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Abhilasha Joshi

Consulesa-geral da Índia

Op-AA-30

Alimentos e energia: nossos desafios

Índia e Brasil são países fantásticos, ambos são nações emergentes em suas regiões, estáveis, com uma mistura étnica e cultural incríveis. Mais do que isso, agora estamos em uma fase de grande crescimento, somos economias de trilhões de dólares, e as semelhanças entre nós são realmente grande e nos ajudam a nos unirmos em fóruns pelo mundo inteiro. Durante muito tempo, fomos separados pela geografia e também pelo conhecimento mútuo.

A Índia sempre foi vista como um país místico, da ioga, de herança cultural antiga e de danças. A imagem que nós tínhamos do Brasil, até recentemente, era a terra do futebol, do samba e do carnaval. Fico feliz em dizer que as imagens estereotipadas estão mudando e que os BRICs (Brasil, Russia, India e China) são realmente os motores do crescimento, enquanto o resto do mundo, infelizmente, sofre.

A balança comercial entre Índia e Brasil está crescendo. Nossos governos estabeleceram um objetivo de chegar a um patamar de US$ 10 bilhões até 2010, embora tenhamos  dobrado nos últimos dois anos, nosso comércio atingiu agora US$ 8 bilhões.

As nossas listas bilaterias de comércio envolvem várias commodities, cujo item do topo é o açúcar. Mas ainda estamos enfocando bens primários básicos e esperamos que, no futuro, tenhamos um nível político de relações muito boas, e que essas boas relações evoluam para a área comercial também.

Quanto às importações e exportações, os principais itens de exportações da Índia para o Brasil são óleo diesel, equipamentos relacionados à energia eólica, carvão, turfa, algodão, fios de poliéster, tintas, produtos químicos, remédios, nafta, peças para tratores e para a indústria automobilística, vacinas para medicina humana, etc.

As exportações do Brasil para a Índia são óleo cru, sulfatos de cobre concentrados, açúcar, minério de ferro, óleo de soja, álcool, asbestos, válvulas, motores, bombas, aeronaves, etc. Temos vários investimentos específicos e joint ventures entre nossos países. Essa é só a ponta do iceberg, porque há muitos outros caminhos a serem seguidos para aumentar a balança comercial.

Com relação à pauta deste fórum, a energia das nações, o governo da Índia descreve a segurança energética como a habilidade para seguir a demanda para os serviços de energia de todos os setores, inclusive as necessidades domésticas em todas as partes do país; energia conveniente e segura, a custo mais baixo possível, de forma tecnicamente eficiente, economicamente viável e sustentável ambientalmente. Isso é idealista, mas todos os governos gostariam de ter esse objetivo. A política energética da Índia baseia-se nesses parâmetros.

Para todos os países, o que significa segurança energética? Geralmente, refere-se à produção e suprimento e consumo de hidrocarbonetos. A política externa de um país baseia-se, principalmente, na segurança de energias. O Brasil, nesse caso, também é muito abençoado com suas reservas recém-achadas de petróleo em águas profundas e que serão exploradas em seu potencial máximo, e ele será um dos maiores exportadores de petróleo no futuro.

E por que, de repente, temos esse interesse em desenvolver energias renováveis e combustíveis limpos? Porque nem todos os países têm esses recursos de hidrocarbonetos e todos precisam procurar outras alternativas para assegurar seu crescimento. Sabemos que o que fazemos, hoje, vamos deixar para as futuras gerações. Assim, cada país tem suas próprias responsabilidades em relação ao meio ambiente.

No setor de transporte, não temos muitas opções, e o petróleo continua sendo o combustível dominante e assim deverá permanecer ainda por um bom tempo. Mas, no setor de energia, há outras alternativas, temos carvão, gás, hídrica, energia nuclear, solar, eólica, biomassa, etc.

Se olharmos para o mix de energia, 35% estão concentrados em petróleo, enquanto 25%, em carvão, e 21%, em gás natural. Nós ainda estamos dependendo dos hidrocarbonetos. As energias renováveis compõem apenas 19% desse mix energético do mundo. Como isso afeta a Índia, que cresceu muito rapidamente, de 7% a 9% nos últimos 3 anos, e tornou-se o quinto maior consumidor de energia no mundo?  

Embora tenhamos grandes reservas de energia, de carvão e de energias renováveis, como eólica, solar, hidroenergia e biomassa, nossas principais fontes de energia são o petróleo e o gás. Precisamos importar 75% de nossas necessidades de petróleo do exterior. Devido a isso, o carvão continua sendo a espinha dorsal do setor de energia. Temos uma reserva de 256 bilhões de toneladas. Mas, para usar carvão de forma eficiente, é necessário muito investimento para reformar e modernizar as fábricas.

O governo da Índia estabeleceu uma política de parcerias com instituições públicas e privadas, para prospecção de reservas de petróleo onshore e offshore, e isso levou a grandes descobertas; assim, esperamos que, no longo prazo, sejam efetivamente benéficas para nós. Uma das vantagens que a Índia tem hoje é ter a quinta maior refinaria no mundo. Exportamos óleo diesel para o Brasil, embora importemos dele óleo cru.

Temos, na Índia, uma capacidade instalada de 176.990 MW, dos quais 65,4% de usinas térmicas (54,7% a carvão, 10% a gás e 0,7% a óleo), 21,5% de usinas hidroelétricas, 2,7% de usinas nucleares e 10,4% de fontes de energias renováveis. Essa é uma imagem de contraste em comparação com a matriz energética do Brasil. Todas as fontes de energia estão sendo pesquisadas, para desenvolver novas formas e caminhos.

Na Índia, há cinco ministérios vinculados à energia renovável, cuja importância foi reconhecida desde a década de 1970, e o foco, atualmente, será a energia solar, aumentar a eficiência energética e a energia eólica. Em 2010, a Índia tinha 12.000 MW de energia eólica instalada, ocupando a quarta posição mundial. Somos, hoje, o líder global no mercado de equipamentos para  energia eólica e temos uma presença marcante no Brasil.

Na Índia, os biocombustíveis são derivados de algumas plantas que não existem no Brasil, mas principalmente da cana-de-açúcar. Como vocês sabem, nós temos uma grande população, e a segurança alimentar é muito importante para nosso país e não podemos usar terras boas, adequadas para a agricultura, para produzir biocombustíveis, porque não podemos nem sonhar em comprometer a segurança alimentar dos bilhões de pessoas no nosso país e, portanto, temos que usar subprodutos para produzir energia renovável.

Há uma forte necessidade de se usar os biocombustíveis no setor de transportes, porque esse é o setor mais poluente do mundo e que se presta ao uso de biocombustíveis, como é o caso do Brasil, com sua admirável tecnologia de veículos flex-fuel. Temos como alvo a mistura de 20% de biocombustíveis em nossos combustíveis até 2017.

Precisamos modernizar e inovar para sermos capazes de atingir essas metas. Parcerias com países como o Brasil são muito úteis, e poderemos aprender muito uns com os outros. Estamos crescendo a uma taxa de quase 9% por ano e, para manter esse crescimento, precisamos de mais energia. O mundo vai precisar de mais comida, muitos outros bens, e, principalmente, mais energia. Estamos cientes desse fato e, portanto, esse tipo de fórum torna-se muito importante para a busca de soluções.

Precisamos tirar milhões de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza e precisamos crescer. Precisamos saber, aprender e procurar ver todas as formas possíveis de se produzir energia. Cada tipo de geração de energia tem seus problemas, alguns precisam de mais investimentos, outros, de mais terras. Precisamos tomar cuidado e saber escolher quais terras podemos usar para a produção de biocombustíveis e quais devemos separar para a produção de alimentos.

Existem muitos desafios pela frente. Estamos num momento de transição entre as formas tradicionais de se produzir energia e as energias do futuro. Desejamos participar, cooperar, consolidar amigos e parceiros.