Sócia da ProcewaterhouseCoopers - Divisão Tributária e Societária
Op-AA-38
A safra 2013/14 de cana-de-açúcar fechará, de acordo com o levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), com números de produção bem melhores do que a safra anterior. O Brasil deve produzir 652 milhões de toneladas, um aumento de 11% em relação à safra 2012/13, e obter uma produtividade de 74 toneladas por hectare, 7% maior do que o período anterior.
Esses ganhos de produção e produtividade são decorrentes das melhores condições climáticas, do maior investimento em manutenção e em renovação dos canaviais e da expansão de área plantada, que deve chegar a aproximadamente 9 milhões de hectares. Com a maior produção de cana, as usinas terão condições de produzir mais açúcar e etanol, atingindo, de acordo com a Conab, 41 milhões de toneladas e 27 bilhões de litros, respectivamente.
A disponibilidade de matéria-prima se tornou, nos últimos anos, um desafio para o setor. No entanto, nesta safra 2013/14, o volume de cana produzido conseguirá atender à demanda das usinas, que deverão atingir, segundo o Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), 95% de utilização da capacidade total de processamento. No entanto, apesar da maior produção de cana, outros desafios do setor ainda devem permanecer na safra 2013/14 e trazer preocupações para os envolvidos nessa cadeia de valor.
Um dos pontos de atenção dessa safra diz respeito à atratividade econômica do setor sucroenergético, com a garantia de boas taxas de retorno e perspectivas positivas de continuidade do negócio. Quando se trata desse tema, é possível classificar as usinas em três grandes grupos. O primeiro é constituído de usinas que possuem equilíbrio entre receitas e custos. O segundo é formado por empresas que não estão vivenciando um momento satisfatório com relação à saúde financeira. E o terceiro diz respeito às usinas que não estão mais operando no mercado.
Segundo a Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar, no período de 2008 até os dias de hoje, 51 usinas de açúcar e álcool abandonaram a atividade. Por existir essa heterogeneidade, o nível de negócios no âmbito de fusões e aquisições não está tão elevado. Os investidores estão agindo com mais cautela e avaliando com cuidado as margens de retorno do setor e a relação entre faturamento e custo.
Do lado do faturamento, a grande questão são os preços. O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e detém o comando do mercado internacional, influenciando a oferta e os preços. As expectativas de uma alta produção brasileira na safra 2013/14 afetaram os preços internacionais, que iniciaram uma tendência de queda. Para se ter uma ideia da diminuição da rentabilidade do açúcar, ocasionada pela diminuição dos preços, basta analisar os rumos das exportações dessa commodity de janeiro a agosto de 2013. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, o volume de açúcar brasileiro exportado cresceu 46% quando comparado com o mesmo período de 2012. Por outro lado, a receita gerada com as exportações aumentou apenas 12%.
Com relação ao etanol, os preços exercem grande influência no consumo final. Do ponto de vista econômico, o preço do etanol hidratado tem que permanecer abaixo de 70% do preço da gasolina. Além disso, o comportamento do motorista de carros flex no Brasil não é guiado por uma linearidade. O consumidor é muito sensível às oscilações de preços, mudando muito rapidamente as suas preferências.
É visível, portanto, que a renda proveniente do açúcar e do etanol está atrelada e é vulnerável às modificações de preços. Todas as usinas do setor convivem com essa característica do mercado sucroenergético. Algumas usinas conseguem administrar essa dificuldade, outras, no entanto, encontram mais problemas para garantir rentabilidade diante das instabilidades de preços. Essa diferenciação de performance das usinas está muito mais atrelada a custo e eficiência do que propriamente ao porte das usinas e à quantidade de cana processada por elas. Portanto, para garantir rentabilidade, o grande foco das usinas deve ser controle de custos e ganhos de eficiência.
Quando se trata de controles de custos, uma série de fatores estão envolvidos. Dentre eles, podem-se mencionar alguns de grande relevância e que vão ao encontro da realidade atual do setor sucroenergético, como, por exemplo: reestruturação das despesas financeiras, redução eficiente de custos operacionais agrícolas e industriais e redução das despesas tributárias.
O cenário atual do setor é de alto endividamento. Segundo o Itaú BBA, a dívida das usinas do Centro-Sul soma R$ 56 bilhões, enquanto o seu faturamento é de aproximadamente R$ 60 bilhões. Isso significa que o nível de endividamento está muito próximo do faturamento. A alta dívida afeta diretamente a performance das usinas, que, de acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar – Unica, possuem 25% de sua renda comprometida com o pagamento de despesas financeiras. A reestruturação das dívidas, com a escolha de financiamentos menos onerosos, e o planejamento mais adequado de formas de pagamento são o caminho para reduzir as despesas financeiras e iniciar o processo para melhorar os índices de rentabilidade.
O custo de produção também é um fator de preocupação para o setor sucroenergético. Segundo o Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), nas últimas seis safras, o custo de produção agroindustrial aumentou 9% nas regiões canavieiras tradicionais e 7% nas regiões de expansão que estão absorvendo a cultura da cana. O Pecege espera que o custo de produção na safra 2013/14 seja menor do que na safra 2012/13, mas ainda não o suficiente para tornar a atividade atrativa economicamente.
Levando esses dados em consideração, a adoção de boas práticas de redução de custos faz parte do processo de busca por rentabilidade. Ações como a otimização na compra de insumos e a implementação de controles e processos automatizados podem ser colocadas em prática para reduzir os custos operacionais ao longo do processo de produção.
Por fim, outro importante tema na estratégia de redução de custos é a diminuição das despesas tributárias por meio da recuperação dos gastos tributários realizados anteriormente. As recentes alterações legislativas voltadas, principalmente, para o etanol trouxeram mais fundamentos para recuperar alguns custos provenientes de tributos já pagos. Além da recuperação, a revisão dos procedimentos na apuração dos tributos para reduzir tais gastos no futuro também é um importante instrumento na tentativa de encontrar um equilíbrio entre receitas e custos.
O setor sucroenergético é extremamente promissor por visar à produção de alimentos, de bioeletricidade e de um biocombustível eficiente, como o etanol. Investidores nacionais e estrangeiros estão atentos às oportunidades geradas por essa cadeia de valor. Para eles, no entanto, a atratividade econômica do setor ainda não foi plenamente conquistada. É preciso aumentar não apenas a produção agrícola, mas também a eficiência da gestão financeira e tributária para obter sucesso nessa que é uma das atividades econômicas mais antigas do nosso país.