo menor de calorias. Assim, o crescimento do consumo mundial de açúcar é apenas vegetativo, e o mercado fica sempre muito sujeito às oscilações da produção em cada região do planeta. Oportunidades de expansão da produção e exportação de açúcar existem, mas são sempre mais limitadas do que o etanol. Mesmo assim, para que o Brasil continue liderando o mundo nesse segmento, é preciso romper o ciclo de estagnação de investimentos.
Acomodar-se e reclamar das condições de mercado não é uma opção. É preciso agir rápido, e o caminho é firmar um verdadeiro e definitivo pacto nacional entre a iniciativa privada e o poder público em torno do desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva sucroenergética.
Em A vantagem competitiva das nações, o estrategista Michael Porter, da Harvard Business School, afirma que “a prosperidade não é algo herdado, mas, sim, o produto do esforço criativo humano. Não é privilégio que emana dos dotes naturais de um país, de sua força de trabalho, das taxas de juros ou do valor da moeda, como insistem os economistas clássicos.
A competitividade de um país depende da capacidade de suas indústrias de inovar e melhorar. As empresas conquistam uma posição de vantagem em relação aos melhores competidores do mundo em razão das pressões e dos desafios.
Elas se beneficiam da existência de rivais internos poderosos, de uma base de fornecedores nacionais agressivos e de clientes locais exigentes. Num mundo de competição global crescente, os países se tornaram mais, e não menos, importantes. À medida que os fundamentos da competição se deslocam cada vez mais para a criação e para a assimilação do conhecimento, aumenta a importância dos países.
A vantagem competitiva é gerada e sustentada por um processo altamente localizado. Em todos os países, constatam-se disparidades marcantes nos padrões de competitividade. Nenhum país é capaz de competir em todos os setores, nem mesmo na maioria deles. Em última instância, os países têm êxito em determinados setores porque o ambiente interno é progressista, dinâmico e inovador”.
Está claro que a estratégia a ser adotada pelo nosso país passa por ações que visem ao estímulo da produção de cana-de-açúcar, à ampliação da capacidade industrial, à inovação tecnológica e ao investimento em infraestrutura. O setor privado precisa fazer a sua parte, mas o papel do governo é fundamental nessa estratégia.
A história prova que, sempre que recebeu os estímulos adequados, o setor sucroenergético respondeu à altura das expectativas nacionais. É passada a hora de o Governo Federal reconhecer que precisa mudar a sua postura e assumir a sua responsabilidade de adotar políticas públicas consistentes e duradouras para o segmento de açúcar, etanol e bioenergia. Serve para nós o sempre atual alerta do ex-presidente americano John Kennedy de que “a mudança é a lei da vida, e aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro”.