Diretor de Agronegócios do Itaú BBA
Op-AA-38
Seguindo a proposição que foi dada para a confecção deste artigo, sem querer ser repetitivo com tudo que tem sido dito, seria importante ressaltar, em primeiro lugar, o que faz o setor sucroenergético, tão precioso e importante para o País.
Geração de Empregos: Estamos falando de um setor que gera aproximadamente 1 milhão de empregos diretos e 5 milhões de empregos indiretos. Além disso, esses empregos de nível cada vez melhor, em função de redução do trabalho manual, são gerados de forma interiorizada, levando desenvolvimento para locais distantes dos grandes centros, transformando tristes realidades de lugares sem oportunidades em polos de desenvolvimento.
Como exemplo disso, cito um lugar em que acabei de estar, Quirinópolis, em Goiás, que, de 36º lugar no IDH do estado, passou a ocupar a 6ª colocação, em função de importantes projetos que lá se instalaram. O crescimento e a transformação são impressionantes: a vendinha virando supermercado, a pensão virando hotel, o boteco virando restaurante e assim por diante. Além disso, a mecanização, a automação de processos e outros avanços tecnológicos a que temos assistidos têm tornado necessário um enorme esforço das empresas em treinamento, visando à qualificação da mão de obra, dando perspectiva de uma vida melhor para pessoas antes fadadas a empregos de baixa qualidade e remuneração.
Balança Comercial: Nossos números de comércio exterior, um fundamento muito importante aos olhos dos mercados investidores, vêm apresentando uma sensível deterioração, sendo que nosso saldo, em 2013, está previsto ficar em U$ 2 bilhões ou pior, o menor em muitos anos, com um peso expressivo na importação atribuído ao petróleo e a seus derivados.
Poderíamos estar tendo uma produção muito maior de etanol e, consequentemente, reduzindo o volume de gasolina importada se, apenas e tão somente, praticássemos preços internacionalizados para os combustíveis, para o bem ou para o mal. Isso estaria tornando a atividade de produzir etanol rentável neste momento, mas, mais que isso, daria segurança a quem investe no setor de que as regras são claras e transparentes e não sujeitas a conveniências do momento.
Todos sabemos o lado da exportação na importância do agronegócio como um todo, atingindo quase US$ 100 bilhões. Além disso, o açúcar, cujo maior produtor e exportador mundial é o Brasil, e o etanol ocupam o segundo lugar como cadeia mais importante, com seus US$ 16 bilhões de divisas, após o complexo soja.
Energia Elétrica: O Brasil possui a matriz energética mais diversificada do mundo, com expressiva participação de fontes renováveis de natureza hídrica, eólica e biomassa. Porém a hídrica, de longe a mais importante, está disponível em regiões cada vez mais longínquas e sensíveis ambientalmente, com alto custo de transmissão e com limitações de natureza ambiental que levam essas hidrelétricas a terem enorme limitação no tamanho de seus reservatórios.
Longe de querer dizer que a biomassa é a solução para todos os problemas nessa área, mas é inegável que essa fonte de geração distribuída, produzida próxima aos centros de carga do sistema, produzindo energia no período de seca do Centro-Sul, poupando água dos reservatórios neste momento crítico e custando muito menos que as poluentes térmicas a óleo, algumas despachando a um custo acima de R$ 1.000,00/Mwh, pode dar enorme cota de contribuição para o crescimento da oferta de energia elétrica.
Além disso, cogeração de biomassa e produção de etanol são extremamente complementares e, juntos, podem viabilizar o investimento do setor em novas plantas, nas áreas mais distantes, onde temos oferta de terras para expansão da atividade, e a produção de açúcar, em função dos custos logísticos, não é viável.
Dito isso, é inegável que seria muito válido que governo e setor privado, através de um esforço conjunto, trabalhassem na definição de um plano estratégico de longo prazo, em que ficaria muito claro o exato papel do etanol e da cogeração de biomassa na matriz energética, estabelecendo as regras do jogo, possibilitando ao setor privado, com visibilidade, planejar e decidir investimentos, segundo um plano de crescimento bem definido.
Somos uma agroindústria que, para evoluir, precisa se planejar. Não se faz agricultura de cana-de-açúcar de boa qualidade sem planejamento muito bem feito, pois se trata de cultura semiperene.
A instalação de projetos, notadamente em regiões mais distantes, depende, além de muito capital, de mão de obra qualificada, de respeito a normas ambientais e trabalhistas rigorosas e, por serem empreendimentos de grande envergadura, são muito dependentes de infraestrutura, muitas vezes inexistente num primeiro momento. Portanto nada nesse setor anda bem se não estiver antecedido por muito planejamento, além de uma qualidade de execução dos projetos que precisa, cada vez mais, ser impecável.
Somos obrigados a reconhecer que os momentos difíceis por que estamos passando não serviram apenas para provocar o fechamento de 40 unidades e mais 21 recuperações judiciais. Esses momentos têm servido, também, para provocar um enorme amadurecimento das empresas e de todos os stakeholders envolvidos. Está sendo feita uma enorme lição de casa no que tange a conquistar um aumento de eficiência que nos leve a produzir cada vez mais em condições competitivas.
O crescente uso de tecnologia em todas as áreas, a racionalização de processos, a recuperação das produtividades em termos de ATR/ha têm sido perseguidos rumo à redução de custos unitários. Novas tecnologias estão a caminho, 2G, 3G, utilização de outras matérias-primas para produção de etanol, biodigestão, melhoramento genético convencional e via transgênica, etc.
Mas nada disso será suficiente e sustentável no longo prazo, na ausência de políticas públicas. Sendo assim, vamos a elas, e chega de perder tempo. Não podemos nos dar a esse luxo, somos um país pobre e com tudo por fazer. Chega de benefícios temporários via concessão de financiamentos a custo subsidiado, cujo preço, tão caro, irão cobrar do contribuinte no futuro.
Economia de mercado neles, Presidenta (reconhecendo algumas evidentes externalidades positivas do etanol e da cogeração de biomassa), pois só ela será capaz de produzir crescimento sustentável e duradouro, tornando o setor, no futuro, extremamente robusto e competitivo, pois tenho certeza de que é seu sonho.