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Antônio Eduardo Porto Ruette

Diretor Industrial do Grupo Ruette

Op-AA-22

Run forest Run!

Frente à elevação da temperatura global, em função das emissões de gases que provocam o efeito estufa, estratégias combinadas na área de energias renováveis, aliadas à eficiência energética e ao adequado uso da terra, surgem como consenso na redução das emissões de CO2 e mitigação das mudanças climáticas. Segundo o relatório “Tendências Mundiais dos Investimentos em Energia Sustentável”, publicado este ano pelo Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 2008, foram investidos US$ 155 bilhões em empresas e projetos de energia limpa, superando, pela primeira vez, os investimentos em energias fósseis.

Achim Steiner, Diretor-executivo do Pnuma, credita o crescimento dos investimentos em renováveis, em tempos de crise, aos pacotes governamentais de estímulos ao setor. O Brasil, com louváveis 46% da sua matriz energética provenientes de fontes renováveis, sendo 13% a média mundial, está correndo risco de perder a liderança na área.

O setor elétrico, por exemplo, que tem o marco institucional e regulatório baseado numa expectativa de expansão de usinas hidroelétricas com reservatório, não deu a devida atenção ao planejamento de um parque gerador complementar ao hídrico existente, problema agravado pela nova legislação ambiental, tendo em vista que quase a totalidade das poucas hidroelétricas que se efetivam é a fio d’água.

Criou-se uma “armadilha térmica”, constatada nos resultados dos leilões de energia, a partir do “Novo Modelo” do setor elétrico (2003/2004), com a forte predominância de termoelétricas sujas, movidas a óleo combustível ou a gás natural, de elevados custos de instalação, operacional e grau de importação de equipamentos. Ora, mas e a bioeletricidade?

Opção de baixo impacto ambiental, de elevada eficiência energética, que gera créditos de carbono, utilizando equipamentos 100% produzidos pela indústria nacional, de geração distribuída, no centro de carga brasileiro, de combustível disponível renovável e o mais relevante, complementa o parque hídrico, pois opera no período seco, aumentando a segurança do sistema?

Pois bem, está aguardando a adequada valoração, que certamente não acontecerá pelas atuais regras. Seria essa morosidade devido ao potencial da biomassa (2 Itaipus) ser considerado uma reserva? Não sei dizer, mas certamente esse reconhecimento aconteceria em excelente hora para o setor sucroenergético, que passa por uma consolidação de sustentabilidade, com investimentos pesados em reflorestamento, eliminação da prática da queima da palha da cana-de-açúcar, aplicação racional de vinhaça, tratamento de efluentes líquidos e gasosos, qualificação da mão de obra, etc.


Concomitantemente, atravessa a sua mais forte crise financeira, com muitas unidades à venda e com expressiva entrada de pocket money das gigantes internacionais, representando 16% do setor e com previsões de que em 3 a 5 anos representarão 25% do mercado (Datagro), salientando que esta não considera investimentos estrangeiros em ações de empresas de capital aberto, devido à oscilação de propriedade.

O etanol apresenta redução de 90% das emissões de CO2 comparada às emissões da gasolina, como reconhece a Ademe - Agência do Meio Ambiente de Controle de Energia da França, constatação fortemente abalada, recentemente, pela restrita visão da “nota verde” - ranking veicular dos poluidores, publicada pelo Ibama. É considerado, internacionalmente, como a única alternativa atual economicamente viável aos combustíveis fósseis e com vantagem de ser uma fonte renovável, que pode ser produzida em várias regiões do planeta, condição indispensável para que se torne uma commodity, garantia de significativa redução dos gases causadores do efeito estufa.

Os diversos aspectos positivos governamentais se tornam irrelevantes frente à urgência de leis e políticas coerentes, ou mesmo incentivos regulatórios para estruturar o desenvolvimento de um mercado de renováveis seguro e consistente aos investidores e consumidores, livre de incertezas como pré-sal, redução de adição à gasolina, diesel em veículos leves e leis insensatas criadas numa realidade de meio século atrás (Reserva Legal). Que tais medidas não demorem, para que não se repita o que aconteceu com o financiamento da estocagem, que chegou tardiamente para as empresas do setor. Talvez sejamos mesmo heróis... heróis da resistência.