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Gustavo Diniz Junqueira

Presidente da Sociedade Rural Brasileira

Op-AA-43

Agro orientado ao mercado

O setor rural tem uma dinâmica própria, devido à peculiar situação da demanda e às condições naturais para a produção dos 4Fs (Food, Feed, Fiber, Fuel). Temos um agronegócio forte em commodities, que ganha cada vez mais musculatura em produtos de maior valor agregado, pavimentando um crescimento da dimensão quantitativa para a qualitativa. O Brasil saiu da condição de importador de alimentos, para exportador, assumindo papel chave no agronegócio mundial.

Obviamente, muito ainda precisa ser feito, especialmente no que diz respeito à inserção do agro nas cadeias globais de valor, mas é inegável que o setor saiu da condição de coadjuvante para ser protagonista. Em razão de nossa vantagem natural e comparativa e, principalmente, pela capilaridade geográfica do negócio, o agro é um instrumento de desenvolvimento regional que tem papel fundamental no contraponto ao de outros setores estabelecidos em saturadas áreas urbanas.

Cidades pequenas e médias que têm o agro como a atividade econômica principal têm apresentado altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e um padrão de empreendedorismo e autoestima superiores à média nacional. Além da riqueza, emprego e renda proporcionados pelos negócios atrelados à sua cadeia produtiva, o agro tem efeito multiplicador ao gerar externalidades positivas para a indústria, o comércio e o segmento de serviços.

E, de olho no futuro, há espaço para a transformação de um agronegócio calcado em força empreendedora para um agro de precisão, orientado ao mercado e na certificação de produtos. Para os produtores rurais, esse novo comportamento requer orientação voltada à “produção puxada”. Trata-se de, primeiro, estudar as tendências de mercado e a seguir, definir o perfil de produtos que melhor atendem às exigências do consumidor final.

Por sua vez, o governo precisa adaptar sua estrutura às demandas de um agro exportador e gerador de riqueza, renda e empregos para o País. Celeridade e foco na regulamentação e no controle devem substituir políticas tradicionais de defesa de um Estado que, durante décadas, regulamentava mais as importações do que as exportações. Dessa maneira, tanto os setores produtivos quanto o governo precisam elaborar planejamentos, mas, concomitantemente, agir.

Temos que funcionar em ambiente “beta”, planejando sim, mas fazendo acontecer, testando na prática e promovendo ajustes, de acordo com as necessidades. Nesse desafio, o fomento à incorporação de novas tecnologias e práticas de gestão dos produtores de porte médio será decisivo para a inclusão de centenas de milhares de fazendeiros na agricultura moderna, o que se constituirá em ganhos econômicos e também sociais para o País.

Assim, a construção de processos de comunicação e capacitação contínua, por meio de uma cada vez maior integração das atividades das diversas entidades que representam o agro, assume importância na estratégia da Sociedade Rural Brasileira (SRB) nos próximos anos. A elaboração de uma estratégia de médio e longo prazo para o setor, visando à modernização das estruturas, à integração e ao bom funcionamento das diversas cadeias produtivas do agro, é um dos focos da SBR.

Além disso, direcionamos, ainda, o trabalho para a construção de um projeto de médio e longo prazo também para o Brasil, ancorado na perspectiva de como o agro integrado aos outros setores pode aumentar sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do País. Quem atua de modo reativo já sai perdendo – inclusive financeiramente – no quesito inovação, por isso é tão importante, para não dizer imprescindível, a construção de um projeto estratégico para o agro e para o País.

Ao ser destaque na agenda de desenvolvimento, o agro tem a obrigação institucional de participar ativamente do debate de caráter social, dos serviços públicos mais próximos do dia a dia da população. Isso porque o setor é parte da convivência física e social. Seu trabalho de prover alimentos, energia, etc., de produzir com insumos seguros, de empregar pessoas cada vez mais capacitadas, de atuar de maneira horizontal faz o agro interagir de modo amplo e profundo com todos os demais segmentos.

Justamente por sua relevância econômica (gerador de riqueza, emprego e renda), com efeito e impacto direto no aspecto social, o agro tem o direito e a obrigação de ser coformulador das políticas que influenciam no pacote de serviços públicos de saúde, educação, segurança, transporte, infraestrutura, entre outros. Se o setor é o mais bem-sucedido do País, e a percepção da sociedade em relação a isso avançou, está mais do que na hora de o agronegócio acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda pública nacional. Os mesmos problemas – senão piores – que atingem as cidades também atingem o campo. O agronegócio pode e deve contribuir como um importante agente transformador.