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Julio Maria M. Borges

Diretor da Job Economia e Planejamento

Op-AA-19

O cenário econômico mundial e o negócio de açúcar e álcool

No final de 2008, a União Européia - UE, divulgou algumas conclusões de um estudo sobre o comércio agrícola global. Entre elas, vale a pena considerar:

1. O consumo de produtos de base agrícola irá crescer, graças ao aumento da população mundial e da renda nos países em desenvolvimento, onde o BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) terá papel fundamental neste cenário.
2. O Brasil consolidará seu status como grande exportador de produtos agrícolas até 2017, visto seu domínio nas vendas de oleaginosas, açúcar, etanol e carnes bovina e de frango.
3. A demanda por açúcar deve crescer e dar suporte para um aumento da oferta, sem excedentes predatórios de preços. O Brasil será o principal ator do lado da oferta. Hoje com 40%, representará, até 2017, 60% das exportações mundiais. A UE representará o maior importador global de açúcar, comprando mais de 5 milhões de toneladas. Em seguida, virão China, EUA e Rússia.
4. A Tailândia estará como o segundo maior exportador de açúcar, com 12% do mercado.
5. A Índia continuará como o segundo maior produtor de açúcar mundial.
6. No caso do etanol, a UE admite o domínio do Brasil como exportador e os EUA como o principal importador. O comércio internacional deve crescer rapidamente e as exportações brasileiras podem alcançar 13 bilhões de litros até 2017.
7. A expectativa é de que os preços serão mais voláteis no futuro. No médio prazo, as projeções são de alta, depois da queda verificada em 2008.

Os números acima podem sofrer alterações, como sempre acontece em projeções. A sintonia fina de projeções econômicas necessita de ajustes periódicos. Contudo, a direção dos mercados comentados, em nossa opinião, está correta, partindo da premissa de que “o mundo não vai acabar”. Ou seja, o crescimento econômico mundial, no curto prazo, será simplesmente reduzido, não se verificando recessão em escala global.

Ainda, de acordo com nosso ponto de vista, o que deve ocorrer daqui para frente é uma “correção técnica” dos excessos de natureza financeira cometidos nos últimos anos, identificados na crise de crédito denominada de subprime (crédito de risco, concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes).

Os Governos centrais dos principais países do mundo desenvolvido e em desenvolvimento estão tomando medidas corretivas e corretas anti-recessão, o que permitirá a retomada do crescimento econômico mundial no médio prazo, em bases econômico-financeiras sadias.

Perspectivas de Mercado: Considerando que:
• O crescimento econômico mundial ocorra em bases sustentáveis e que o preço do petróleo viabilize a utilização de novas e necessárias reservas, como as do Canadá e a camada pré-sal no Brasil;
• O preço do açúcar viabilize aumentos de produção necessários ao atendimento da demanda;
• O Brasil possa sustentar um crescimento econômico nos próximos sete anos a uma taxa média de 4% a.a. e que as vendas de automóveis e comerciais leves cresçam 5% a.a., sendo cerca de 90% veículos flex-fuel;
• A mistura álcool anidro-gasolina seja de 25% e que o preço do álcool hidratado na bomba seja competitivo com a gasolina, de tal maneira que 90% da frota de veículos flex-fuel use álcool combustível;
• A indústria química utilize álcool tal como atualmente. Ou seja, em bases tradicionais, sem qualquer mudança relevante nos processos, visando uma utilização mais intensa do etanol como matéria-prima;
• A demanda de açúcar no mercado interno cresça entre 2,0 % e 2,5% ao ano.

Podemos admitir um cenário onde:

1. O Brasil estará moendo, em 2015, aproximadamente, 1 bilhão de toneladas de cana, em 14 milhões de hectares. Isto representa, no período 2008-2015, um crescimento anual da ordem de 8% ao ano. Vale lembrar que no período 2004-2008, o crescimento anual foi de 10% ao ano.
2. A produção de açúcar irá crescer cerca de 3% a.a., no período 2008-2015, enquanto a produção de álcool deve crescer entre 11% e 12% a.a., atingindo algo próximo de 60 bilhões de litros em 2015. No período 2004-2008, as produções de açúcar e álcool cresceram cerca de 4% e 16% a.a., respectivamente.
3. As exportações de açúcar, que foram durante a década passada, até meados da atual, o componente dinâmico do setor, com crescimento da ordem de 17% ao ano, terão um crescimento comedido de 4% ao ano no período 2004-2015.
4. As exportações possíveis de álcool estão previstas entre 8 e 9 bilhões de litros em 2015. Atualmente, o Brasil exporta 5 bilhões de litros. Em havendo necessidade de maiores volumes, o mercado interno será atendido parcialmente, através de preços relativamente altos do produto para o consumidor brasileiro.

O negócio de açúcar e álcool no Brasil: Tomando como base o cenário descrito anteriormente, podemos concluir que produzir açúcar e álcool no Brasil continuará sendo um bom negócio. É claro que exigirá dos participantes do mercado eficiência e competitividade, tendo em vista que se trata de commodities agrícolas, com pré-requisitos de grandes volumes e custo baixo de produção.

A gestão eficaz do negócio, de uma forma abrangente, é o novo desafio a ser enfrentado pelo setor. Neste caso, vale a pena destacar estratégias adequadas de comercialização da safra, logística, gestão de recursos humanos, administração de riscos e integração vertical da atividade. A imprudência no processo de aquisição e construção de novas usinas e na gestão do negócio em si, bem como a timidez excessiva, são extremos desnecessários e de alto custo para uma boa estratégia empresarial. Basta observar o que acontece neste momento no setor: usinas fragilizadas financeiramente, após um período de euforia e altos lucros e, em alguns casos, sujeitas a serem absorvidas por grandes grupos econômicos, por absoluta falta de opção.