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William Domingues de Souza

Editor Chefe da Revista Opiniões

Op-AA-18

Carta aberta ao excelentíssimo presidente Lula

Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,

Inicialmente, pensamos que estávamos tão somente organizando um evento que tinha por objetivo estudar importantes questões do setor sucroalcooleiro. Por si só já seria uma grande ocorrência, pois se tratava do evento oficial de abertura da maior feira do mundo sobre álcool, a Fenasucro.

Desde o ano passado, havia sido decidido que deixaríamos realizar eventos sociais ou políticos, e que o Fórum Internacional sobre o Futuro do Álcool teria, tão somente, como pauta assuntos estratégicos, de preocupação nacional, para os quais seria necessário buscar rumo e consenso e cujas decisões poderiam mudar de forma sensível, os destinos do setor. Para cada pauta escolhida, envolveríamos os maiores especialistas do assunto no país e, quando o caso, no mundo.

Este ano, definimos como pauta a “Mundialização da Produção do Álcool”, estudando 3 aspectos deste tema: a consolidação de um Mercado Futuro, a definição dos seus padrões e o fomento da produção do álcool em outros países do mundo. As duas primeiras questões ocorrerão de forma natural, pela freqüência e continuidade da colocação dos pedidos de compras de álcool. Mas, a expansão do mercado de produtores, não.

Nenhuma nação do mundo irá trocar a segurança de uma multiplicidade de fornecedores, por mais instável, caro e finito que seja o petróleo, por um outro produto que seja fornecido por um único país: o Brasil. Assim, se desejamos realmente trabalhar para que o álcool venha a se tornar uma commodity, teremos, obrigatoriamente, que implantar a cultura canavieira em outros países do mundo.

São candidatos naturais todos os países de clima tropical, com grandes extensões territoriais. Nesta situação, a África coloca-se como uma excelente opção. No que se refere à logística, tem uma condição excepcional: a África fica no centro do mundo. Todas as rotas de navios-tanques circundam suas costas. A costa Oeste pode servir os EUA; o Centro, através de alcooldutos, a Europa; e a costa Leste, a China e toda a Ásia.

O continente tem muitos problemas de administração como, por exemplo, guerras tribais, mas em se havendo interesses governamentais internacionais dirigindo os interesses empresariais, a discórdia poderá ter fim com muita rapidez e certa facilidade. Mas, jamais conseguiremos instalar na África apenas os canaviais. Todas as ONGs e a sociedade do mundo civilizado inviabilizariam sua implantação.

Para uma operação desta envergadura, seria fundamental fazê-lo sob uma condição adequada de sustentabilidade, atendendo plenamente o tripé econômico, ambiental e social. Assim, o projeto de instalação de canaviais nos países africanos deverá ter em seu pacote um amplo sistema de produção organizada de alimentos. Assim, se fecha o circuito. Este é o grande gol.  

O que seria o tendão de Aquiles dos biocombustíveis, torna-se toda a sua força. Ao invés de administrar a crítica mundial de que os biocombustíveis estão roubando o espaço dos alimentos, a sua produção estará sustentando e ampliando a produção mundial de alimentos, notadamente no lugar de maior carência do planeta.

O bom de toda esta história é que o Brasil tem tecnologia no estado-da-arte na área agrícola e industrial (na extensão mais ampla da palavra: condições de fabricar fábricas), e tem autoridade científica para liderar este mega projeto mundial, no setor canavieiro, alimentício e industrial. O CTC, IAC, CanaVialis, Embrapa, os parques industriais de Sertãozinho e Piracicaba, dentre outros, detêm toda a tecnologia necessária para conduzir esta operação.

O sistema reservaria à indústria brasileira específica um desenvolvimento muitíssimo maior do que o visto em qualquer época, em nossa nação. Temos totais condições de liderar este processo. Ninguém, Excelentíssimo Senhor Presidente, em nenhum momento de nossa história, levantou, tão alto, tão longe e por tanto tempo, a bandeira do álcool, entre todas as nações do mundo, como o senhor.

E, por tudo que sabemos, o senhor fez isso de maneira natural e voluntária, independentemente de planos negociados com o setor ou entidades. Fez o que fez, transparece-nos, por acreditar que os biocombustíveis são soluções para muitos males econômicos, ambientais e sociais, no Brasil e no mundo. Se o senhor parasse agora, já teria feito pelo setor a mais efetiva e eficaz ação em prol deste sistema.

Os recursos virão de investimentos diretos e de programas específicos como crédito de carbono, por exemplo. Existem muitos países interessados na parte econômica desta história. Grandes investidores do mundo já estão tocando, de forma experimental, Usinas aqui no Brasil.

No que se refere à parte ambiental, muitos países estão altamente envolvidos num efetivo tratamento desse assunto. Quanto ao aspecto social, pergunta-se: quem será contra a produção de alimentos? Ainda mais na África? Esse não é um sonho de um poeta. É apenas um sonho grande demais. Para o qual, precisa-se de um homem com as características do senhor, para levá-lo ao mundo.