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Carlos Eduardo de Araujo

CFO da Mackensie Agribusiness e Consultor da TOTVS Agroindústria

Op-AA-38

Pequenos passos, grandes conquistas

Novas tecnologias ou processos podem inviabilizar um produto. O gás de xisto pode substituir o etanol em função do seu preço mais baixo. A crescente exploração desse gás, nos Estados Unidos, revolucionou a matriz energética americana, possibilitando uma alteração significativa no quadro econômico americano. Entretanto, além de afetar o meio ambiente, inviabiliza economicamente a produção de etanol, que é uma energia limpa, mas com um custo mais elevado.

Novas tecnologias aplicadas por produtores de cana-de-açúcar e pela indústria de açúcar e etanol, como novos tratores, colhedoras, insumos agrícolas cada vez mais avançados, devem ser utilizadas somente para operações e processos específicos. Um trator de 180 cv utilizado para aplicação de herbicida tem um custo-hora por hectare de R$ 138,00, enquanto um trator de 120 cv, realizando a mesma operação, tem um custo-hora de R$ 83,00 por hectare.

Em plena safra canavieira (2013/3014), os preços do açúcar no mercado internacional estão em cts US$ 17,00 por libra/peso, e os custos de produção estão a cts US$ 16,88. Além da forte oferta de açúcar da Índia, como o mercado não tem informações confiáveis sobre o estoque de passagem para a próxima safra, os produtores rurais e usinas estão na expectativa para o planejamento das safras futuras. Esse cenário, aliado à falta de definição do Governo Federal sobre a política de preço do etanol e o relevante grau de endividamento do setor muito fragilizado, complica ainda mais a situação do setor como um todo.

Não há alternativas para uma redução significativa dos custos de produção no curto prazo, e as margens tendem a permanecer negativas ou reduzidas, levando as empresas nacionais a suspenderem a produção, e as multinacionais, com a intenção de deixar de produzir açúcar e etanol no Brasil.

A cadeia produtiva do setor tem investido em novas tecnologias e processos de produção que apresentam resultados positivos, porém não com força consistente e significativa para alterar o modelo atual. O modelo de P&D adotado na década de 80 deu condições ao Brasil de atingir padrões internacionais. No modelo tecnológico necessário, considera-se uma produção de cana-de-açúcar de 120 toneladas média por hectare, de 140 sacos de açúcar por tonelada, mais de 100 litros de etanol por tonelada cana, o que não vai acontecer nos próximos vinte anos. As tecnologias e os processos agroindustriais disponíveis no mercado visam ao aumento de produtividade, à redução de custos e ao crescimento da lucratividade.

A expectativa do setor é a produção integrada de etanol de segunda geração (2G), utilizando bagaço e palha para a produção de etanol. Dá-se o nome de segunda geração ao etanol produzido de matéria-prima de base celulósica. É um produto com um custo maior e exige um investimento alto, em um momento no qual as usinas estão descapitalizadas e com excessivo grau de endividamento. Os preços do açúcar e do etanol não cobrem nem o custo de produção da cana. Com essa tecnologia, é possível aumentar a produtividade atual de sete mil litros de etanol por hectare para aproximadamente dez mil litros por hectare.

Novas tecnologias e processos agrícolas: No curtíssimo prazo, para reduzir custos ou limitar perdas operacionais, a principal missão dos gestores será o uso adequado do planejamento, utilizando os seguintes processos e tecnologias:
• Viveiros de mudas: cada usina deverá ter seu próprio viveiro de mudas para seu ambiente de produção, obtendo mudas sadias e resistentes, reduzindo expressivamente o uso de herbicidas, inseticidas e aumentando sua produtividade com manejo varietal adequado ao ambiente de produção.
• Novas variedades de cana: centros de pesquisas e universidades estão colocando no mercado, anualmente, variedades com boa produtividade. Um avanço tecnológico de destaque é a redução de tempo para a sua difusão. O antigo programa de melhoramento genético era de quinze anos. Agora, com uma metodologia avançada, é possível disponibilizar novas variedades em oito anos. Elas podem minimizar as perdas da colheita mecanizada, pois são adaptadas aos seus respectivos ambientes.
• A sistematização do terreno para o plantio da cana-de-açúcar e a adoção de sistemas de plantio (simples ou combinado) oferecem vários benefícios para a colheita mecanizada, entre eles: baixar os custos; aumentar a vida útil das colhedoras e demais equipamentos que apoiam o CCT; além de promover um up grade na produção da cana nas safras seguintes.
• A colheita da palha pode, também, ser uma fonte de renda. Além da venda para outros produtores, pode  fornecer material para as caldeiras.
• A introdução de talhões planos e de longo comprimento pode otimizar as operações do CCT, evitando manobras desnecessárias, racionalizando o uso das operações motomecanizadas. Optando por esse processo, haverá a redução na quantidade de colhedoras, menor consumo de combustível por tonelada de cana colhida e menor desgaste dos equipamentos.

O uso da Tecnologia de Informação também reduz o custo operacional por meio da utilização dos sistemas de planejamento analítico para incrementar a performance de todo o processo de produção agrícola e industrial, além da logística através do uso de modais  da usina até o porto. A gestão inteligente adotada por algumas usinas é fundamentada na utilização de regras gráficas que permitem coordenar as operações realizadas e controladas em tempo real. O grande diferencial é que as regras compartilham informações oriundas de diversas fontes, transformando-as em conhecimento estratégico para a tomada de decisão em tempo real.

Benefícios diretos dessa integração: controle dos custos de produção em cada etapa do processo; melhores índices de desempenho; transparência e confiabilidade nas informações; redução do tempo de apuração dos custos; minimização de riscos e perdas; maximização da capacidade produtiva; e segurança na tomada de decisão.

Novas tecnologias industriais: Tecnologias em utilização nos processos industriais propiciam resultados relevantes para o aumento da eficiência operacional, reduções de custos e índices positivos de viabilidade econômica. Projetos estão sendo conduzidos para tratamento de vinhaça. Um dos destaques é um fertilizante produzido com resíduos da agroindústria sucroalcooleira (vinhaça concentrada, torta de filtro, cinza de caldeira e fuligem das chaminés) substituindo a adubação mineral do canavial. Nos estudos de viabilidade, estima-se que o biofertilizante organomineral granulado e seco permite reduzir até 98% do uso de cloreto de potássio, 21% de fósforo e 35% de nitrogênio, impactando sobremaneira o custo de produção.

Outra tecnologia desenvolvida e aplicada em usinas tem, como objetivo, a utilização de uma levedura capaz de suportar um processo de fermentação com alto teor alcoólico. O processo opera através do mosto, que é concentrado antes da fermentação, eliminando parte da água por evaporação e/ou pela adição do mel final. Com isso, o mosto irá reter uma maior concentração de sacarose, tornando possíveis níveis elevados de concentração alcoólica durante o processo fermentativo, alterando de 8% para 16% o teor alcoólico.

Conclusão: O Brasil tem a oportunidade de ser o supermercado do mundo, oferecendo alimento e energia em condições favoráveis, em função de seu clima e fatores de produção (terras, capital e mão de obra eficiente, se devidamente treinada). Mas é imperativo que o governo defina uma política agrícola e de pesquisa e desenvolvimento para o País e direcione investimentos relevantes para esses fins.
O agronegócio, e especificamente o setor sucroenergético, tem condições e competência para tornar o Brasil melhor para todos os brasileiros.