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Plinio Mário Nastari

Presidente da Datagro Publicações

Op-AA-17

Bom passado. Futuro seguro.

A intensidade das transformações observadas atualmente no setor canavieiro e sucroalcooleiro do Brasil pode ser comparada, provavelmente, apenas àquela vivida após a criação do Proálcool, em 1975. Em meados da década de 70, o setor, ainda tutelado pelo Estado, foi invadido por uma onda de renovação, com a instalação de novas unidades produtoras - destilarias autônomas - focadas na produção de um novo produto, o etanol, que embora fosse velho conhecido, ainda não fazia parte do dia-a-dia do setor.

Desde os idos de 1930, já eram amplamente conhecidas no Brasil as possibilidades de uso do etanol em motores, pela adição à gasolina em vários níveis, inclusive com o desenvolvimento de misturas elevadas, como a “azulina”. Pesquisadores pioneiros, como Eduardo Sabino de Oliveira, já haviam, há muito tempo, identificado as vantagens do etanol para uso automotivo, mas foi somente em 1975, com a decisão de se criar o Proálcool, que veio a transformação.

O setor, que foi eminentemente açucareiro por quase cinco séculos, passou a conviver com a dualidade açúcar-etanol, e todos os desafios, crises e oportunidades que esta nova realidade trouxe para produtores e setores afins. A história destes 33 anos de desenvolvimento recente é rica, e muito mais bonita, do que feia, muito mais alegre, do que triste. Identificamos vários heróis, que se destacaram por sua criatividade, combatividade e atitude, em momentos de crise.

Alguns nomes que despontam são os dos idealizadores Lamartine Navarro Jr. e Cicero Junqueira Franco; dos implementadores Shigeaki Ueki e Ernesto Geisel; dos inovadores Maurilio Biagi, Duvílio Ometto e Luis Antonio Ribeiro Pinto; das lideranças em momento de crise de Werther Annicchino e João Carlos de Figueiredo Ferraz; da ousadia de Rubens Ometto Silveira Melo, e tantos outros.

Desde então, o setor foi liberado das amarras do Estado, conquistou o mercado mundial de açúcar, atingiu competitividade com a gasolina, a preços de mercado, e hoje avança célere, galgando novos patamares de demanda de etanol, ao ritmo de aproximadamente 3,5 bilhões de litros por ano, apenas no mercado interno.

Neste momento, estamos no limiar de uma nova fase de enormes transformações. Os avanços obtidos com pesquisa e desenvolvimento, que elevaram o rendimento médio agroindustrial do Brasil, de 2024 para 6450 litros de álcool hidratado equivalente, entre 1975 e 2007, devem continuar nas próximas décadas, com novas ferramentas de biotecnologia.

Uma das coisas mais valiosas deste setor é o fato de que já é competitivo com energia de origem fóssil, mas ainda não está otimizado. Ainda há muito o que avançar em produtividade, e em redução de custos. Os mercados de energia, líquida e elétrica, são muito maiores do que o mercado de açúcar, ou o de alimentos. O setor canavieiro e sucroalcooleiro do Brasil qualificou-se nestas últimas três décadas, para chegar à porta destes imensos mercados, e é esta enorme demanda que dá suporte à expansão de oferta, ao ritmo de 10,7% ao ano, entre 2000 e 2008, sem uma crise de preço por excesso de oferta.

A transformação que se inicia agora é a da entrada de novos produtores de peso, com enorme capacidade de alavancagem financeira, e custos baixos de capital. Chegou à fase de instalação de projetos integrados de produção e logística, em que são minimizados os custos fixos unitários, pela administração conjunta de várias unidades produtoras. Nesta fase, novos produtos passam a fazer parte da cesta de alternativas.

Produtos que já eram conhecidos há tempos - o fluxograma que o Jairo Balbo desenvolveu já os identificava há 20 anos - começam a ser efetivamente implementados. Empresas mundiais como Dow, Braskem e Solvay investem em plantas, de forma associada ou individual, para a produção de resinas termoplásticas. Formas inovadoras de transformação de sacarose de cana em energia são exploradas com biotecnologia de ponta, como é o caso da Amyris, em consórcio com a Crystalsev.

No cenário local, nos últimos trinta anos, foi inegável o papel do setor em promover o desenvolvimento descentralizado no interior. Muitos viveram ou assistiram à verdadeira transformação urbana e social, ocorrida em cidades como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente e Bauru, e que agora começa a ser replicada no interior de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Isso se deu com o aproveitamento de mão-de-obra excedente, de baixa qualificação, que estava disponível à época. Agora, começa a ser valorizada a mão-de-obra mais especializada: o filho do bóia-fria de ontem é o operador de colhedora mecanizada de hoje.

A produtividade da mão-de-obra é maior, e também a sua renda. Este setor foi o grande impulsionador da transferência para o campo de muitas conquistas trabalhistas atingidas no meio urbano. Deve ser por isso que o Partido dos Trabalhadores, e em particular o Presidente Lula, reconhece tanto o valor deste setor para a economia e o desenvolvimento. Mas, a transformação continua, e o setor que desenvolveu uma idéia local, está se tornando cada vez mais global.

O Brasil canavieiro e sucroalcooleiro é a grande referência mundial para a produção de energia limpa, renovável e sustentável. Ainda há imperfeições, obviamente, mas, no geral, o que está sendo feito é de excelente qualidade. O que as famílias Ometto e Pavan fizeram ao transformar Pradópolis em uma referência de desenvolvimento e os índices de desenvolvimento humano de Araras e Orindiúva são a regra e não a exceção.

Isso é que é alvissareiro: ainda há muito o que fazer. Há muito o que ser otimizado, trabalhado, estudado e escrito. Tenho certeza de que muitas páginas ainda serão escritas sobre este setor, seus produtos, subprodutos, tecnologias e mercados. Veículos sérios como a Revista Opiniões, terão um espaço permanente para o desenvolvimento do trabalho bem feito, observado em mais esta edição.