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Roberto de Rezende Barbosa

Presidente do Conselho do Grupo NovAmérica

Op-AA-36

O desafio da busca do lucro na produção mecanizada

O agronegócio do Brasil vem apresentando um círculo virtuoso há anos, decorrente do aumento mundial da demanda por commodities agrícolas. Com a crise americana em 2012, houve significativa elevação dos ganhos econômicos da produção de grãos e carne, somada à disputa por terras entre os próprios produtores de cana-de-açúcar, fazendo com que o custo da terra – e consequentemente do arrendamento – tivesse um crescimento próximo a 90%, desde 2007.  

A experiência adquirida durante décadas teve de ser ampliada e ajustada a partir das demandas apresentadas nos últimos cinco anos. O mercado, as relações de trabalho, a cultura e, principalmente, o trato com a terra e o manejo da cana-de-açúcar têm sido transformados com o advento da mecanização. Essas mudanças foram necessárias para um avanço no setor nas questões tecnológicas e humanas, porém não é possível negar a chegada concomitante de outros desafios.


Dentre eles, estão os ganhos reais de salários devido à escassez de mão de obra qualificada e à concorrência com outros setores do agronegócio, custos de aprendizado, normas regulamentadoras, aparecimento de novas pragas e doenças e aumento do custo da terra.

A disponibilidade de recursos humanos no processo de mecanização está longe de atingir o amadurecimento, pois o número de profissionais que possuem o conhecimento técnico de novas tecnologias ainda não é suficiente para atender às demandas do mercado.

Isso leva à geração de custos adicionais em quatro frentes: nas perdas decorrentes da falta de qualificação adequada para a excelência nas operações, danos causados aos equipamentos, inflação dos salários pela disputa por profissionais e necessidade de excedentes de colaboradores em processo de formação.

As normas regulamentadoras de cunhos trabalhista e ambiental, editadas nos últimos anos, trouxeram avanços nas condições de trabalho no campo e na proteção ao meio ambiente, porém agregaram custos às operações.

Essas normas que, em sua maioria, não existem em outros países, contribuíram para o Brasil deixar de ocupar o lugar de produtor mais competitivo em custos de produção da cana-de-açúcar.

O processo de mecanização da colheita de cana crua fez surgirem condições favoráveis de desenvolvimento de pragas e doenças já existentes que não tinham infestação suficiente para causar grandes danos, e o conhecimento sobre o manejo de controle já estava consolidado.

Essa realidade mudou completamente, e o monitoramento e o controle dessas pragas e doenças tornaram-se fundamentais para evitar quedas na produtividade, além do efeito colateral do uso de defensivos agrícolas. Apesar das condições adversas apresentadas, a produção de cana-de-açúcar no País tende a continuar crescendo, devido à necessidade humana por alimentos (açúcar) e por energia limpa (etanol), por isso a evolução da mecanização é necessária e irreversível.


Devemos investir no aperfeiçoamento tecnológico de máquinas e equipamentos, principalmente aqueles voltados ao plantio mecanizado, que estão muito aquém de permitir uma operação de qualidade, porque os resultados das lavouras têm apresentado níveis de produção muito abaixo de seus potenciais.

Mesmo na colheita, onde esse desenvolvimento vem de muitas safras, ainda há espaço para ganhos, voltados à redução das agressões à soqueira, compactação do solo, redução de perdas e monitoramento de tráfego.

Apesar de, nos últimos anos, ter sido lançado um número significativo de novas variedades, ainda não dispomos, na cultura da cana-de-açúcar, dos recursos da transgenia em escala comercial, já consolidada em outras culturas e decisiva em ganhos de produtividade e redução de custo, podendo representar um marco para o setor sucroenergético.

Com relação ao preço da terra, nos resta extrair ao máximo os potenciais produtivos, aproveitando os avanços tecnológicos e as condições climáticas, não só no uso de variedades mais adaptadas, como também no bom planejamento de colheita, aliado à adoção de boas práticas de produção. Podemos ter outras oportunidades de ganhos já em processo de amadurecimento, como a utilização da palha da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica e o etanol de segunda geração.

A pressão pelo aumento dos custos diretos e indiretos continuarão ascendentes, e a redução dos custos de produção só poderá vir com ganhos de produtividade provenientes do desenvolvimento de máquinas e equipamentos, do uso de técnicas da agricultura de precisão, da atualização do quadro varietal, do monitoramento e controle de pragas e doenças e do planejamento adequado das operações de plantio e de colheita.

Todo esse cenário só é possível com uma gestão focada nos cuidados e na condução da lavoura, monitorando os fatores que podem influenciar no sucesso do negócio, o que costumamos chamar de “botina no canavial”.