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Fernando Eduardo Amado Tersi

Diretor Agroindustrial da Cerradinho Bioenergia

Op-AA-49

A importância da cogeração de energia
Quando recebi o convite para contribuir com este artigo, a primeira pergunta que me ocorreu foi: o que é mais importante para definir o sucesso econômico e perpetuidade de uma usina? Muitos responderiam que os pontos que impactam esse sucesso são as condições climáticas da região em que está inserida, o tipo de solo, as variedades e a nutrição da cana, o montante do capital empregado em equipamentos agrícolas e industriais ou a liquidez do caixa.

Depois de 25 anos de atuação no agronegócio, tenho certeza de que o mais importante e o que define o sucesso e a perenidade de uma usina ou um empreendimento agrícola é o grau de comprometimento, a capacidade técnica e analítica das pessoas que trabalham na empresa. As companhias que atingem o sucesso e apresentam grande competitividade são aquelas que têm profissionais com a maior capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças de paradigmas técnicos ou mercadológicos, buscando a inovação e a melhoria em tudo que fazem.

São empresas com funcionários que acreditam que é sempre possível fazer melhor e de forma mais lucrativa as atividades do dia a dia. O trabalho individual, a responsabilização e o comprometimento de cada colaborador em acompanhar a evolução das corporações atuais impactam diretamente o resultado operacional, na forma de lucro/tonelada de cana processada.

 
Temos acompanhado também, nos últimos 10 anos, importantes mudanças tecnológicas na área de produção e na exportação de energia no setor sucroenergético para atender às demandas do mercado. As atividades de uma unidade sucroenergética podem ser divididas em produção agrícola e industrial, sendo que uma parte significativa dos resultados econômicos se inicia na área agrícola. A produtividade agrícola é medida pela capacidade de produção de tonelada de cana e de açúcar por hectare, sendo um dos principais fatores críticos de sucesso econômico para a atividade.
 
Hoje, após elevados investimentos pelas unidades industriais em cogeração de energia, além da necessidade da manutenção de alta performance de produção de açúcar a um baixo custo por hectare, é necessário obter também elevada produção de biomassa de cana por hectare. 
 


Existem usinas produzindo – de forma sustentável ao longo das safras – mais de 100 toneladas de cana por hectare, 13 toneladas de açúcar por hectare e colhendo e transportando a produção com até 13% de impureza vegetal, ante os 7% de impureza vegetal realizados anteriormente, o que possibilita a obtenção de mais de 30 toneladas de biomassa de cana por hectare. 
O bagaço, que nada mais é que o colmo da cana após a extração, mais a impureza vegetal contida na planta, representada pelas folhas e ponteiros, que vem com a colheita mecanizada, são fundamentais para a produção de energia. 
 
A impureza vegetal, que, em alta porcentagem, pode dificultar a extração do açúcar nas moendas ou difusores, hoje poderia ser novamente batizada como riqueza vegetal, pois, através dessa biomassa da cana adicional, pode-se incrementar a produção de energia nas caldeiras para utilização interna na indústria e exportação de eventual excedente no sistema energético nacional. 
 
A evolução da tecnologia disponível na área de produção de energia tem acontecido num ritmo bastante acelerado. Novos modelos de caldeiras, com a opção de maior pressão, uso de leito fluidizado e condensadores evaporativos têm apresentado maior eficiência em transformar a queima da biomassa em energia. A utilização combinada de novas caldeiras com a aquisição e a condução estratégica de turbinas de contrapressão e condensação, combinadas de acordo com a época da safra ou entressafra, também aumentou muito a taxa de conversão de bagaço em energia. 
 
Até alguns anos atrás, era possível obter um excedente de energia para exportação e venda de aproximadamente 75 MWh-1 para cada mil toneladas de cana processada, o que poderia ser considerado de boa eficiência. Hoje, existem empresas que conseguem realizar até 100 MWh-1 com o mesmo volume de cana; isso representa uma evolução de mais de 30% na eficiência de conversão da energia contida na biomassa. 
 
Logicamente, a utilização desses novos equipamentos demanda uma análise específica da existência de retorno financeiro do alto volume do investimento necessário, que, em grande parte, somente se viabiliza com preços de energia acima de R$ 200 por MWh-1, além de custo de biomassa e custos internos compatíveis com a atividade. Outra modificação importante no sistema de gestão das usinas foi a necessidade de criação de áreas específicas para a manutenção e a supervisão da unidade geradora de energia, pois a área exige mão de obra bastante qualificada e especializada para a realização desses trabalhos.

Na área de manutenção de caldeiras, por exemplo, era muito comum que os equipamentos ficassem até 45 dias sem operação para que fossem revisados; hoje, muitas unidades industriais realizam esse procedimento em 20 dias ou menos. 
O mesmo conceito de manutenção enxuta, de forma a se manter a atividade da caldeira e da usina por mais tempo, também já é realidade em muitas empresas. Algumas, inclusive, funcionam por até 320 dias por ano, utilizando, cada vez mais e de forma mais eficiente, os ativos biológicos, industriais e automotivos. Tal medida contribui para a melhoria da performance econômica de resultados. 
 
A diversificação nas fontes de energia que um país utiliza é muito importante. Atento a esse cenário, nos últimos leilões de energia de longo prazo, o governo brasileiro tem incentivado o emprego de fontes alternativas a partir de biomassa. Esse apoio é fundamental para dar segurança aos empresários na análise de viabilidade dos projetos de produção de energia, além da disponibilização de linhas de crédito para dar sustentação à parte dos investimentos. O setor sucroenergético está preparado para continuar contribuindo para o fornecimento de energia renovável para a sociedade brasileira, criando valor, empregos, novas tecnologias, formando profissionais e gerando renda para o desenvolvimento sustentável do Brasil.