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Hermann Paulo Hoffmann

Coordenador do Programa de Melhoramento Genético da Cana da UFSCar

Op-AA-17

Melhoramento genético e as variedades de cana-de-açúcar

Entre as tecnologias desenvolvidas para a prática da exploração comercial da cultura da cana-de-açúcar, são as novas variedades que despertam maior interesse. Elas mostram facilmente suas características agroindustriais e, quando comparadas entre si, permitem estimar os ganhos de produtividade relativos. Na atualidade, são quatro os programas de melhoramento de cana-de-açúcar que atuam no país: IAC, CTC, RB/Ridesa e CanaVialis.

Embora todos dependam de recursos do setor produtivo, o primeiro é estadual, o segundo é privado e do setor produtivo, o terceiro federal e o quarto, mais recente, é privado e sem participação do setor produtivo no seu capital. A diversidade, quanto à origem dessas instituições, propicia estabilidade ao setor sucroalcooleiro; a obtenção de novas variedades é um trabalho de longa duração e a continuidade é muito importante.  

O setor produtivo conta hoje, portanto, com a sustentação de um trabalho intenso, na obtenção de novas variedades; o investimento em tecnologia na área leva cerca de dez anos para a obtenção de resultados. As condições climáticas na região Centro-Sul do país, principalmente, estão entre as mais favoráveis, quando comparada com outros países produtores.


O investimento em pesquisa e desenvolvimento, somado às condições climáticas altamente favoráveis, mantêm o Brasil em uma posição de destaque na exploração da cultura, bem como referência mundial em biocombustíveis. A introdução de uma nova variedade não implica em qualquer mudança no sistema de produção em prática e sempre é uma promessa, ou seja, uma esperança na busca dos ganhos crescentes de produtividade. Essa variedade surge como mais uma alternativa àquelas existentes, e deverá contribuir com maiores ganhos de produtividade.

Além disso,  a disponibilidade de novas variedades para o setor produtivo garante o plantio da cana nos mais diversos ambientes de produção, mesmo em ambientes restritivos, com a correta adequação do sistema de produção. Uma outra grande contribuição foi a ampliação do período de moagem, com a antecipação do início da safra, graças às variedades superprecoces, como observamos no gráfico “Evolução no Brasil da produtividade entre 1975 e 2006”.

A continuidade do incremento destes ganhos é um grande desafio. Não podemos esperar ganhos muito expressivos com a introdução de novas variedades no futuro próximo, pois o patamar atual de produtividade está em um nível bem elevado; as diferenças comparativas são, hoje, menores entre as novas liberações e as atuais variedades cultivadas, como mostra o quadro “Incremento de produtividade entre variedades e clone RB precoces”.

O maior incremento no passado recente, entre variedades precoces, por exemplo, ocorreu quando da substituição da NA56-79, devido, principalmente, à doença do carvão. A NA56-79, uma das principais variedades do passado, por ter proporcionado um significativo incremento do teor de sacarose, quando comparada às variedades cultivadas na época, chegou a ocupar 45% da área cultivada no estado de São Paulo, nos anos 80; a ferrugem também passou a dificultar o seu cultivo.

Enquanto a cana-de-açúcar era cultivada nas áreas tradicionais, as diferenças entre ambientes não eram tão significativas. Porém, com a ampliação da cultura para novas áreas, a alocação das variedades nos ambientes adequados tornou-se determinante para a obtenção de bons resultados. O norte do Paraná é um eixo da diferenciação de ambiente, pois a pressão neste estado é muito maior para várias doenças, como: carvão, mosaico e ferrugem.

Por outro lado, a maior precipitação na safra favorece a brotação mas, todavia, interfere negativamente  no acúmulo de sacarose. Na África do Sul, as diferenças entre os ambientes das regiões produtoras são tão marcantes que para certas regiões são liberadas variedades com restrição para o carvão.

Nos programas de melhoramento, muitos clones com rendimentos superiores são descartados, por suscetibilidade a doenças. O rigor para muitos caracteres dificulta muito a obtenção de novas variedades.

A busca por uma supervariedade, por excesso de rigor, pode levar a lugar nenhum. O manejo varietal, com a exploração da diversidade de ambientes, é uma das ferramentas para contornar eventuais limitações de variedades.

A especificidade dos ambientes, decorrente da dimensão da cultura no país, torna necessária a intensa exploração da interação genótipo x ambiente já nas fases iniciais de seleção dos programas de melhoramento.

As variedades ecléticas continuarão surgindo nos programas de melhoramento e sendo cultivadas comercialmente, o que não descarta que tais variedades venham a se comportar com pequenas diferenças, em ambientes distintos. A uniformidade de conhecimento do manejo varietal entre os técnicos das unidades produtivas é uma realidade; nota-se que os conceitos gerados, como, por exemplo, a alocação das variedades, levando-se em consideração o ambiente de produção e a época de maturação, são aplicados corretamente e proporcionam ganhos nos rendimentos obtidos.  

É importante também analisar a adoção nas áreas comerciais das variedades liberadas; o ideal seria que todas elas viessem participar comercialmente das áreas cultivadas. Considerando as variedades RB liberadas pela UFSCar, 40% delas constam no Censo Varietal 2007, entre as mais plantadas. Há, atualmente, um grupo considerável de variedades liberadas para setor produtivo. Finalmente, os programas de melhoramento clássico precisam também estar ligados às pesquisas em biotecnologia, marcadores moleculares e transgenia. Neste contexto, os marcadores moleculares, têm se mostrado como uma das ferramentas mais promissoras para auxiliar o melhoramento clássico.