Sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento
Op-AA-38
O gráfico ao lado dá uma ideia exata do cenário da recente história do setor. Tivemos um período de euforia em 2004-2009, com petróleo a US$ 140/barril, quando a área de cana no Centro-Sul teve um crescimento explosivo de quase 10% a.a. (barra branca). Estamos vivendo, desde então, uma fase de desaceleração no crescimento do setor em função da economia mundial deprimida e de preços do açúcar em queda desde 2012. O crescimento rápido do setor na primeira fase (2004-2009) gerou ineficiências econômicas, elevou muito a alavancagem financeira das usinas e gerou a necessidade de reestruturação de dívidas com os credores.
Nesse caso, poucas usinas conseguiram se sair bem, e, ainda hoje, existem problemas graves de risco de crédito no setor. A mortandade das empresas configura-se um processo em andamento. E daí? O que podemos pensar sobre o futuro do negócio baseado na cana-de-açúcar? Temos oportunidades e bons desafios também. Abaixo, seguem os comentários sobre o futuro previsível do setor.
Oportunidades:
Clima: O aquecimento global é um fato. E isso muda as condições de vida na Terra. O último Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), divulgado em setembro/13, conclui que as mudanças climáticas são reais, e o ser humano é o principal responsável: "O aquecimento global sem precedentes é um fato e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) são as principais causas. As mudanças
climáticas provocadas por este aquecimento afetam o nível do mar, a temperatura e a acidez dos oceanos, extensão e espessura do gelo nos polos e disponibilidade de água no planeta. Para estancar este processo é preciso reduzir drasticamente as emissões de GEE sob pena de chegarmos ao final deste século com aumento médio de temperatura do planeta em até 5,8ªC (40% do que no início do século passado)."
O relatório se utiliza de modelos mais confiáveis e afirma que a temperatura da Terra vai aumentar. Não há segurança de quanto – normal em qualquer modelo de previsão. O etanol aparece nesse contexto como opção econômica e ambientalmente correta, principalmente considerando que a crise econômica global inibidora de ações pró meio ambiente vai passar.
Açúcar: O crescimento da economia global no médio e longo prazo é algo que deve permanecer, baseado, principalmente, nos países em desenvolvimento. Salvo se alguma catástrofe de responsabilidade do clima, da geopolítica e de movimentos sociopolíticos de ruptura afetar a economia mundial.
Dessa forma, e em função de uma crescente urbanização, o mercado global de açúcar segue em trajetória de alta. Consumo global crescente motivado pelo aumento da demanda na Ásia e na África, principalmente, dão sustentação para maior produção mundial e preços remuneradores dos custos de produção de longo prazo (custos de projetos greenfield). E o Brasil é competitivo com outros países nessa corrida de oferta.
Desafios:
Petróleo: O mundo mudou bastante depois daquela fase de petróleo caro a que assistimos em meados da década passada.
Como consequência dessa situação, temos, hoje, disponível a tecnologia de gás e óleo de xisto, com reservas abundantes ao redor do mundo. O petróleo de pré-sal no Brasil é outro exemplo de consequência do petróleo caro, com tecnologia ainda em desenvolvimento.
Em resumo, a oferta de combustíveis fósseis líquidos deve aumentar e limitar, sem inibir, o crescimento do market share do etanol. Sem inibir, porque estamos admitindo preços de petróleo na faixa entre US$ 90 e 100 por barril, para justificar economicamente combustíveis líquidos com essas novas tecnologias.
Milho e Soja: Como commodities agrícolas, tal como açúcar, terão ciclos de preços altos e baixos. Nas fases de preços baixos (como agora), irão competir com o etanol de cana-de-açúcar, seja na produção de etanol de milho, seja na produção de biodiesel, que nos Estados Unidos concorre com o etanol de cana como combustível avançado.
Dessa forma, teremos de considerar essa condição como mais um fator de oportunidades e riscos normais de mercado. Engenharia Genética e Biotecnologia: A cana-de-açúcar, sob esses aspectos, está relativamente atrasada quando comparada com outras culturas, como milho, soja e beterraba. Esse é um desafio que temos que enfrentar, e estamos enfrentando, para podermos preservar a competitividade global do Brasil no setor. O etanol de segunda geração (2G) está sendo desenvolvido e representa uma possibilidade de sucesso para o negócio de cana-de-açúcar no País.
Governo: Hoje, observamos que o governo ajuda o setor sucroenergético no curto prazo (financiamentos adequados à produção e comercialização, redução de carga tributária) e atrapalha no médio prazo (controle de preços da gasolina e falta de clareza do papel da energia elétrica do bagaço de cana na matriz energética). Cabe lembrar ainda que o financiamento da pesquisa de etanol 2G pelo Bndes é apoio importante para a sustentabilidade do setor no longo prazo.
De forma mais ampla, o Governo Federal tem feito intervenções pontuais na atividade econômica e em setores escolhidos, o que afeta o resultado econômico dos negócios para o bem e para o mal. Além disso, tem priorizado o emprego e o controle da inflação (política social) em detrimento da estabilidade econômica de médio prazo (balanço de pagamentos e situação fiscal). O elevado grau de corrupção nas três esferas de governo cria insegurança para o cidadão e para as instituições. Esse ambiente gera também insegurança para as empresas e inibe investimentos.
Gestão & Monitoramento: Todos sabemos que a velocidade de mudanças no mundo dos negócios aumentou de forma considerável. E daí? Daí que a quantidade de informações é exagerada e fica difícil separar o "joio do trigo". A volatilidade dos mercados aumentou, as oportunidades comerciais aparecem e desaparecem rapidamente – o que se chama por janelas de oportunidade –, novos produtos e processos aparecem com frequência, novos competidores globais surgem no mercado. A tendência é do livre mercado prevalecer e a competição entre as empresas se acirrar num primeiro momento.
O modelo de gestão de antigamente, quando, por exemplo, o preço do açúcar na entressafra era maior que durante a safra, não vale mais como regra. O modelo antigo, quando operar com custo mínimo era a regra de otimização, não é mais condição suficiente. A empresa tradicional do setor terá de se ajustar a essas mudanças, sob pena de sucumbir ou de ser vendida para um grande grupo por um preço abaixo do seu valor econômico máximo.
Hoje, a sobrevivência do grupo tradicional depende de informações precisas e decisões rápidas. Depende de custos mínimos e receita relativa máxima. Depende de aproveitar momentos certos de mercado para fazer fixações de preços. Depende de uma estratégia correta para investimentos e financiamentos. Depende de correta gestão de pessoas e de trabalho em equipe, por falta de opção nesse mundo complexo e dinâmico.
Empresas bem-sucedidas em diversos setores de atividade têm usado Conselhos de Administração e Conselhos Consultivos como apoio a decisões corretas de estratégias comerciais, de investimento e administrativas. Afinal, não dá para fazer tudo sozinho.
Nossa experiência profissional como conselheiro e também conclusões dos seminários anuais promovidos pela JOB Economia indicam que as empresas bem--sucedidas usam esses Conselhos como meio para melhorar os resultados dos negócios. Lembrete de Jack Welch: "Conselhos não são garantia de bons resultados, tudo depende da competência e do comprometimento dos conselheiros e do uso que se faz deles".
Conclusão: O setor sucroenergético no Brasil tem condições competitivas de crescer ao longo do tempo. A velocidade desse crescimento depende de variáveis relacionadas basicamente à energia, à forma de intervenção do governo nas atividades econômicas e, naturalmente, da gestão empresarial. O gráfico colocado no início deste artigo sugere uma retomada de crescimento do setor até 2020 na faixa de 5% a.a., onde se admite a recuperação gradual da atividade econômica global, petróleo com preços na faixa de US$ 90-100/barril e uma interferência direta mínima do governo nas atividades econômicas. A questão que se coloca é: quem vai participar dessa nova fase de expansão?