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Miguel Rubens Tranin

Presidente da Alcopar

Op-AA-63

Legado: dificuldades e aprendizado
O período de profunda crise por que passou o setor sucroenergético nos últimos anos trouxe muitas dificuldades para as indústrias, mas também lições e aprendizados. Agora, no momento em que finalmente avistamos uma luz no final do túnel, percebida por uma mudança governamental e uma visão mais clara do Estado, precisamos estar preparados para aplicar os conhecimentos adquiridos em meio a tantos desafios e saber aproveitar as oportunidades. 
 
O ciclo que se apresenta é, sem dúvida, de recuperação para o setor. No entanto não devemos nos preocupar apenas com os nossos produtos mais tradicionais, caso do açúcar e do etanol – esse último em demanda muito aquecida no País. Faz-se necessário perscrutar um horizonte mais amplo, que se apresenta bastante promissor. 
 
Antes, vale lembrar que a implementação do RenovaBio, a grande conquista do setor, avança na certificação das usinas, conferindo otimismo entre os investidores. O programa, do qual muito já se falou, é o reconhecimento dos ativos ambientais da atividade sucroenergética por parte da sociedade como um todo.  Os indicativos são animadores. Contudo é providencial manter a atenção redobrada. 

Neste início de 2020, em que se intensificam as discussões acerca de uma inadiável reforma tributária, surgem ruídos de toda parte, inclusive sobre uma possível tributação do açúcar, o que seria extremamente danoso ao segmento, em termos de competitividade.

Não podemos permitir que o agronegócio, o carro-chefe da economia e principal vetor do desenvolvimento, venha a ser penalizado por algo que terá impacto direto em sua capacidade produtiva e, por extensão, na geração de postos de trabalho. É indispensável que os atores envolvidos nesse processo  tenham uma visão mais ampla e detalhada do setor para que sejam evitados possíveis arroubos e distorções. Não se pode levar em conta, apenas, o produto final. 

Para esses novos tempos, é preciso, como já se afirmou, que estejamos devidamente preparados e fazer a lição de casa, uma vez que nossas perdas foram vultosas durante o período de crise. Ampliar nossa produtividade é urgente, assim como aumentar a eficiência e olhar para a capacidade industrial.

Começando pela matéria-prima, temos que buscar variedades mais produtivas, adequadas à colheita mecânica, reduzir os custos de implantação da lavoura e desenvolver parcerias sinérgicas. A propósito de parcerias, uma prática sustentável vem ganhando força em alguns estados, a meiosi, pela qual usinas implementam projetos a quatro mãos, com cooperativas agropecuárias para a reforma de áreas de canaviais a partir do saudável cultivo de soja nas entrelinhas. 

Em vez de a indústria instalar uma estrutura própria para esse fim, recorre à expertise de produtores especializados, num sistema bem planejado e ágil, em que todas partes envolvidas só têm a ganhar. Todo esforço é necessário. Vemos, de um lado, a China se posicionando a favor do etanol, possivelmente projetando a adição à gasolina e, com isso, reduzir os elevados níveis de poluição nos centros urbanos. Se vai produzir ou importar, isso só o tempo nos dirá, mas é um tema que requer toda a atenção.
 
De outro, ainda em relação ao plano externo, vemos que há espaço para o estímulo à produção e ao consumo de etanol de milho no Sul do Brasil, e, dessa forma, não só abastecer a região, mas ultrapassar fronteiras e conquistar mercados vizinhos, o que serve também, é claro, para o etanol de cana. 
 
A exemplo do Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul são importantes produtores do cereal. Nos países do Mercosul, surgindo uma possibilidade de adicionar etanol na gasolina, ou mesmo em se tratando do futuro veículo a célula de combustível, estaremos preparados. A tendência é que isso venha a acontecer, mais cedo ou mais tarde.

Tudo isso faz parte de um novo cenário que se vislumbra para o setor e, naturalmente, nós, os brasileiros, temos que continuar sendo protagonistas do desenvolvimento de uma cultura voltada ao consumo de combustível renovável. Falamos em âmbito de Brasil, Mercosul e da própria América Latina como um todo. A questão ambiental, obviamente, precisa respeitar as particularidades de cada país, mas é inegável que, em resumo, ela traz oportunidades para os produtores brasileiros. 

Ainda em relação ao etanol de milho, seja em paralelo à produção de etanol de cana, implantando uma indústria flex ou no intervalo oferecido pela entressafra, temos que aproveitar a oportunidade. Por meio de parcerias com cooperativas e empresas cerealistas, há como otimizar a capacidade ociosa e aumentar a eficiência de tempo nas indústrias. Nas plantas paranaenses, é possível incluir o etanol de milho ao portfólio, o DDG (subproduto destinado à alimentação animal) e também o biodiesel. Não podemos abrir mão disso. A maior eficiência tem que ser conquistada, e o ganho de tempo é fundamental. 

Por fim, outra questão diz respeito à cogeração. Contamos com enorme potencial a ampliar e, no caso do Paraná, estamos abrindo um novo diálogo com a companhia estadual, a Copel, visando expandir e incrementar essa atividade a partir do aumento da capacidade de cada indústria, atendendo, com isso, a uma demanda que se fortalece cada vez mais diante das perspectivas de crescimento do País.