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Rogério Almeida Manso da Costa Reis

Vice-presidente da Brenco

Op-AA-18

O projeto para se alcançar 10% da produção brasileira de etanol

Embora também atenda ao mercado brasileiro, o projeto da Brenco é voltado, predominantemente, para o mercado internacional. Avaliaremos, assim, a internacionalização do etanol, sob a óptica do empreendedor, apresentando uma visão geral da questão, para depois entrarmos no projeto específico. O primeiro contexto diz respeito ao movimento do etanol, por sua condição de alternativa mais limpa e às questões que são, freqüentemente, associadas ao fator do petróleo.

Comecemos por aí. Eu não advogo o fim do petróleo. Prefiro expressar mais a questão dos problemas relativos à concentração de reserva em poucos players e, notadamente, em países com características de instabilidade. Esse eu considero um problema bem maior do que o esgotamento da reserva em si. Outra questão, é que o petróleo barato está acabando, com o declínio das reservas de custo mais baixo de exploração. As reservas estão localizadas, cada vez mais, em regiões inóspitas e profundas, como os desafios que existem na frente do pré-sal. Esse problema está acontecendo em todos os países do mundo.




A conseqüência desse ambiente tem sido o aumento da mistura de etanol na gasolina. Os Estados Unidos têm um fator visível, o Canadá está entrando com mandado. Na Europa, a perspectiva é de 10% e, na Ásia, vários países estão tomando iniciativas dentro de programas de redução de gases de efeito estufa. O que podemos observar é que existem movimentos em diversos países, na direção da mistura do etanol.

Olhando projeções a longo prazo, os países estão, de uma maneira geral, aumentando a sua produção e consumo. O importante é olhar com perspectiva. Temos o Brasil tornando-se exportador e Estados Unidos, China, União Européia, Japão e Índia tendendo a se consolidarem como importadores; ou seja, a xportação do Brasil está caminhando nesta direção. O Brasil, obviamente, tem uma liderança que é fruto dos 30 anos de experiência com o etanol.

Temos as condições favoráveis para produção de cana, as vantagens sobre outros países que produzem o etanol a partir de outras culturas, uma matriz energética que é um exemplo para o mundo, um crescimento contínuo do mercado interno - que estimula o investimento, e um mercado demandante pela energia elétrica a partir do bagaço de cana, o que complementa ou estabiliza a receita das usinas.

O Brasil trabalha com uma cultura que é mais eficiente que a dos competidores. Temos uma relação energética da cana superior ao milho, ao trigo e à beterraba; um rendimento por hectare maior que qualquer outro produto concorrente; um custo de produção competitivo em relação a todas as demais culturas; e um ganho de produtividade crescente e contínuo.

Além de tudo isso, o Brasil tem uma área agricultável que permite a expansão de culturas para biocombustíveis. Hoje, o Brasil, quando comparado ao resto do mundo, tem uma vantagem flagrante. Temos uma segura perspectiva de aumento de produção, saindo de pouco menos de 20 milhões de m³ em 2006, para algo próximo a 60 milhões de m³ em 2020.


Estamos vivendo um consolidado aumento da demanda com o mercado do combustível flex-fuel e é importante mostrar, já que falamos de internacionalização, que estamos saindo de uma exportação marginal, na faixa entre 2 e 3 milhões de m³ por ano, para uma exportação que pode chegar a 15 ou, quem sabe, 20 milhões de m³ por ano.

Aqui, vale a pena uma parada para reflexão. O Brasil pode se posicionar, de fato, como um player mundial, entretanto existe uma lição de casa a ser feita. Somos um modelo de nacionalização. Como um programa que tinha tudo para ser regional, dado o foco do grande mercado e área de produção em São Paulo e costa do nordeste, conseguiu se transformar em um mercado nacional? Qualquer bomba de posto do país tem álcool hidratado e a mistura de álcool anidro-gasolina. Do ponto de vista da internacionalização, queremos vender um modelo para outros países serem produtores e exportadores, mas, antes, vamos fazer a nossa avaliação. Estamos fazendo o nosso dever de casa? Quais são os problemas que temos aqui, em relação à internacionalização?

Dualidade de produção: Primeiro, o mercado ainda está fortemente influenciado pelo açúcar, e existem incertezas em relação à oferta de etanol para o mercado internacional. Normalmente, antes do início da safra, tem-se a discussão de qual será a projeção de preços do açúcar para o ano, gerando a dúvida, até o último momento, se a safra será açucareira ou alcooleira. É uma característica do mercado, e é um ponto positivo ter a possibilidade de escolha entre a produção de açúcar e do etanol. Quando falamos em internacionalização do mercado de etanol, precisamos lidar com a questão dos mecanismos que possam dar conforto, previsibilidade e trazer planejamento para dentro desse sistema.

Infra-estrutura: Temos, hoje, uma infra-estrutura logística precária da usina ao destino, inclusive fora do país. Temos problema no carregamento da usina até a base, no transporte da base até o porto, no próprio porto e no transporte do porto até o ponto de destino; sem falar das dificuldades nos portos de destino, pois o mundo não foi concebido para trabalhar regularmente com esse produto. Qualquer projeto com interesse no mercado internacional tem que administrar, essencialmente, como toda commodity, três características: custo, confiabilidade e sustentabilidade.

Barreiras Tarifárias: Temos um problema enorme de barreiras tarifárias e de técnicas em todos os mercados. Conheço poucos mercados que sejam tão complexos, pelo menos na área de energia. Não é o problema apenas das barreiras tarifárias, mas a combinação das barreiras tarifárias e técnicas.

Por exemplo: apesar da Brenco não ser a companhia que está produzindo hoje, estamos fazendo um trabalho que chamamos de pré-marketing - a comercialização de produtos de terceiros para assegurar o desenvolvimento de canais logísticos de distribuição que funcionem adequadamente. Fomos convidados por uma das grandes companhias compradoras na Europa para um contrato de longo prazo.



Preparando a nossa cotação, percebemos que havia uma cláusula de sustentabilidade, em que a companhia comprometer-se-ia em atender aos requisitos de sustentabilidade do país recebedor do produto. Como os requisitos não estavam detalhados no pedido de cotação, liguei para o trader, pedindo que me enviasse os tais requisitos. Ele respondeu que eles ainda não existiam, mas que quando existissem, teríamos que atendê-los. Notem a dificuldade para se criar uma barreira técnica, a ponto de, praticamente, termos que adivinhar qual vai ser o requisito que virá pela frente.

Contratação: Com relação à contratação - uma parte importante do processo de venda e de abertura do mercado, observamos que ela é concentrada em contratos de prazos de um ano ou menos. Existem muitas negociações spot e, mesmo no mercado internacional que busca uma referência do mercado spot, o que encontramos são mercados de baixa liquidez. Tenho acompanhado, dia-a-dia, as negociações feitas, por exemplo, na Europa, e chegamos a diferenças de 5% a 10% em relação aquilo que o mercado está, de fato, negociando, e o que é representado pelos índices, por conta da baixa liquidez.

Às vezes, ficamos até uma semana prorrogando negociações extremamente influenciadas por fatores de mercado não tão objetivos. Dentro desse contexto, nasceu uma companhia, com a pretensão de ser um fator importante nesse processo de transformar em algo concreto a possibilidade do mercado brasileiro ser um grande supridor do mercado mundial.

A primeira idéia para que isso aconteça é que, para se entrar nesse mercado, é necessário uma escala mundial. É preciso ter visibilidade e estar no radar, se quisermos ter um papel importante ou de transformação. A escala mundial dentro do setor foi definida como um projeto de 1 bilhão de galões. Essa escala deve nos ajudar a sermos efetivos nos três elementos que citamos: conseguir um custo competitivo, ter influência, principalmente na cadeia logística, para lidar com a questão da confiabilidade e construir um sistema com sustentabilidade.

Assim nasceu, há cerca de dois anos, o conceito da Brenco. A companhia foi incorporada há um ano, para a construção de pólos de produção com a moagem de 44 milhões de toneladas e a produção de 1 bilhão de galões de etanol por ano, gerando 600 megawatts, com um investimento da ordem de US$ 3 milhões e buscando um market share, que na sua maturidade, tivesse uma representatividade dentro da produção brasileira de 10%, em 2015.


Desenvolvemos um sistema logístico, através de uma transportadora recém-criada, a Centro-Sul Transportadora Dutoviária, onde pretendemos investir em uma infra-estrutura logística para escoamento, não só da nossa produção, mas também disponibilizada a terceiros que estejam dentro da área de influência desse duto. Além disso, temos o desenvolvimento de atividades de comercialização de etanol, auxiliando a abertura de mercados e incentivo à demanda. Para que esse projeto vá em frente, vejo a necessidade de ações em alguns níveis. Em nível de governo, muito importante a ser ampliado, por conta de todas as barreiras que já citamos anteriormente. Em nível institucional, com empresas organizadas, de uma forma coletiva, buscando levar um papel de indústria para o mundo inteiro. E o trabalho de caixeiro viajante, que é pegar um avião para o exterior, bater na porta das empresas, em algumas, ser recebido, em outras não, contar histórias, negociar preços e detalhes de contrato e ficar nessa negociação até conseguir viabilizar a operação.

A proposta da Brenco é ser um elemento importante e de parceria nesse setor. Definimos 8 estratégias para o modelo que acreditamos ser um projeto de escala mundial, muitas delas já em implementação pela indústria. Acreditamos que a companhia é diferenciada pela integração dessas 8 estratégias e, como é um projeto que nasce em Greenfield, ele foi buscar, dentro do próprio setor, as melhores estratégias que fizessem sentido dentro desse modelo.

Desenvolvimento de projetos Greenfield: Primeiro, é necessário estruturar os projetos Greenfield, ou seja, buscar em um mercado específico, como o mercado de energia, dentro dos parâmetros custo-confiabilidade-sustentabilidade, para construir um modelo, na escala, com a integração e o foco que precisamos.

Formação de pólos de usinas: Só trabalhamos em lugares onde possamos integrar pólos de usinas. Por isso, estamos desenvolvendo 3 pólos, de maneira que se crie uma massa crítica no desenvolvimento, não só na área agroindustrial, mas também que possamos ter uma proposta para a logística, que mude o sistema que funcionou até hoje, com uma forma de crescimento gradativo, sem poder fazer investimentos, por não ter no local a massa crítica do volume necessário disponível.

O foco na energia renovável: Essa questão é um entendimento que o agente produtor de açúcar e álcool já tem, e que já faz o trabalho muito bem dentro da indústria. Vamos criar um agente diferenciado, que busque fazer o outro papel e que possa dar, através desse foco na energia renovável, um serviço diferenciado para um novo mercado.

A produção em grande escala e com baixo custo: Estes são dois assuntos extremamente associados. A forma como buscamos abordar isso é fazendo projetos modulados. Todas as 10 usinas que estamos construindo terão o mesmo módulo, de maneira a levar para a indústria uma proposta de parceria, de se criar eficiência também nesse nível, à medida que se replique o mesmo projeto n vezes

A integração da cadeia logística: Todas as vantagens competitivas do Brasil - da cana, produtividade, solos, etc, não podem ficar só aqui, têm que chegar à porta do consumidor, porque é lá que a competição dá-se. Gosto de citar o professor José Carlos Moreira Teixeira, que diz o seguinte sobre os combustíveis: “É um produto que ninguém vê. Falar em diferenciação é muito difícil. O produto entra no seu tanque e você não vê. E ainda tem uma coisa pior: você não acorda de manhã pensando que vai parar hoje no posto de combustível para abastecer seu carro porque está com vontade. Você pode acordar querendo comprar um toca-discos, um Ipod ou um celular. Mas, você pára com má vontade no posto e ainda não vê o produto que está sendo colocado. Esse produto será julgado justamente por esse custo; e aí a necessidade de se ter uma cadeia integrada para garantir custo e confiabilidade”.

Prática de Governança e Sustentabilidade: Quando se trata de um projeto de Bilhão, você precisa dar ao investidor o conforto de que o dinheiro está sendo aplicado de acordo com o combinado, seguindo todas as regras de boas práticas do mercado. Um projeto assim não se faz sem risco e é preciso ser milimétrico, buscando eficiência em cada coisa, inclusive, na captação de recursos. A governança, como a sustentabilidade, são fatores essenciais.

O projeto da Brenco está sendo implantado no Pólo Alto Taquari-Mineiros, onde estamos com cinco usinas em desenvolvimento. Duas partem na safra do ano que vem, duas na de 2010 e uma na de 2011. Outras três começaram a ser desenvolvidas em novembro, no Pólo Paranaíba-Itajá, onde pretendemos colocar a primeira usina em operação em 2010 e, depois, as outras, na seqüência.


Na safra 2009/10 moeremos 3,6 milhões de toneladas de cana, 12 milhões na seguinte, 24 milhões em 2011/12, chegando na safra 2015/16 com 44 milhões de toneladas de cana moída. Em 2009/10 cogeraremos 56 MW de energia, 191 e 376 nos anos seguintes, atingindo, em 2015/16, um excedente da ordem de 689 MW. Na safra 2009/2010, produziremos 313 mil m³ de etanol, 1.061 na safra seguinte, 2.087 em 2011/12, alcançando na safra 2015/16 o patamar de 3.826 mil m³, ou seja, 1 bilhão de galões de etanol.

O gráfico Produção em Grande Escala utiliza uma amostra representativa do setor, apresentando a distribuição da produção entre etanol e açúcar. Como podemos ver, a média típica do setor é de plantas menores, algumas com a produção dedicada ao álcool, mas de até 150 mil m³ de produção por ano. O que estamos fazendo são plantas de grande escala, para cada módulo de moagem de 3,7 milhões de toneladas de cana e uma produção de 340 mil m³ por ano.

Multiplicando esses valores por 10 unidades, entendemos como vamos buscar aqueles 10% de participação dentro do setor. Nesse horizonte, tornamo-nos, no caminho, um dos maiores exportadores do mundo, dado o foco na exportação. O projeto dá grande importância ao quesito logística, adequada do ponto de vista de custo, confiabilidade e sustentabilidade, para um projeto de competitividade em escala mundial.

Estamos concentrados em dois Pólos, com volume para justificar a solução dutoviária. O duto de 1.120 km está dentro do cronograma para operação em julho de 2011, no trecho entre São José do Rio Preto e Paulínia. Está planejado para transportar 6 milhões de m³, mas, deixaria um pouco do produto em Paulínia e seguiria para Santos, exportando 4 milhões de m³. Esse projeto já está em desenvolvimento há cerca de um ano. No início de 2008, iniciamos o processo de licenciamento no Ibama e na ANP.

Na área de engenharia, estamos relativamente avançados para todo o trecho Alto Taquari-Paulínia e estamos iniciando a parte da engenharia no trecho Paulínia-Santos, definindo, principalmente, questões como o contorno da cidade de São Paulo e a chegada ao terminal em Santos. Em suma, o Brasil está em primeiro lugar, com grande sucesso na nacionalização.

O etanol é uma referência para outros países e tem um potencial produtivo diferenciado. Para alcançarmos a internacionalização, temos que construir uma plataforma de exportação eficiente, competitiva e, principalmente, que assegure a produção. Precisamos ter investimentos que estejam associados à garantia dessa exportação como um lastro para contratos de longo prazo. Paralelo a tudo isso, temos que reforçar as ações institucionais globais, os programas de incentivo à mistura e ao consumo de etanol, e também à retirada das barreiras tarifárias e técnicas.