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Teiji Sakurai

Presidente da Jetro, Japan External Trade Organization

Op-AA-04

Exportações de etanol para o Japão

Em sua visita ao Brasil, em setembro de 2004, o Primeiro-Ministro, Koizumi, conheceu a indústria açucareira do Estado de São Paulo. Essa oportunidade serviu para aumentar o interesse pelo etanol brasileiro. Quando da visita do Presidente Lula ao Japão, prevista para este mês de maio, o etanol deverá ser um dos principais itens da pauta da reunião, entre os chefes das duas nações.

No Japão, em agosto de 2003, o governo revisou a Lei de Garantia de Qualidade e as Normas Relativas dos Óleos Voláteis. Na época, foi noticiado no Brasil que o Japão havia definido em 3% o teor de mistura de etanol à gasolina, mas, na realidade, a definição referia-se ao limite máximo do teor de etanol na mistura. Neste artigo, procuraremos colocar em ordem as questões relativas à exportação de etanol para o Japão.

Segundo a UNICA, grande número de missões e empresas japonesas vinham visitando o Brasil, repetindo as mesmas perguntas relacionadas às exportações de etanol. Aproveitando a visita do Primeiro-Ministro, Koizumi, a UNICA e a Coimex decidiram enviar uma missão técnica ao Japão visando responder às dúvidas do governo, das entidades e de empresas japonesas.

Em janeiro de 2005, uma comitiva liderada pelo Dr. Eduardo Pereira de Carvalho visitou o Japão, envolvendo nas reuniões os Ministérios da Economia e Indústria, Meio-ambiente e Assuntos Estrangeiros, assim como a Confederação Japonesa de Petróleo, NEDO, JBIC, e Grupos de Estudos sobre a possibilidade de importação de álcool do Brasil.

No março seguinte, o governo brasileiro despachou ao Japão uma missão governamental. A partir destas reuniões, quatro pontos aparecem em destaque:

1. O Brasil teria condições de manter uma oferta estável de etanol ao Japão? O lado brasileiro tem uma resposta clara. A mistura de 3%, utilizaria algo como 1,8 bilhões de litros, o que representa uma área de cultivo de cana de 300.000 hectares, não constituindo-se problema se comparada à área total cultivada de 5.340.000 de hectares, em todo o território brasileiro.
2. Comparado à gasolina, o etanol teria poder competitivo em termos de preço? Afirma-se que há poder competitivo para o etanol desde que o preço do petróleo situe-se, no mínimo, em US$ 22. Caso o Japão venha a comprar etanol, seria baseada em contratos de médio e longo prazos, após meticulosas negociações.
3. Efeitos sobre o meio-ambiente: Com a efetivação do Protocolo de Kyoto, o Japão deverá atacar seriamente o problema de redução do CO2.  A mistura de 3% de etanol permite a redução de CO2, embora ainda não haja provas científicas conclusivas com relação à emissão de NOx e gases evaporados. O etanol apresenta-se como opção potencial a energias substitutivas.
4. Investimentos em infra-estrutura no Japão, necessários à introdução do etanol como combustível: Estima-se que os investimentos a serem efetuados pela indústria petrolífera japonesa para a mistura de etanol totalizem US$ 3 bilhões. Do lado brasileiro, caso haja elevação de E25 para E30, calcula-se que os custos estimados no Brasil seriam de US$ 350/mil litros. Efetuando multiplicação simples por 1,8 bilhões de litros, obtém-se um total de US$ 630 milhões. A base comparativa difere, mas de qualquer forma existe entre ambos uma grande defasagem. Esse é provavelmente o maior problema.

Com base nas opiniões de ambos os lados, nossas impressões são que:

1. Existe uma expectativa excessivamente forte do lado brasileiro, pois no lado japonês as pesquisas ainda não são suficientes.
2. O lado japonês apega-se a minúcias, com rigidez e perfeccionismo exagerados. O lado brasileiro é generalizante e otimista ao extremo.
3. O lado brasileiro afirma que esse assunto deva ser resolvido na esfera governamental. O japonês acha que é questão para empresas privadas.
4. Os japoneses não conhecem suficientemente a superioridade da tecnologia de produção do etanol no Brasil, nem a alta produtividade da cana, em relação ao milho, trigo e beterraba.
5. O lado brasileiro não tem dúvidas de que o etanol é a melhor fonte de energia substitutiva, enquanto o japonês considera o etanol apenas uma das opções disponíveis.
6. Enquanto o lado japonês tem o assunto como em fase inicial, o brasileiro já pensa na implementação.

Assim, penso que os próximos passos sejam:

1. Empenhar-se para esclarecer as diferenças de idéias identificadas pela missão técnica, o quanto antes.
2. O lado brasileiro deve fornecer ao Japão o máximo de informações sobre as experiências do etanol no Brasil, talvez utilizando-se da Petrobras como empresa referência,
3. Convidar para visitas pessoas influentes da indústria petrolífera japonesa. O estabelecimento de Joint-Ventures talvez seja um caminho a considerar. Existem no assunto muitos pontos que exigem confirmação visual para serem compreendidos.
4. Dada a elevada conscientização que o povo japonês possui sobre as questões ambientais, jornalistas de jornais influentes e revistas voltadas ao meio ambiente no Japão deveriam ser convidados e, através deles, a experiência de introdução do etanol no Brasil deveria ser amplamente informada aos cidadãos japoneses. O etanol precisa ser entendido.

Procurei expressar minha opinião, julgando ser este um tema de enorme importância para intensificar as relações econômicas e comerciais entre Japão e Brasil. Uma solução imediata é desejável, mas na medida do possível.