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Paulo Zancaner Castilho

Diretor da Datagro Alta Performance

Op-AA-60

O que é moderno hoje?
A meu ver, a modernidade no setor sucroenergético, assim como em outras áreas empresariais, está basicamente ligada ao recebimento e tratamento  on line das informações de campo e suas interações com as máquinas e sistemas de controles das operações e custos, e nos dá, por exemplo, através de ferramentas de georreferenciamento de informações, bancos de dados totalmente disponíveis num click, o acesso a históricos de tratos acumulados, com visões multifacetadas para que, nós, técnicos do setor, os analisemos da forma que mais nos convenha.

Rendimentos de máquinas cada vez m?ais eficientes e completas que, por si só, já inserem mais e mais dados nesse enorme banco de informações e que agregam camadas sobre camadas de análises, produzindo relatórios, ajustes, correções, mapas “quentes” com produções lançadas por metro quadrado avaliado. A qualidade desses dados aumenta exponencialmente a cada ano com seu uso.
 
Moderno também é ter um maquinário já atualizado com automações de aplicações em taxa variável e direção controlada por piloto automático, lançando automaticamente os insumos utilizados para um sistema gerencial integrado. Os traçados e os talhonamentos já chegam prontos da área de planejamento das empresas para o campo e são automaticamente implantados no momento da instalação dos campos, visando aos melhores rendimentos de plantio e colheita.

Nos anos seguintes, aquele mesmo plano de traçado irá proteger suas linhas de soqueiras do pisoteio e, novamente, as máquinas seguem seu curso de forma automática, ano após ano. Um ambiente protegido e apto a elevadas produtividades. Supermoderno.

Insumos modernos, com efeitos fitotônicos e de proteção aos cultivos, além de micronutrientes aplicados na época correta, compõem um quadro de elevado potencial produtivo, e quando possível, aliado a algum processo de irrigação, podem proporcionar ganhos excepcionais conforme a região.

A reciclagem de nutrientes via vinhaça e torta de filtro compostada com fuligem, uso de rotação de culturas na meiosi com soja ou amendoim, ocupando e protegendo o solo ao longo de todo ano e a todo momento, é a busca que uma boa área técnica da empresa sucroenergética tem que seguir. Incrível que ainda hoje, há quem não faça o uso correto desses insumos e técnicas. A sustentabilidade do nosso setor é um dos pilares de nossa existência e isso é moderno. 
 
Novas formas de engajamento das pessoas nos resultados das empresas, torná-las donas do negócio que gerem, envolvê-las de fato no atingimento das metas consensadas é o que há de mais moderno, pois os motores da produtividade são acionados pelo interesse de todos remando para o mesmo lado.
 
A evolução que se apresenta para o setor canavieiro, se, por um lado, nos anima por suas potencialidades, por outro, mostra que o campo ainda não está conseguindo provar em números essa eficiência da modernidade. Estamos, ao mesmo tempo, num momento de explosiva adoção de novas técnicas produtivas e de estagnação na produção de cana por hectare. 
 
Num rápido diagnóstico, nos damos conta de que algumas oficinas agrícolas ainda pecam na conferência das bitolas dos tratores e transbordos, pecam também na pressão dos pneus de transbordo e caminhões e nas rotinas básicas de manutenção, afetando a disponibilidade das máquinas e a qualidade do serviço. Absurdos são comumente vistos nas velocidades de colheita, provocando arranquio de soqueiras e operações de manobras inadequadas e ineficientes. Pilotos automáticos instalados, mas desligados, computadores de bordo, idem. 
 
Quando ligados, produzem relatórios gerenciais que não são de fato geridos e corretamente utilizados. A análise dos mapas de falhas, comparados ano a ano, mostram uma rápida deterioração dos canaviais por conta do uso incorretos das máquinas, principalmente na colheita.
 
Técnicos tem falhado nas análises dos dados fornecidos, pois lhes falta conhecimento básico das interações entre tratamentos. Isso pouco tem a ver com a situação de aperto financeiro por que passa o setor, uma vez que o entendimento e o capricho na operação não a onera, pelo contrário.

O desvio das funções dos gerentes, sim, entendo que pode afetá-la, pois toda essa modernidade está prendendo o administrador atrás de uma tela, impedindo que ele viva o campo em suas inúmeras nuances, e esse balanceamento é que pode estar, a meu ver, sendo mal equilibrado. É responsabilidade desse gerente moderno que as mais modernas técnicas sejam aplicadas, mas concomitantemente com as antigas técnicas de cuidado do canavial, o bom aproveitamento dos recursos, os momentos corretos das aplicações, o respeito aos tempos do campo.
 
Moderno passa a ser, então, ser eficiente na transformação desses dados abundantes em ações gerenciais. Isso é essencial, pois, atualmente, alguns tempos têm sido negligenciados. A cana tem seu próprio ciclo e não adianta forçarmos a barra e, por exemplo, querermos tirá-la do campo antes que ele esteja completo. 
 
A pressa impõe uma perda de valor, que é cumulativa e não se recompõe ao longo do ano. Costumo dizer que ninguém obriga uma mãe a conceber seu filho antes dos 9 meses, somente por querer ter o filho, aos 7, 8 meses, por não poder esperar. O filho está lá, mas não está disponível! É o mesmo para uma cana imatura, que não completou seu ciclo. Há que se dar o tempo correto a ela, senão haverá sequelas. Da mesma forma, não se fica 10 meses com um filho na barriga somente para diluir o custo fixo da roupa larga adquirida. Somos uma agroindústria e temos ciclos de vida envolvidos na produção.
 
O ciclo de consolidações que ocorreu após 2008 trouxe muitas novas ideias e conceitos gerenciais para o setor e chacoalhou um sistema que estava há muito estabilizado. Independente do acerto ou erro das gestões que se instalaram, uma nova forma de gerir as usinas surgiu desse movimento, com uma cobrança mais centrada em resultados (às vezes imediatos) cuja entrega não depende exclusivamente da gestão, mas ela está aí, e temos que ter a capacidade de, com números, mostrar as melhores opções disponíveis para a empresa e também, com números, quantificar os reflexos dessas opções no resultado de longo prazo da empresa.

Para a empresa crescer, as variáveis têm que ser todas bem avaliadas, pois os atos decididos hoje terão reflexos por longos anos, para o bem e para o mal. Então, ser uma empresa sucroalcooleira moderna, para mim, está no equilíbrio entre todas essas equações.