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Edgar Gomes Ferreira de Beauclair

Professor de Planejamento da Produção e do Cultivo da Cana da Esalq-USP

Op-AA-17

Planejamento da produção e do cultivo

Atualmente, a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar é uma importante opção para a sociedade moderna, não só sob o ponto de vista econômico, mas também ambiental, por se tratar de uma fonte renovável de energia. Este setor tem chamado a atenção de investidores de todo planeta, principalmente pelas enormes expectativas geradas em torno do assunto.

Porém, para a instalação e condução de um novo empreendimento para produção de etanol, especialmente por grupos sem tradição no setor, é fundamental um planejamento da produção agrícola, para posterior implementação e cultivo, elaborado em bases sólidas e profissionais. O uso de modernas ferramentas de gestão e otimização é um recurso que não pode ser desprezado, por quem deseja se firmar.

Além disso, seu uso exige profissionais familiarizados com os conceitos técnicos de gestão envolvidos, assim como um profundo conhecimento dos sistemas de produção. O planejamento agrícola sempre deve começar pelo planejamento estratégico e suas análises mercadológicas, pois é a partir deles que são definidas as diretrizes gerais do empreendimento, capazes de realizar o dimensionamento de recursos, que é parte integrante e inseparável do mesmo.

A partir da estratégia geral, pode-se desenvolver a elaboração de cenários diversos, considerando diferentes condições de produção. Para tanto, é necessário ter um conhecimento amplo sobre as diferentes e complexas interações existentes entre o ambiente de produção e a cultura, sob diversos tipos e condições de manejo.

Desta forma, torna-se um pré-requisito fundamental e inicial, o conhecimento detalhado dos ambientes de produção disponíveis. Essa caracterização deve contemplar todas as propriedades que influenciam a produtividade agrícola, de forma positiva ou não. Assim, é preciso determinar o clima predominante, com seus índices pluviométricos, parâmetros de temperatura e radiação.

Os diferentes tipos de solo também precisam ser caracterizados como ambientes de produção, especificando-se, primordialmente, algumas de suas propriedades físicas, como profundidade, textura, capacidade de armazenamento de água, declividade e topografia; e químicas, como fertilidade, teores de nutrientes, elementos tóxicos, salinidade, etc.

Essas características serão determinantes para a definição dos sistemas de produção a serem adotados e para as estimativas de produtividade e de custos, necessárias para alimentar as ferramentas de otimização de plantio e de colheita. Essas ferramentas devem formar um sistema perfeitamente integrado com a indústria e a comercialização, tanto na base física, como na financeira.

Precisa ainda da definição e alocação da infra-estrutura e da logística das operações agrícolas, pois a trafegabilidade, o sistema viário e os acidentes geográficos são capazes de alterar completamente cada cenário, influindo nas épocas e nos rendimentos das operações agrícolas, especialmente de corte, carregamento e transporte.

A incorporação de sistemas de otimização, capazes de determinar o melhor caminhamento das frentes de trabalho, é essencial nesta etapa. A partir do conhecimento das épocas e dos locais de cada frente de trabalho, de cada operação agrícola, durante a safra, pode-se então propor a vocação técnica de cada área homogênea a ser cultivada com cana-de-açúcar.

Vocação técnica é o sistema de produção próprio para cada condição, e inclui definições como quais características a variedade a ser plantada deve ter, como época de maturação, adaptabilidade, responsividade e rusticidade; qual o sistema de preparo do solo; tipos e doses dos insumos adequados; ciclos e épocas; etc. Portanto, é importante que em qualquer forma de realizar o planejamento de plantio, ele deve sempre ter em vista o que se espera que ocorra na colheita.

Isso reafirma a essencialidade da integração dentro dos setores agrícolas, e destes, com todos setores industriais. Isso é importante, porque um bom planejamento da produção agrícola considera diversas análises de decisão, que vão envolver variáveis de manejo, produtividade, rendimentos, custos, margens de contribuição, taxa interna de retorno, etc, mas sempre fundamentadas no conhecimento utilizado na formação dos cenários.

Neste aspecto, a baixa confiabilidade de algumas estimativas, especialmente aquelas referentes ao processo de maturação das variedades sob manejo comercial, torna o processo crítico, pois é fundamental que se tenha exato conhecimento das limitações que cada estimativa pode ter. Conceitos de risco indicam que muitas das análises de decisão operacionais que compõem o planejamento dependem diretamente das estratégias adotadas pelo empreendedor, em sua análise inicial.

O planejamento só estará completo após o dimensionamento de todos os recursos necessários para a realização de todas as operações, na época em que foram determinados. Esse dimensionamento envolve estudos sobre a estrutura organizacional da unidade de produção, o que pode gerar conflitos, caso não haja uma posição firme e decidida da direção, no sentido de profissionalizar a execução de todos os serviços previstos no planejamento da produção. Finalmente, nenhum planejamento tem valor, caso não tenha um acompanhamento adequado, através, principalmente, de sistemas de controle eficientes, aliados a uma gestão com madura da distribuição de atribuições, com participação de todos os envolvidos diretamente ou não no sistema produtivo.