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Nilson Zaramella Boeta

Diretor Superintendente do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira

Op-AA-21

Etanol de segunda geração: o sonho e a realidade

Compor um painel que permitisse uma visão ampla dos esforços hoje empreendidos pelos principais participantes da corrida do etanol de segunda geração foi um dos desafios propostos pelo Ethanol Summit 2009. Para tanto, conseguimos reunir representantes de quatro expoentes mundiais da pesquisa em torno desse tema: Novozymes, British Petroleum, Monsanto e CTC - Centro de Tecnologia Canavieira.

Tive o prazer de atuar como mediador desse painel e tentei extrair dos participantes as informações mais relevantes acerca do andamento de pesquisas, sobretudo no tocante ao que se espera efetivamente da viabilização dessa tecnologia e de seus resultados.
Steen Riisgard, CEO da Novozymes, abriu o painel com uma exposição sobre os avanços que a empresa tem alcançado no desenvolvimento de enzimas apropriadas para a conversão de diversas biomassas.

A Novozymes trabalha mundialmente com diversas parcerias estratégicas formatadas, posicionando-se nos mercados-chave - Estados Unidos, Europa, China e Brasil, como um parceiro tecnológico para viabilizar o etanol de segunda geração a preços competitivos. Nos últimos anos, a Novozymes recebeu recursos do governo americano para acelerar suas pesquisas e tem desempenhado papel importante ao desenvolver micro-organismos que interfiram na separação eficiente dos diversos componentes da celulose, em curto intervalo de tempo.

Steen relatou que, no caso da celulose de milho, a Novozymes conseguirá reduzir para, aproximadamente, um terço a quantidade de enzimas necessárias para gerar um galão de etanol, já a partir de 2010. Isso possibilitará, por exemplo, que o custo do galão de etanol de biomassa seja comparável ao daquele que é produzido a partir do amido de milho, da ordem de US$ 2.


Ainda que tal valor não seja suficiente para assegurar competitividade ao etanol de milho no mercado brasileiro - pois os custos do etanol extraído da cana pelos métodos tradicionais são cerca de 30% menores, a Novozymes está confiante de que também ocorrerá em breve representativa redução de custos para a obtenção do etanol de segunda geração a partir da cana.

Para que isso se torne realidade, a empresa emprega em seus quadros quase 150 cientistas. No Brasil, por sinal, a Novozymes trabalha em parceria com o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, em busca da melhor combinação tecnológica. Essa associação tende a gerar, no futuro próximo, uma solução capaz de integrar o etanol de segunda geração à produção das unidades industriais atuantes no Brasil.

O segundo palestrante foi Ricardo Madureira, Presidente da Canavialis, empresa de pesquisas genéticas, que foi recentemente adquirida pela multinacional Monsanto. Ricardo discorreu sobre a história da Canavialis, ressaltando as áreas de atuação que deverão gerar vantagens competitivas a seus produtos nos próximos anos. Os principais destaques da apresentação foram variedades de cana resistentes ao estresse hídrico, que serão de grande valia para regiões como a Centro-Oeste, onde a expansão de novas usinas delimita a nova fronteira sucroalcooleira.

A disponibilidade de variedades com maior teor de sacarose será fundamental para o aumento de produtividade nos canaviais, segundo o executivo da Monsanto. Outra aposta da empresa está centrada no desenvolvimento de variedades resistentes a insetos - principalmente a broca da cana, que tem ligação com métodos transgênicos e o emprego do gene "Bt".

Outro objetivo da Canavialis é a geração de variedades com maior quantidade de fibras, pois, no futuro, com a viabilização do uso comercialmente competitivo da celulose para gerar etanol, poderemos, em tese, chegar a resultados viáveis sem que a sacarose funcione como matéria prima principal.
Mas, para isso, convém lembrar que um novo modelo de usina diferente do atual precisará ser criado, especificamente para processar essa cana cuja composição deverá conter até 25% a mais de fibras, diferentemente das canas “macias” hoje esmagadas em nossas moendas.

Ricardo acredita que, com a nova cana, entre outras tecnologias, em dez anos, poderemos contar com o dobro da produtividade hoje obtida nos canaviais brasileiros.
A BP, nascida British Petroleum, foi representada pelo seu Gerente de Tecnologia, Ian Dobson. O executivo apresentou, em suma, a visão de sua empresa sobre o uso de energias renováveis.

A BP é uma das maiores empresas do mundo na área de exploração, refino e distribuição de combustíveis de origem fóssil e também foi pioneira quanto a inserir em seu planejamento estratégico uma visão de negócios atrelada a energias alternativas, como a solar, a eólica e, principalmente, os biocombustíveis. A BP desenvolve parcerias com empresas e instituições, visando ao fomento dos combustíveis renováveis. Na Europa, por exemplo, trabalha junto com a DuPont nas pesquisas do biobutanol.

Segundo a BP, a vantagem do butanol é a de se constituir um combustível com valor energético próximo ao da gasolina, também facilmente transportável por meio de dutos e igualmente funcional quanto à possibilidade de misturar-se em qualquer proporção à gasolina. Esse último atributo do butanol, de acordo com a BP, faz com que seu uso seja viabilizado em países nos quais o etanol ainda não chegou, como os do hemisfério Norte.

A BP, por fim, disse acreditar que o butanol também poderá encontrar seu lugar na matriz de combustíveis renováveis do Brasil, no futuro. E, por falar no mercado doméstico, a BP já fez aqui seus primeiros investimentos na produção de etanol, com a aquisição de 50% de participação acionária na usina Tropical BioEnergia, no município de Edeia, em Goiás, originalmente em parceria com os grupos Maeda e Santelisa Vale.

Com a produção anual da ordem de 435 milhões de litros de etanol em duas unidades industriais, a BP, de cara, dá uma clara demonstração de sua disposição quanto a investir no setor. Ao mesmo tempo, reforça a nossa visão em relação à confiança das grandes empresas no potencial de mercado para as energias renováveis.

Pelo entusiasmo dos palestrantes e da plateia, percebeu-se um grande interesse nos assuntos debatidos nesse painel. Ficou evidente para mim, como moderador dos trabalhos, que houve grandes avanços no mercado mundial de energias renováveis de 2007 - quando ocorreu o primeiro Ethanol Summit, para cá. Na próxima edição do evento, marcada para 2011, é muito provável que já tenhamos resultados concretos a partir das primeiras plantas de etanol celulósico em operação no mundo, em larga escala.