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Expedito José de Sá Parente

Presidente da Tecbio - Tecnologia Bioenergética

Op-AA-12

Biodiesel: passado, presente e futuro

Rudolf Diesel, em 1900, apresentou ao público a sua fantástica invenção: o motor de ignição por compressão. Fez funcionar o seu motor, com óleo de amendoim, durante as poucas horas, nos vários momentos de demonstrações. O protótipo era um motor de baixa rotação, de injeção indireta, que poderia queimar óleos vegetais in natura e até mesmo outros combustíveis mais pesados.

A Era Comercial dos motores de ignição, por compressão, iniciou-se logo após a Segunda Guerra Mundial, tornando-se conhecido por “motor diesel”, em homenagem ao seu inventor. O motor diesel foi lançado comercialmente, funcionando com óleo cru, pois era petróleo simplesmente filtrado. Já havia a constatação de que o funcionamento prolongado com óleo vegetal produzia resíduos de carbono no interior dos cilindros, além de outros danos.

O advento do óleo diesel, como uma fração especificada do petróleo, deu-se nos anos 50, com o surgimento dos motores de injeção direta, aperfeiçoados, mais eficientes. Necessário se fazia o uso de um combustível especificado, quanto aos padrões de qualidade e identidade. Os óleos vegetais não poderiam mais abastecê-los, também porque as emissões tornaram-se mais ricas em acroleína, uma substância tóxica, cancerígena.

Os motores abastecidos a óleo diesel e a gasolina multiplicaram-se aos milhões, evidenciando a finitude do petróleo, dantes tido como um energético sem limites. Na primeira crise do petróleo, em 1973, quando os preços do famoso ouro negro foram quadruplicados, as pessoas começaram a perceber o seu valor e os seus limites. Energia ganhou as devidas atenções da humanidade, que passou a vê-la com mais realismo. Esforços foram engendrados para economizar energias e para substituí-las pelas diversas formas alternativas.

O Brasil optou pela produção e consumo do álcool etílico, em substituição à gasolina. A principal motivação era a sustentabilidade do setor sucroalcooleiro, já que os preços do açúcar, no mercado internacional, estavam aviltados. Para alguns poucos, era claro que produzir álcool de nada adiantaria para diminuir o consumo de petróleo, pois o combustível determinante das importações de petróleo era o óleo diesel. Foi naquele cenário que o biodiesel foi concebido em 1977, no Ceará. A concepção pioneira no mundo mereceu a Patente 8007957, registrada no INPI, quando o biocombustível foi lançado internacionalmente, em 30 de outubro de 1980.

O Biodiesel: Biodiesel é um biocombustível sucedâneo do óleo diesel mineral, obtido a partir de matérias graxas, através de uma reação química denominada de transesterificação. Participa dessa reação um álcool, podendo ser o metílico ou o etílico.

As matérias graxas utilizáveis como matéria-prima são os óleos vegetais (mamona, soja, amendoim, babaçu, dendê e muitos outros), as gorduras de animais (sebo bovino, banha de porco, gorduras de aves, óleo de peixe), e os óleos e gorduras residuais (óleos de frituras, óleos de esgotos, etc.). A glicerina, com múltiplas aplicações industriais, constitui um subproduto do processo de produção.

O biodiesel não é, portanto, óleo vegetal e tem padrões de identidade e qualidade, contidos em normas técnicas, de modo a não ser confundido com outros possíveis biocombustíveis, e a garantir o funcionamento regular dos motores diesel. Além da possibilidade de uso em motores, em misturas com o óleo diesel mineral, em qualquer proporção, sem alterações no equipamento, o sucesso do biodiesel advém de suas externalidades e transversalidades.

Consideram-se como externalidades do biodiesel os impactos sociais e ambientais de sua produção e consumo. Os benefícios sociais do biodiesel são por demais expressivos, quando a produção da matéria-prima realiza-se pela agricultura familiar. Face à magnitude do mercado energético, a produção do biodiesel possui a capacidade de eliminar a miséria no campo.

Os benefícios ambientais da produção e do consumo do biodiesel aparecem de diversas formas:

a. contribuição para a diminuição do efeito estufa;
b. limpeza da atmosfera, por ser um combustível não poluente;
c. diminuição da fuligem, uma vez que em mistura com óleo diesel, na proporção de 25%, isenta as emissões de fuligem, responsável pela elevada taxa de doenças respiratórias.

As transversalidades dizem respeito a interações com outros setores produtivos. A mais importante advém do fato de que toda semente ou grão oleaginoso é composto de dois componentes básicos: a porção lipídica, que é o óleo para a produção de biodiesel, e a porção protéica, que se destina à produção de rações ou fertilizantes, enfim, alimentos.

O biodiesel é indutor da produção de alimentos. Alguém, com muita propriedade, tem dito: “Além de combustível, o biodiesel é um remédio socioambiental, que não se compra em farmácia”.

Status atual e perspectivas: O biodiesel já está sendo produzido em numerosos países, distribuídos nos cinco continentes. Hoje, a Alemanha, com uma produção superando a um bilhão de litros anuais, é o maior produtor do mundo. O Brasil já é o segundo, tendendo a ser o primeiro, já no próximo ano. A produção mundial é crescente e muito acelerada.

Diferentemente do bioetanol, que é um combustível solitário, pois é direcionado somente para pequenos veículos, o biodiesel é um combustível coletivo, uma vez que abastece caminhões, ônibus, trens, navios, tratores, máquinas agrícolas, geradores de eletricidade, etc. Considerando o mercado e as amplas possibilidades de produção no Brasil, o Programa Brasileiro de Biodiesel poderá vir a ser, pelo menos, quatro vez maior que o Programa Nacional do Álcool. O National Biodiesel Board, dos Estados Unidos, afirmou que “o Brasil tem condições potenciais de abastecer com biodiesel 65% do consumo mundial de óleo diesel”.