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Plinio Mário Nastari

Presidente da Datagro

Op-AA-23

A internacionalização ganhou força em 2009

Em 2005, o tema da conferência internacional da Datagro, realizada todo mês de outubro, foi a internacionalização da produção e uso do etanol. Antevíamos que o etanol estava entrando, definitivamente, no universo dos combustíveis líquidos, deixando para trás a percepção de que se tratava de uma iniciativa exótica, peculiar do Brasil e dos EUA.

Um interesse crescente pelo combustível limpo e renovável levaria não apenas à expansão do seu uso além das fronteiras tradicionais, mas também traria um interesse internacional pelo controle dos ativos de produção. Um interesse que deveria incluir, no final desse processo, as principais empresas de energia do mundo.

Nos últimos três a quatro anos, ficamos com a impressão de que esse processo evoluiu num ritmo inferior ao considerado possível ou provável. Foram a crise de preços de 2007 e 2008 e a crise de liquidez iniciada em agosto de 2008, atingindo em cheio a indústria brasileira até meados de 2009, que serviram de catalisadores do processo de internacionalização do controle da indústria brasileira.

Esse processo pode ser quantificado pelos levantamentos da Datagro sobre a proporção da cana processada para fins industriais que é controlada por empresas de capital estrangeiro. Em 2008, esse percentual era de 12,4%. Em 2009, evoluiu para 18,4%, e, em 2010, até fevereiro, com a associação entre Cosan e Shell, o percentual saltou para 22,9%. Não é pouco.

Considerando que, na safra 2009/10, foram processadas no Brasil 590 milhões de toneladas de cana, isso significa que cerca de 135 milhões de toneladas de processamento já são controladas pelo capital externo. A Tailândia, segundo maior exportador de açúcar, depois do Brasil, deve processar em 2009/10 cerca de 70 milhões de toneladas. Portanto, o controle estrangeiro no Brasil equivale a praticamente o dobro de toda a produção tailandesa. 

É importante compreender por que isso ocorre. Em primeiro lugar, a entrada de capital externo não ocorreria se a intervenção do governo não houvesse caído para um nível considerado mínimo. De um ambiente em que o governo determinava quotas de produção e de comercialização, e também os preços da cana e dos produtos finais, açúcar e etanol, o Brasil evoluiu para um sistema praticamente todo liberado.

Exceção feita à capacidade do governo de alterar a mistura de etanol anidro adicionado à gasolina, na faixa entre 20% e 25%, e a determinação do preço da gasolina nas refinarias, que, via de regra, não acompanha seu preço internacional. O segundo elemento que justifica o investimento externo é a existência de um dinâmico mercado interno, que cria uma importante base de demanda local, e também dá suporte à manutenção e ao progresso de igualmente relevantes indústrias de bens de capital e setor de serviços.

O terceiro elemento é a perspectiva de ampliação de mercados de exportação, não apenas de açúcar, mas também de etanol. Um quarto provável elemento de relevância é a percepção de que o Brasil possui uma indústria que, embora já considerada competitiva, ainda não está otimizada, tendo à frente uma enorme capacidade de redução de custos no futuro pelo aproveitamento econômico do bagaço e palhas da cana.

E, finalmente, a consciência de que o processo de diversificação iniciado com a produção mais intensiva de etanol há 35 anos ainda pode evoluir muito na direção não só da cogeração ou do etanol de celulose, mas também da transformação da sacarose. Não faltam, portanto, motivos para que a internacionalização da propriedade dos ativos de produção caminhe a passos largos.

Dentre os cinco maiores grupos produtores, quatro são hoje de capital estrangeiro, ou tem sua participação. A presença de empresas de energia, iniciada com os investimentos da British Petroleum na produção de etanol, agora fica reforçada definitivamente com a associação entre Cosan e Shell. E certamente outras virão. É uma demonstração de que o etanol, iniciativa pioneira do Brasil, em teste desde 1925 e incrementada a partir da concepção e criação do Proálcool em 1975, entrou definitivamente no mundo dos combustíveis líquidos.