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João Paulo Pires Martins

Gerente Agrícola na Usina Rio Pardo

Op-AA-44

Gestão de pessoas e do tempo

Muito se fala em gestão (de pessoas, processos, compartilhada, integrada, etc.), mas, na prática, a maioria das usinas de cana-de-açúcar ainda precisa se adaptar a esse “novo” modelo de administrar os negócios em que a participação das pessoas responsáveis pelos processos de produção seja realmente efetiva, e elas se sintam donas do negócio atuando pela prosperidade econômica, e não apenas figurando como mais um elemento de destaque no quadro da organização em que atua.

Não existe gestão sem participação, assim como não existem empresas de sucesso sem pessoas engajadas. Nessa linha, a gestão que eu entendo ser a mais importante e eficiente para alavancar o “negócio cana” de uma usina, de um fornecedor ou de uma associação na atual situação de tremendo descrédito do setor é a gestão de pessoas, em que a chefia participa efetivamente da tomada de decisões, juntamente com as dificuldades da operação, atuando junto com a equipe buscando entender o que se passa no dia a dia das atividades para poder ajudar na construção de soluções simples e funcionais que só quem está diretamente ligado na operação é capaz de sugerir.

Assim, o gestor que não consegue encontrar tempo em sua agenda para ouvir o que a equipe tem a dizer vai precisar gastar tempo explicando por que os resultados estão abaixo do esperado. A extensa rotina de reuniões, planejamento, acompanhamento orçamentário, entre outras obrigações administrativas, tomam bastante tempo e, se não tomar cuidado, acabam desviando o foco do gestor, que só vai a campo quando alguma atividade vai mal.

Nessa situação, nem ele nem a equipe têm paz e tranquilidade suficientes para propor algo que realmente funcione e resolva definitivamente o problema, ao contrário, o ambiente se torna estressante e pouco produtivo, e as pessoas trabalham apenas pelo emprego e não mais pelo resultado da empresa. O ambiente hostil que vivemos neste momento de crise que se arrasta por alguns anos faz com que os gestores foquem na sobrevivência deles dentro das organizações e se esqueçam de que são responsáveis por provocar as mudanças necessárias para que, antes de mais nada, a própria empresa sobreviva, quando a ordem de cortar custos se confunde com cortar gastos e, numa atitude simplória de eliminar uma atividade ou operação (geralmente ligada à produtividade futura agrícola em busca de uma despesa menor naquele momento para justificar algum ganho orçamentário), pode colocar em risco todo o resultado.

“Quem vive só no mundo dos custos não conhece o mundo dos ganhos” dizia, incansavelmente, um professor de administração de empresas.  O talento ocorre de forma aleatória entre as pessoas, e cabe ao gestor a delicada missão de identificar, na equipe, quais são os profissionais que fazem a diferença e que usam a criatividade para transpor barreiras que existem, às vezes, por muito tempo, e que ninguém antes havia conseguido; é quando ouvimos aquela famosa frase: “como é que ninguém havia pensado nisso antes?”.

Na verdade, alguns devem até ter pensado, mas ficaram tão inibidos pela distância abissal criada entre eles e o gestor, que a ideia nunca chegou a ser sugerida, e a empresa perdeu dinheiro por um bom tempo. O gestor de sucesso sabe ouvir sem julgar e deixa as pessoas expressarem seus pensamentos livremente, para que, após uma reflexão sobre a ideia apresentada, se verifique a real aplicabilidade dela dentro da organização.

A liberdade de expressão só acontece em ambientes onde o gestor seja o precursor da transparência, apresentando os objetivos da empresa, desde o planejamento anual, passando pela construção conjunta do orçamento para que todos saibam claramente quais são as regras do jogo, até as metas que serão cobradas para que o resultado esperado seja atingido. Com proximidade e respeito mútuo, fica mais fácil ser cúmplice do sucesso e dividir o peso de um eventual fracasso.

Pense nisso. Não adianta reclamar do contexto econômico ou do governo (é claro que, se houvesse o mínimo interesse em estimular a economia brasileira, haveria uma agenda mais clara sobre a política de combustíveis), vamos deixar essa incumbência para os especialistas no assunto e para os dedicados às transformações políticas. Nós gestores precisamos ser proativos em busca de alta performance operacional, formação de equipes excelentes e altas produtividades agrícolas, só assim sairemos mais fortes desta crise que parece não ter fim, mas que, cedo ou tarde, passará e será lembrada como o divisor de águas entre as empresas profissionais, que se mantiveram firmes, e as desorganizadas, que caíram ao longo do caminho. É uma triste seleção natural forçada e atropelada. Para os que não perdem as esperanças e lutam para sobreviver, me lembro de mais uma frase: “A vida é momento e o momento é agora”!