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Luiz Paulo Sant'Anna

Coordenador do Comitê de Gestão Industrial da UDOP

Op-AA-061

O que há de moderno hoje na área industrial do setor sucroenergético?
O setor sucroalcooleiro enfrenta uma das maiores crises de sua história. Endividamento, aumento do custo de produção, perda da competitividade e problemas climáticos afetam o setor do agronegócio. Desde 2007, várias usinas fecharam, perdendo-se mais de 60 mil empregos.
 
Para reverter esse cenário, é necessário retomar o crescimento, fazer diferente e investir em tecnologia e em novas técnicas de produção industrial. O cenário atual está voltado para o mix alcooleiro, o açúcar, atualmente, não está remunerando a indústria pelos seus preços baixos no mercado internacional, e as indústrias estão encontrando a melhor saída pelo etanol; dessa forma, o mix de produção está superior a 60%, e, com pequenos investimentos, podemos produzir mais, buscando maior produtividade da fermentação e destilação. 
 
É nesse contexto que precisamos investir em levedura personalizada, trabalhar com altos teores de álcool no vinho, reduzir o consumo de vapor nos aparelhos de destilação e investir em tecnologia. Dentre as tecnologias e boas práticas, pessoas estão nesse contexto porque são as que vão fazer tudo isso acontecer, por isso devemos investir em suas qualificações e desenvolvimento, permitindo um processo de meritocracia cada vez mais eficiente.
 
LEVEDURA PERSONALIZADA: Em tempos de transformação, encontrar seu diferencial no mercado é essencial para obter destaque e se manter fortalecido. Um fator importante, e de grande peso, são as leveduras personalizadas, que, devido a anos de pesquisas, chegaram a variedades cada vez mais eficientes e integradas ao processo.
 
Para melhorar o desempenho na produção de etanol e diminuir os custos de produção, é necessário realizar pesquisas para selecionar uma linhagem de levedura nativa com alto desempenho. Essas leveduras são selecionadas entre as que aparecem na fermentação e por isso estão mais adaptadas ao processo da unidade, apresentando maior persistência e redução das perdas causadas por contaminações bacterianas quando comparadas com outras leveduras.
 
17 ºGL FERMENTAÇÃO: Uma das alternativas é trabalhar com alto teor de álcool na fermentação, na faixa de 15%-17% em volume. Para viabilizar isso, é necessário que a levedura suporte temperatura acima de 38 ºC ou que a temperatura da fermentação esteja na faixa de 32 ºC. Para controlar a temperatura da fermentação, é necessário que a temperatura da água esteja abaixo de 24 ºC. Com essas temperaturas, é possível trabalhar com 17% ºGL sem perdas de eficiência e viabilidade. Fermentação com 17% de álcool em volume produz muito menos vinhaça, reduzindo também os custos de distribuição de vinhaça na lavoura.
 
APARELHO DE DESTILAÇÃO A VÁCUO: Trabalhar com aparelhos de destilação mais econômicos em vapor. Isso é possível adotando-se aparelhos que trabalham em destilação sob vácuo, ou seja, os vapores alcoólicos de uma coluna são usados para aquecer outra coluna operando em vácuo. Embora sejam equipamentos de custo mais elevado, é possível economizar energia. O consumo de vapor para produzir álcool hidratado em um aparelho convencional com vinho de 9% ºGL, de 2,2 a 2,4 t/m3, passa para 1,2 a 1,4 t/m3 em um aparelho a vácuo.
 
INDÚSTRIA 4.0: É perceptível que estamos entrando em uma nova era, um momento de transição em que as empresas precisam perceber e receber a mudança direta de paradigma, seja qual for o setor em que atua. Essa era é a chamada Indústria 4.0, que veio para revolucionar o mercado trazendo inovação e tecnologia, mudando a forma de relacionamento e consumo, processos cada vez mais inteligentes, onde tudo torna-se mais eficiente, mais autônomo e muito mais personalizado.
 
O que também precisamos entender é que não se limita a uma evolução tecnológica: é uma mudança de cenário econômico, uma mudança de estratégia, de posicionamento e de comportamento do mindset, e, para isso, são utilizadas diversas formas de tecnologia e inteligência artificial como suporte para essa demanda.
 
Em nosso cenário, podemos aplicar os conceitos da Indústria e utilizar o termo Usina 4.0, que é a criação de um ambiente onde toda a cadeia de valor, sendo pessoas, informações e equipamentos, esteja conectada. A usina estará vinculada a um ambiente de informações ágeis e dinâmicas, contemplando melhorias para diversos processos.

Por exemplo: informações meteorológicas são imprescindíveis para o trabalho de campo, e, quanto mais rico de informação, e mais personalizado ao processo, melhor será a tomada de decisão sobre colheita e produção. A conexão do estoque de insumos, ao ter observado seu consumo em tempo real e operação com os fornecedores de produtos e serviços, permite a entrega e a análise do processo no tempo em que ocorre, eliminando desperdícios de qualquer espécie. O intuito é ter um processo produtivo conectado para diminuir impactos negativos, contribuir para o aumento de produtividade e, além da entrega dos resultados, superar o grande desafio que é garantir a segurança da operação.
 
Para assegurar essa integração, serão necessários novos recursos tecnológicos, que permitirão criar esse vínculo entre todos os instrumentos e equipamentos na planta industrial; e, no setor agrícola, contaremos com máquinas e equipamentos conectados ao GPS trocando informações com a indústria em tempo real, e isso será permitido através da Internet da Coisas (IoT), a maioria com redes sem fio (wireless), onde todo o processo produtivo será simulado através de cenários, tanto de mercado, quanto de consumo, fazendo a usina produzir de forma personalizada e com maior controle, pois o banco de dados (Big Data) receberá todas as informações da cadeia produtiva e suas variáveis, tanto interna, dos equipamentos e das pessoas, quanto externamente, dos fornecedores, dos governos, do clima, do mercado, entregando informações concretas e objetivas para que os líderes tenham mais segurança para as tomadas de decisões e, assim, se obtenha maior aproveitamento.
 
Essa nova era convida as usinas a saírem da zona de conforto e a deixarem para trás tudo com que já se estava acostumado, dando espaço para uma produção mais ágil, uma liderança mais eficiente e um maior aproveitamento do potencial dos nossos ativos.
 
PESSOAS E GESTÃO NO CENTRO DESSA TRANSFORMAÇÃO: O olhar para o futuro passa, sem dúvida nenhuma, pela mudança na forma como as empresas tratam o seu ativo principal, as pessoas. Toda essa revolução digital com impacto nas relações humanas, as novas conformações das famílias, a nova realidade demográfica, o olhar para a inclusão e a diversidade exigem que as empresas formatem novas estratégias para extrair o melhor das pessoas.
 
Reduzir turnover, criar um ambiente de aprendizado contínuo, incentivar a meritocracia, intensificar a formação de cultura organizacional forte, atrair e manter os grandes talentos, formar novos líderes tem se tornado o desafio dos RHs, e, no setor sucroenergético, essa realidade se mostra ainda mais intensa.
 
Algumas companhias saem na frente nesse universo inovador, criando programas de excelência e qualidade, de incentivo à meritocracia, com medição de desempenho, universidades corporativas com módulos destinados desde início da formação de lideranças até a lapidação de lideranças intermediárias, com vistas a capacitar novos gerentes e diretores. Comportamentos como proatividade, resiliência, engajamento, assunção de responsabilidade, visão sistêmica e profissionalismo são incentivados e valorizados.
 
Esses passos têm efetivamente resultado em maior atração de talentos, melhoria no clima organizacional, ambiente de confiança para inovação e com efeito colateral nos resultados efetivos muito acima da média. O futuro chega mais cedo ou mais tarde, e os que estão ajudando a construí-lo demonstram maior capacidade de serem os vencedores desse jogo.