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Ricardo Castello Branco

Diretor de Etanol da Petrobras Biocombustíveis

Op-AA-26

A Petrobras e os biocombustíveis

Os biocombustíveis são um dos seis pilares da atuação da Petrobras, ao lado da exploração de produção de petróleo e gás, do abastecimento e distribuição de derivados, comercialização de gás e energia e da petroquímica. A estratégia dos biocombustíveis é atuar no Brasil e no exterior de forma integrada ao sistema Petrobras, aproveitando as vantagens como produtor – através da Petrobras Biocombustíveis –, como distribuidor de combustíveis – através da BR Distribuidora –, e uma área de comercialização com forte presença mundial na comercialização de combustíveis e crescente de biocombustíveis.

Os planos de negócios da Petrobras para biocombustíveis preveem a expansão contínua da produção buscando a integração com petróleo e derivados. Nos próximos cinco anos, a Petrobras investirá US$ 224 bilhões, dos quais US$ 3,5 bilhões (1,56%) estão reservados para os biocombustíveis, sendo US$ 2 bilhões na produção de etanol, US$ 400 milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e US$ 700 milhões em logística.

Em termos de produção, temos metas ambiciosas. Em 2014, estaremos envolvidos na produção de 2,6 milhões de m3 de etanol/ano. A Petrobras Biocombustíveis foi criada em 2008. Temos participação ou somos operadores de 14 unidades de produção de biocobustíveis em todo o País, das quais 4 são de biodiesel e 10, de etanol. Iniciamos a produção de etanol no ano passado em parceria com a Total, em Minas Gerais.

Este ano, anunciamos a parceria com o Grupo Tereos, na Guarani, hoje com sete unidades em São Paulo e uma em Moçambique, e outra parceria com a São Martinho na Usina Nova Fronteira, em Goiás. Esses ativos atingem uma moagem de 24 milhões de toneladas de cana, com uma produção de 900 mil m3 de etanol. O citado aumento de produção virá prioritariamente do crescimento dessas empresas em que temos sociedade.

Em termos de logística, a Petrobras tem uma participação de 33% na empresa PMCC (formado pela Petrobras, Mitsui e Camargo Corrêa), criada para desenvolver um projeto logístico para o etanol, por meio de dutos, ligando o Centro-Oeste até o litoral do Sudeste, em uma extensão de quase mil quilômetros. O sistema previu um duto de Uberaba-MG, passando por Ribeirão Preto-SP, chegando a Paulínia-SP. Esse duto está em fase de licenciamento, com início de construção ainda em 2010.

Num outro sistema, a Transpetro, nossa subsidiária para transportes, já está licitando a aquisição de barcaças para fazer o transporte ao longo da hidrovia Tietê-Paraná, ligando Aparecida do Taboado-MS até Santa Maria da Serra-SP e de lá, por dutos, até Paulínia-SP. E, a partir de Paulínia, por um sistema já existente, até os terminais em Ilha D´Agua e São Sebastião, no litoral do estado de São Paulo. Investimento em logística em transporte interno e transporte embarcado são fundamentais para transformar o etanol numa commodity global.

Com relação à matriz energética brasileira, o sistema cana-de-açúcar já é, destacado, a segunda fonte de energia primária do País com 18%, que, somados aos 15% da hidráulica, aos 10% da biomassa e aos 4% de outras fontes totalizam 47% do montante utilizado no Brasil como fontes renováveis, contra uma média de 19% do mundo e 7%  da OECD – organização formada pelos países mais ricos do mundo.

Segundo estudos da Petrobras (dados considerados até este ano como sigilosos), a demanda global de energia projeta entre hoje e 2030 um crescimento anual entre 1,30% a 1,32%, fazendo com que saiamos dos atuais 12,974 milhões de toneladas-equivalentes-de-petróleo por ano para entre 17,236 e 17,324, quer permanecendo o comportamento atual, quer numa opção maior por combustíveis de baixo carbono.

A representação de cada item teria o seguinte quadro: o petróleo deve cair de 33% para entre 28-29%; o gás deve permanecer na faixa de 22%; o carvão deve crescer de 26% para entre 28-29%; a energia nuclear deve permanecer na faixa dos 6%; a hidráulica deve crescer dos 6% para 7%; outras fontes renováveis devem crescer dos atuais 0,5% para 2%; a biomassa tradicional deve permanecer na faixa dos 7%, e os biocombustíveis devem sair da casa dos 0,4% de hoje para algo próximo a 1%.

Para atingir esse patamar, os biocombustíveis deverão crescer a uma taxa anual entre 5,2% e 6,1%, atingindo algo como 12 vezes a produção atual. Ao contrário do que parece, é um mercado gigantesco, que representa quase duas vezes a atual produção brasileira de petróleo. Segundo as consultorias que nos assessoram, existem alguns fatores que limitam um crescimento maior do mercado de etanol.

Os principais competidores são: o aumento da eficiência energética, os carros híbridos, os carros híbridos elétricos e os carros a bateria.

Na prática, os três grandes bloqueios para esse crescimento são: a segurança de suprimento, a existência de um mercado com poucos países exportadores e as questões ligadas à sustentabilidade. Como registro, com relação à projeção do preço do petróleo nesse período de 20 anos, segundo essas consultorias, pode chegar acima de US$ 100, em torno de 2020, e acima de US$ 130 mais para frente.

A Petrobras trabalha os cenários com valores mais conservadores, para ter investimentos que deem retorno em qualquer cenário, já considerando um aumento expressivo dos custos de produção e do aumento de consumo, especialmente da China e Índia. Na busca de um grande crescimento do etanol, em termos globais, a Petrobras vem fazendo um forte investimento em tecnologia com uma estratégia muito bem definida.

Trabalhamos com o tripé: expansão dos limites da produção atual (envolvendo novas matérias-primas); produtividade das culturas e técnicas de produção e logística de matéria-prima; o aproveitamento de resíduos como matérias-primas tanto na rota enzimática, como rota termoquímica e bio-óleo, incluindo aí também as biorrefinarias.

Outra linha importante é a agregação de valores e diversificação de produtos  – a produção de diesel a partir de açúcares; biocombustíveis para jatos com seus altos requisitos de qualidade e um mercado imenso; o etanol para motores de ciclo diesel com vistas à Europa; a rota da alcooquímica e a produção de plásticos biodegradáveis. A questão da sustentabilidade fecha o tripé. Essas questões são importantes, pois podem evitar que todos os esforços realizados parem numa barreira não tarifária.

Com relação ao etanol de lignocelulósico pela rota bioquímica, processo em que muitos apostam, a Petrobras, que já tinha há três anos uma planta piloto em operação em nosso Centro de Pesquisas, ano que vem coloca em funcionamento uma planta protótipo. Sairemos da produção de quilos para toneladas por dia. Com o objetivo de acelerar esse processo, foi anunciada,  na semana passada, a parceria com uma empresa americana que já tem uma planta que produz 30-40 toneladas por dia a partir de resíduos de madeira.

Vamos adaptar o processo para trabalhar com bagaço de cana. Se tivermos sucesso, planejamos instalar uma planta anexa em nossas empresas parceiras já em 2013. Temos que olhar com muito rigor a questão da sustentabilidade. Temos que dar garantias de que o nosso etanol é sustentável. Temos que criar e implantar ferramentas de avaliação ao longo de todo o processo. De nada adianta cercar o processo produtivo e fazer o etanol viajar de caminhão por dois mil quilômetros.

Anulamos todo ganho conquistado. Temos que trabalhar com uma logística sustentável. São fundamentais questões como  balanço energético, emissão de poluentes nos processos industriais e agrícolas, uso da água, impactos sobre cursos d'água e à terra. Além dos impactos ao ecossistema, biodiversidade, uso de recursos naturais, temos também que considerar as questões sociais, condições de trabalho, segurança e saúde do trabalhador e até mesmo o impacto na produção de alimentos.

Temos que alicerçar as questões lógicas e destruir as bases das fantasias. Como desafios para a internacionalização do etanol, temos que desenvolver tecnologias diferenciadoras aumentando a eficiência da produção; sistema de verificação da sustentabilidade ao longo do ciclo de vida; ajudar a estabelecer a diversificação das fontes de suprimentos, pois não há como termos uma commodity internacional com um único país fornecedor.

Assim, é preciso que trabalhemos para incentivar o surgimento de novas fontes de suprimentos nos países com vocação para essa cultura, notadamente, nos países da África e da América do Sul, dando aos importadores opções de suprimento. O desenvolvimento de sistemas logísticos compatível com a logística de combustiveis é essencial; a questão de harmonização das especificações técnicas é vital para impedir a criação de barreiras não tarifárias. Enfim, é preciso trabalhar a questão da internalização do custo associado à emissão de carbono que os combustíveis fósseis carregam.