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John Briscoe

Diretor do Banco Mundial para o Brasil

Op-AA-11

Álcool como uma commodity internacional: perspectivas bastante favoráveis

O etanol e outros combustíveis líquidos, feitos a partir de biomassa, estão atraindo um crescente interesse em todo o mundo. O alto preço do petróleo, assim como questões de segurança energética e mudança climática, estão levando o álcool e outras fontes de energia a conquistarem espaço no cenário internacional.

Alguns estudos apontam o etanol como um dos biocombustíveis mais economicamente viáveis atualmente, e a expansão do mercado global para o álcool combustível é tida, por diversos analistas, como uma opção bioenergética promissora para alguns países. O Banco Mundial acompanha a evolução dos biocombustíveis, como alternativas energéticas que podem transformar a economia e a agricultura de muitos países, não apenas do ponto de vista da matriz energética, como da produção, redução de pobreza, sustentabilidade ambiental e impacto sobre o meio ambiente global.

Ainda não há estudos definitivos, mas países em desenvolvimento identificam, nos biocombustíveis, um caminho para estimular o desenvolvimento rural, criar empregos e poupar divisas, com a substituição das importações de petróleo. Uma questão fundamental para a expansão desses combustíveis é o desenvolvimento de mercados internacionais.

No caso mais desenvolvido, o do etanol, o Brasil e os EUA são hoje os dois maiores mercados, concentrando 70% da produção global de álcool combustível. Em comparação, o mercado mundial de biodiesel é muito menor em tamanho, embora esteja crescendo rapidamente. O mercado para o álcool pode crescer ainda mais nos próximos anos, com a incorporação progressiva de combustíveis alternativos à matriz energética, em diversos países.

Por exemplo, o Congresso dos Estados Unidos determinou que a indústria petroleira adicione quase 30 bilhões de litros de combustíveis renováveis à gasolina, até 2012. A maior parte desse volume deve ser de etanol. A meta é reduzir o consumo de gasolina em 20%, até 2017. Além dos EUA, Canadá, Colômbia, Filipinas, Índia, Malásia, Tailândia e União Européia, já adotaram metas (algumas obrigatórias) para aumentar a participação de biocombustíveis nos seus sistemas de transportes.

Da mesma forma, se os custos do petróleo permanecerem elevados por um período longo, muitos outros países podem escolher investir nas alternativas renováveis. Estudos mostram que países, como o México, poderiam economizar muito e criar milhares de empregos, ao adotarem o etanol como aditivo na gasolina. Em muitos casos, também haveria efeitos positivos na redução de poluentes. Assim, há grandes possibilidades para o etanol no futuro. Mas, também há questões econômicas, sociais e ambientais, potencialmente importantes a serem consideradas.

É preciso lembrar que grande parte dos mercados mundiais desse produto, atualmente, se sustentam sobre altos subsídios ou barreiras à importação. A dependência de preços elevados do petróleo para a viabilidade econômica pode afetar a decisão de investimento de muitos países. Da mesma forma, o cultivo pode substituir lavouras tradicionais e encarecer os custos dos alimentos, algo que pode ser especialmente nocivo nos países pobres da África. Por fim, a expansão da área cultivada pode pôr em risco áreas de preservação ambiental.

Um mercado global para o álcool combustível, uma importante meta brasileira, só poderá existir, se o etanol for produzido e consumido em muitos países. Nesse contexto, a experiência brasileira de mais de 30 anos, que possibilitou ao país substituir o equivalente a dois anos da atual produção de petróleo por álcool, é fundamental para ajudar a expandir a base produtora internacional.

O Brasil já está ajudando outros países a seguirem os seus passos e a evitarem os percalços. Na reunião de cúpula do Grupo Trilateral da Índia, Brasil e África do Sul (IBSA), realizada em Brasília no ano passado, o etanol e os biocombustíveis foram identificados como uma das mais importantes sinergias a serem fortalecidas e incentivadas entre esse três países.

Da mesma forma, foi anunciado, recentemente, que Brasil e EUA buscarão definir padrões técnicos para a comercialização e produção do etanol. A padronização é um passo importante para que o álcool combustível possa ter uma cotação e ser comercializado nas bolsas internacionais, da mesma forma que commodities como soja, café e o próprio petróleo.

Contudo, ainda há uma carência de: estudos sobre as possibilidades de replicar a experiência brasileira em outros países, que não contam com as suas vantagens climáticas e de solo; de contínua pesquisa agrícola e industrial; e do histórico de vontade política, para desenvolver alternativas aos derivados de petróleo.

O Banco Mundial e outros grandes financiadores já têm demonstrado interesse e disposição para ajudar a desenvolver alternativas bioenergéticas. O Banco vem realizando análises e pesquisas econômicas, sobre o potencial e os impactos dos biocombustíveis nas diversas regiões do mundo. Quando visitou o Brasil, em 2005, uma das coisas que mais chamou a atenção do Presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, foi a indústria do álcool. O Presidente elogiou o “duplo dividendo” de energia com menor impacto ambiental, que o Brasil foi capaz de obter.

Nesse sentido, o Banco apóia o livre comércio global do etanol, mas também encoraja o desenvolvimento das atividades que já demonstraram sua viabilidade econômica com a tecnologia atual, como a cogeração com bagaço e outras biomassas residuais, onde o Brasil também é líder. Hoje, um conjunto de fatores levou a experiência brasileira em biocombustíveis ao centro das atenções globais. Ainda há questões a serem resolvidas para chegarmos a um mercado internacional e ao uso generalizado do etanol como combustível, mas o Brasil vem dando grandes passos nestes caminhos.