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Alexandre Enrico Silva Figliolino

Diretor Comercial do Itaú BBA

Op-AA-34

Não podemos perder mais um minuto

Todos nós que de alguma forma estamos envolvidos com o setor sucroenergético sentimos, neste momento, uma enorme frustração, que só não é maior porque a enorme crise agrícola e de crescimento pela qual passou o setor nos últimos anos não permitiria, de qualquer forma, maiores saltos.

Uma freada de arrumação era até necessária. De um lado, os problemas climáticos e envelhecimento dos canaviais e, de outro, os desafios proporcionados, por exemplo, pela acelerada mecanização de plantio e colheita causaram uma queda brutal dos yields ton/ha e ATR/ton de cana, fazendo com que as médias de ATR/ha no Centro-Sul despencassem de 12 ton/ha para um número abaixo de 9 ton/ha em 2011, implicando enormes aumentos de custo.

Em função disso, toda a energia das empresas foi voltada nos últimos dois anos para retomar, antes de mais nada, os índices normais de produtividade perdidos. Foi prioridade, também, tratar dos problemas causados pelo rápido crescimento que vários grupos tiveram num passado recente, estando essas empresas totalmente focadas em consolidar suas operações e atingir elevados padrões de competitividade, num setor em que produzir com baixo custo é vital para a sobrevivência.

Felizmente, os elevados preços do açúcar nos últimos três anos permitiram às empresas que têm alta participação desse produto no mix de produção, geração de caixa suficiente para fazer essa transição de forma sustentável, mantendo alavancagem financeira em níveis razoáveis, já que a produção de etanol tornou-se pouco rentável e até antieconômica.

A cogeração de biomassa para aqueles grupos que investiram e venderam sua energia em leilões antes de 2008, em contratos de longo prazo, tem sido também uma importante fonte de geração de caixa. Já nos últimos anos, como o governo deu total prioridade à modicidade tarifária, a bioeletricidade se inviabilizou, pois preços em torno de R$ 100,00/Mwh não oferecem retorno aos projetos.

Daqui para frente, para que o setor sucroenergético volte a crescer, tem de entrar numa fase completamente diferente da que estamos vivendo hoje, sob pena de que, se nada relevante acontecer, ele irá definhar e voltar a um tamanho muito aquém das suas potencialidades, fazendo com que o Brasil deixe de ocupar o posto de grande produtor de energia renovável a partir dessa planta maravilhosa chamada cana-de-açúcar.

O setor privado está correndo atrás do prejuízo, implementando as medidas necessárias para reduzir os custos e produzir da forma mais competitiva possível.

Isso envolve aprimoramentos de gestão de toda ordem, adoção de novas tecnologias, melhoramento genético convencional e modificação genética que permitirão a introdução de novas variedades, mais produtivas e adaptadas aos diferentes ambientes de produção, onde hoje a cultura de cana-de-açúcar se desenvolve, etanol celulósico, aproveitamento de palha, maior qualificação de mão de obra, etc.

Essas evoluções mostrarão resultados no curto, médio, mas as mais impactantes somente a longo prazo, e temos que ter fôlego para chegar até lá. Esse fôlego, seguramente, dependerá do diálogo sério, responsável, transparente e construtivo das lideranças do setor com o governo, capaz de definir medidas corretas – as chamadas políticas públicas –, que sinalizem de forma definitiva e com um horizonte de longo prazo o lugar do etanol na matriz de combustíveis líquidos e da cogeração de biomassa na matriz energética.

Um setor como esse, de capital intensivo, cujos investimentos são de longo prazo de maturação, não pode conviver com insegurança e falta de previsibilidade.

Sem dúvida, a demora na sucessão da presidência executiva da Unica, principal entidade do setor, prejudicou bastante o diálogo entre setor e governo, bem como o encaminhamento de soluções. O consolo é que essa demora propiciou encontrar um nome do mais alto nível para o cargo.

A dra. Elizabeth Farina, por suas qualidades, é a pessoa certa, no lugar certo, no momento certo. Temos uma grande esperança de que ela saberá lidar da melhor forma possível com todas as dificuldades desse momento extremamente complexo em que vivemos atualmente.

Saberá, com sua maestria, achar os pontos convergentes de um quadro de associados da Unica, bem mais heterogêneo que antes, pois, hoje, convivem nessa entidade produtores puros de todos os portes, tradings, petroleiras, etc., com visões nem sempre comuns sobre alguns assuntos vitais.

Saberá, também, graças à sua vivência profissional, com carreira acadêmica brilhante, conhecimento que possui das diversas cadeias do agronegócio e a experiência de governo pelos anos que passou à frente do CADE, ajudar sobremaneira o estabelecimento de um diálogo construtivo entre setor e governo.

O momento é agora, não podemos perder mais um minuto, se realmente quisermos que o setor volte a ter uma rota de crescimento vigorosa e sustentável. Se os diálogos tiverem sucesso, continuaremos a ser o principal produtor de açúcar do mundo e responsável por 50% do trading mundial dessa commodity, gerando, só nesse produto, saldo comercial bem superior a US$ 10 bilhões.

Teremos o etanol anidro e hidratado com um lugar importante na matriz de combustíveis líquidos no Brasil, além de conseguir exportar volumes expressivos para os EUA e crescentes para Europa e Ásia. Teremos, também, na biomassa de cana-de-açúcar, uma importante fonte alternativa e renovável de energia elétrica, altamente complementar com nossas hidroelétricas a fio dágua.

E o que é mais importante: gerar emprego, renda e perspectivas de melhoria de qualidade de vida para um enorme contingente de brasileiros, nos lugares mais longínquos, onde as oportunidades de emprego são escassas, colaborando para interiorizar o desenvolvimento com qualidade.

Estão aí para provar isso os greenfields, frutos do último ciclo de crescimento por que passou o setor, que modificaram sobremaneira, e de forma muito positiva, a realidade de dezenas de cidades.

Vamos tentar novamente reencontrar o bom caminho em que as empresas do setor retomem a confiança perdida e encontrem as condições para crescer de forma sustentável e em que a Petrobras, nossa mais importante empresa, volte a gerar caixa suficiente para fazer frente ao seu enorme plano de investimentos, com vistas a extrair o petróleo do Pré-sal.