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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da ABAG

Op-AA-38

Quem viver verá!

Desde a aceitação da enorme maioria dos cientistas sobre os efeitos das ações humanas no aquecimento do planeta, a luta pelo processo de descarbonização dos combustíveis é constantemente questionada ou adiada pela lógica econômica e/ou estratégica. Os custos elevados de produção do etanol produzido a partir dos grãos, além da insegurança alimentar resultante dos riscos do aumento da demanda do biocombustível produzido pelos cereais, levaram à nova onda tecnológica da chamada segunda geração do etanol, a partir das celuloses vegetais.

Como isso parte dos países ricos do hemisfério norte, o de o mercado de combustíveis é enorme, o processo atual de aceitação em escala do bioetanol sofre volatilidade e soluções constantes. Esse processo, no mundo rico, passou a ficar absolutamente dependente dessa tecnologia em desenvolvimento, cujos frutos, em escala, devem surgir lá por 2020. Imaginem todo o resto vindo das culturas agrícolas, no mundo, fermentadas e se transformando em biocombustíveis... Esse é o caminho da commodity etanol.

Mas e o Brasil? É o mesmo caminho? E as inovações que surgem durante o trajeto podem mudar o caminho?

Em primeiro lugar, o etanol de cana, no mundo tropical, já é competitivo frente à gasolina desde a década de 1990, além de ser considerado, na atual lei norte-americana da energia, biocombustível avançado. A segunda geração, com palhas e bagaço, torná-lo-á insuperável! Dessa forma, o caminho, para o Brasil, seria o de expandir a oferta, agregando valor à cana, com o uso de subprodutos, gerando empregos descentralizados, capacitando mão de obra em processo de mecanização agrícola e automação industrial.

Em segundo lugar, o Brasil teve uma recaída de dependência de gasolina, que, sem a expansão da oferta de etanol e sem refinaria de petróleo expandindo a oferta de gasolina, faz um verdadeiro retrocesso, sujando a sua matriz energética, ainda limpa, criando um buraco nas contas da Petrobras (que importa gasolina por 100 e vende por 70) e, com preços represados face à inflação, retira a margem do etanol, estagnando a oferta. É um círculo vicioso e que pode reservar ao Brasil, na virada de 2014 para 2015, uma herança maldita de proporções gigantescas.

Ao se olhar ao redor, no mundo norte-americano, a surpreendente emergência do gás de xisto (shale gas) é uma ruptura da energia naquele país, virando o jogo geopolítico da energia! Falta não poluir as águas subterrâneas e não emitir metano, o que o pacote da inovação deverá trazer no tempo. O impacto disso no mundo é, ainda, difícil de medir. Outros países, como o Brasil, também tem essas reservas. O pré-sal, provavelmente, será pressionado em algum tempo. Vive-se hoje, infelizmente, o tempo do passado em energia, crescendo a fóssil. Tem-se previsão do governo brasileiro do aumento da energia renovável na matriz energética, mas as ações são em sentido contrário.

Vive-se no Brasil o tempo das eleições, antecipadas de uma forma cruel aos brasileiros. Ninguém merece crescimento de 2% ao ano, inseguranças e viver até novembro de 2014 as expectativas de um novo governo. É muito tempo!

As pessoas que vivem nas cidades temem o desemprego, a inflação e os sonhos perdidos. As pessoas que vivem dos suportes sociais vivem o incômodo de uma potencial mudança. As pessoas que pensam o País vivem a tragédia do tempo, limitadas as opções, sem poder parar...

Da cana saem produtos sem intervenções de governo, mas com proteção externa, como o açúcar. O mundo dependerá do Brasil para ter açúcar mais barato. Hoje, 55% da cana moída é para etanol – e deste total, 60% para o hidratado –, massacrado pelos preços estagnados da gasolina, pelos impostos elevadíssimos que paga e, por outro lado, com um crescimento formidável de demanda (o hidratado é o etanol que compete com a gasolina). Ele está sob pressão. A corrida para o açúcar gerará queda de preços; a demanda por gasolina crescerá tremendamente, sem oferta interna.

 É um olhar ao passado, que não traz saudade. Sendo assim, um olhar de “proa” é fundamental, vislumbrando médio e longo prazos para o setor. Tudo dependerá das margens do etanol, de sua condição de sobreviver à política intervencionista do governo. O açúcar vai e irá muito bem, com o predomínio brasileiro. Dos cenários possíveis em dez anos, temos a seguinte visão: um com o etanol hidratado mantendo seu share atual (44 bilhões de litros) e o outro com ele sendo aniquilado, passo a passo, como carburante, zerando em 2022 (29 bilhões de litros). Pode-se ver nisso a importância da política pública.

Neles, a visão da segunda geração de tecnologia mostra impacto importante de menor área, mesmo com projeção conservadora (34 bilhões de litros). O açúcar, em dez anos, terá aumentada a demanda atual em 50%, em qualquer cenário. Em síntese, quem viver verá!