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Jorge Luis Donzelli

Coordenador de P&D do Programa de Agronomia do CTC

Op-AA-24

Ambientes de produção edafoclimáticos para a cultura da cana-de-açúcar

Hoje, falar em “ambientes de produção” para alocação de variedades em encontros técnicos no setor canavieiro soa como algo natural. O termo virou um jargão, como se diz em bom português. Entretanto nem sempre foi assim.  Nos idos de 1981/1982, quando o Centro de Tecnologia Canavieira - CTC, sediado na cidade de Piracicaba, decidiu pioneiramente investir em mapeamentos de solos de suas associadas, os termos e nomes de solos usados à época soavam aos ouvidos dos usuários como nomes difíceis de pronunciar ou ainda mesmo de entender.

Os nomes dos solos criados pela antiga Comissão Nacional de Levantamentos de Solos, hoje encampada pela Embrapa, têm a finalidade de bem representar as classes de solos, segundo a sua gênese e morfologia. Mas, no CTC, esse universo de linguagem destinado a cientistas e pesquisadores precisava chegar ao campo de uma forma simples, sem perder sua raiz científica.

Iniciou-se, então, juntamente com o trabalho de mapeamento de solos, uma revolução em termos de aproximar do usuário final a nomenclatura dos diversos tipos de solos existentes, de uma forma clara e de fácil entendimento. Criou-se, então, uma “Chave de Classificação de Solos” única para todos os usuários, de tal forma que um tipo de solo fosse identificado por uma única e simples sigla.

A partir desse momento, as Cartas de Solo de todas as associadas estavam em uma base comum, o que propiciou a criação de um banco de dados de produção de cana-de-açúcar, hoje um dos mais completos do mundo. Em meados de 1992, abriu-se uma excepcional oportunidade de pesquisa quando o grupo de pesquisadores de solos do CTC iniciou estudos de interpretação dos mapas detalhados de solos para uso específico da cultura de cana-de açúcar, utilizando esse vasto banco de dados.

Esse trabalho resultou na primeira versão de um sistema de classificação de terras específico para a cultura da cana-de-açúcar no Brasil, denominado Ambientes de Produção. Os mais de 300 tipos de solos identificados nas associadas estão agora agrupados em cinco classes (Ambientes de Produção) ? A, B, C, D e E ? que facilitam o planejamento varietal e a comunicação entre planejadores das unidades associadas ao CTC.

Com isso, é possível alocar corretamente as variedades de cana-de-açúcar e obter o máximo aproveitamento do potencial genético delas. Esse conceito foi difundido nos VI e VII Seminários de Tecnologia Agronômica da Copersucar, em 1994 e 1997, respectivamente. O método CTC foi rapidamente adotado pelas unidades associadas e, alguns anos mais tarde, chegou às universidades e a outros institutos de pesquisa do estado de São Paulo e do Brasil, que reconheceram essa tecnologia. 

Na safra 2002/2003, iniciaram-se no CTC os estudos relacionando a produtividade em função, não apenas do solo, mas também do clima. Com base nesse estudo, na safra 2008/2009, foi criada a segunda geração dos Ambientes de Produção, denominado Ambientes de Produção Edafoclimáticos, que reuniu informações de solo e clima em uma mesma base.

As variedades produzidas pelo Programa de Melhoramento Genético do Centro de Tecnologia Canavieira foram selecionadas em ambientes de produção edafoclimáticos específicos para as principais regiões em que se produz ou se pretende produzir cana-de-açúcar no Brasil. Com esse nível tecnológico, as associadas do CTC tornam-se cada dia mais produtivas, pois as variedades de cana-de-açúcar são específicas para cada região edafoclimática.

O trabalho continua. Na safra 2008/2009, devido à grande demanda por essas informações estratégicas, pois o recurso terra vem se tornando escasso, o CTC estruturou uma equipe composta por oito engenheiros especialistas em solos, os quais atuam, em tempo integral, nas principais regiões canavieiras do País. Atualmente, a área prevista para a elaboração da Carta de Solos e Ambientes de Produção Edafoclimáticos, dentro desse programa, é de cerca de 4.500.000 ha, podendo ainda aumentar ao longo dos próximos anos, dependendo do crescimento do setor.

Os especialistas do CTC já mapearam cerca de 1,6 milhões de hectares de cana-de-açúcar, 700.000 somente nas duas últimas safras. As cartas de solos, juntamente com os índices tecnológicos das associadas, de várias safras, constituem-se no maior banco de dados do País, relacionando produtividade agrícola de variedades de cana-de-açúcar, índices tecnológicos, tipos de solos e Ambientes de Produção. Ponto para o CTC. Ponto para suas associadas, que, mais uma vez, saem na frente em termos de tecnologia agrícola no setor sucroenergético.