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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da ABAG

Op-AA-33

Os movimentos globais e as decisões nacionais

Há duas claras visões com relação ao crescimento do setor canavieiro no Brasil: a mais conservadora, que leva a visão para a popa do "barco Brasil", carregando uma lógica de continuísmo; a outra, a que olha da popa, procurando, na névoa à frente, indícios ou tendências para o futuro próximo, considerando a dura transição do momento.

Claro é o fato de que o primeiro caminho não considera a profunda transição na sociedade moderna e se resume a imaginar uma volta a situações já vividas e sobre as quais se tem mais conforto. Certamente, é mais seguro prever algo com base no conhecido que vem do passado.

Mas os fatos do momento e os movimentos globais que hoje dominam são fatores de mudança sobre os quais tem-se muito menor segurança. As ondas das mudanças são muito fortes frente ao que se viu e viveu no passado. Por esses motivos, deve-se buscar a visão de proa, mesmo com as incertezas e a elevada possibilidade de erros.

O transatlântico Brasil vai navegando nas águas revoltas do declínio das economias avançadas, insistindo no rumo dos estímulos voltados para demandas, para medidas de curto prazo e sem a preocupação do longo prazo.

Os gastos de governo só crescem, os investimentos caem e a balança comercial brasileira sobrevive graças ao agronegócio, no qual o setor canavieiro é relevante, sendo o segundo maior contribuidor desse resultado com apenas 9 milhões de hectares cultivados, frente, por exemplo, aos cerca de 180 milhões de hectares com pastagens no Brasil.

O cenário dos produtos do setor cana é, em teoria, excepcional: a tendência é de se ter um crescimento do mercado mundial, até 2020, de um volume de açúcar equivalente a tudo o que o Brasil produziu em seu momento máximo; o crescimento do consumo de energia é acima de 10% ao ano, sendo muito forte a procura por energias renováveis, em processo de substituição das de fósseis, o que valoriza o etanol e a cogeração de energia elétrica.

As condições da demanda por produtos setoriais são, portanto, excepcionais. No entanto já se tem mais de três safras em que não se consegue ter a oferta alcançando a demanda, criando um cenário muito negativo a respeito da capacidade de o setor produtivo crescer na velocidade necessária para atender à procura.

A visão de um mundo em transição compõe um cenário de competição entre matérias-primas e entre países, onde vários são os aspectos dessa competição, desde os relativos aos índices macroeconômicos como câmbio, juros, inflação e os relativos às políticas públicas. Importantíssima também a questão da produtividade e qualidade da cana-de-açúcar.

O Brasil se caracteriza pela qualidade e quantidade de seus recursos naturais, mas tem dificuldades crescentes com a disponibilidade de capital e da qualidade e quantidade de seus recursos humanos. Se, por um lado, não falta criatividade ao setor produtivo, assim como há o domínio sobre a tecnologia tropical, por outro lado, os indicadores de endividamento são assustadores. Isso significa que boa parte das empresas terá muita dificuldade de obtenção de crédito para renovação dos seus canaviais ou para expansão deles.

Ao se trabalhar essas questões, a primeira reação é a de se imaginar grandes dificuldades, no sentido de atender ao crescimento necessário. Se não é possível contar com todos em expansão, ou a grande maioria, tem-se uma barreira à velocidade necessária. Afinal, trata-se de recuperar a produtividade na área atual e de se expandir com produção qualificada em novas áreas produtoras.

A visão prospectiva, com transparência, requer medidas de longo prazo, seguras. O processo de consolidação setorial é outro que tem a visão oposta, no curto prazo, da expansão. No médio prazo, empresas mais sólidas tendem a expansão mais efetiva.

Se há tecnologia, conhecimento, estrutura e gente, o capital externo e mesmo o interno somente virão com transparente política setorial, de longo prazo. Não se pode dizer que a atual tem lógica, na medida em que, em 10 anos, matou a CIDE, imposto criado em 2002 para compensar a competitividade com a gasolina.

Sem a CIDE, o etanol tem imensa dificuldade de competir com a gasolina ao consumidor. Em síntese, a retomada do crescimento começa na real colocação do negócio sucroenergético como prioridade do País.