Presidente da CanaOeste e da Orplana
Op-AA-38
Sob qualquer óptica, os fundamentos do futuro do setor sucroenergético são positivos. E essa não é uma visão ufanista. Ao contrário, é realista e bastante crítica, como nos é permitido mostrar neste artigo, escrito no momento em que tudo nos indica estarmos saindo da curva em “U” na qual a crise nos colocou. Se é verdade que, a partir de 2007, quando se esgotaram os pedidos de usinas greenfield junto à nossa indústria de base, e o crédito, até então farto, simplesmente sumiu do mercado, levando a cadeia produtiva sucroenergética a viver um dos piores ciclos de sua história, também é verdade que a demanda para os subprodutos da cana-de-açúcar cresceu de forma consistente e significativa.
Os incentivos de crédito oferecidos para a compra de veículos, além de trazer problemas de congestionamento para as cidades e para as nossas estradas, ampliaram, significativamente, o mercado para o nosso etanol. Nenhuma nova refinaria entrará em funcionamento num horizonte de 5 anos (as que estão em fase de construção produzirão diesel).
Isso nos remete à conclusão lógica de que ou a Petrobras continuará importando gasolina, com todas as implicações provocadas pelo acúmulo de prejuízos a partir dos subsídios, ou o combustível para movimentar essa frota de veículos, que não para de crescer, deverá ser produzido pelas nossas usinas. Diferentemente do que ocorreu em outras crises, formadores de opinião e representantes da academia têm defendido publicamente a correção na política de preços imposta à Petrobras, com o objetivo de segurar os níveis de inflação. Isso denota que conseguimos conquistar importantes defensores do nosso biocombustível junto ao governo e também à mídia.
Outra pressão, também muito forte, vem sendo exercida a partir do aumento de poluição em nossos centros urbanos, o que provoca sérios problemas de saúde pública. Nesse contexto, opiniões de especialistas como o Dr. Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), são conclusivas: “Aproximadamente
12% das internações respiratórias em São Paulo são
atribuíveis à poluição do ar. Um em cada dez infartos do miocárdio são o produto da associação entre tráfego e poluição. Os níveis atuais de poluição do ar respondem por 4 mil mortes prematuras ao ano na cidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de um tema de saúde pública”.
Se os fundamentos são positivos, também é verdade que temos problemas pela frente que devem ser enfrentados e superados. O primeiro deles é buscar maior eficiência e produtividade. Ao mesmo tempo em que usinas estão deixando de moer, há importantes investimentos sendo feitos em logística com a construção de etanoldutos, modais de transporte e melhoria nos portos. Nossos centros de pesquisa e desenvolvimento buscam a viabilização, em um curto intervalo de tempo – 2014 a 2015 –, para a produção em escala comercial do E2G (Etanol de Segunda Geração) e da química verde (alcoolquímica). A transgenia e as novas variedades de cana têm sido priorizadas e apontam para importantes ganhos de produtividade agrícola.
Também precisamos reconhecer que o setor sucroenergético precisa se organizar melhor e atuar como cadeia produtiva, conceito que viabilizou culturas como as da soja e do milho, ainda na década de 50, nos Estados Unidos. Movimentos como o da formação da “Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético” mostram o compromisso que estamos assumindo, levando às câmaras municipais, assembleias legislativas e Congresso Nacional nossas demandas.
Estamos construindo mecanismos de pressão, todos absolutamente legítimos e democráticos, para sensibilizar governos e opinião pública. A ociosidade da nossa indústria de base, que já ultrapassa os 50%, e a brutal queda na arrecadação dos nossos municípios canavieiros não podem ficar limitados a nossos fóruns setoriais de discussão.
É preciso que os problemas, que já têm merecido destaque na mídia nacional, sejam discutidos com a sociedade, e, nesse contexto, a inserção dessa crise na agenda dos nossos prefeitos, governadores e parlamentares é vital para sensibilizar nossos governantes. Entre 2005 e 2010, o Centro-Sul recebeu US$ 50 bilhões de investimentos na construção de cerca de 100 usinas, e a capacidade de moagem dobrou para 600 milhões de toneladas/ano.
Projeções indicam que, até 2020, teremos que construir número semelhante de usinas e dobrar a moagem para 1,2 bilhão de toneladas/ano. Temos que nos concentrar na sensibilização do governo para a importância da viabilização desses objetivos, se quisermos que os fundamentos e as perspectivas, altamente positivas, que todos enxergam para o futuro do setor sucroenergético, se tornem realidade.