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Ricardo Castello Branco

Diretor de Etanol da Petrobras Biocombustível

Op-AA-30

Crescimento e investimento em todas as frentes

Para qualquer projeção que se faça no Brasil, o crescimento de renda da população se evidencia e, com ele, o crescimento do número de pessoas que passaram a poder ter um carro ou uma moto. Esse crescimento é maior, inclusive, que o crescimento da própria economia em si.

Os veículos flex serão a grande parte dos carros novos, e, por mais conservadora que seja a projeção, teremos um crescimento considerável da demanda de etanol para uso automotivo. Se imaginarmos 25% da frota flex rodando com etanol, chegaremos a 2019 com uma demanda de 34 bilhões de litros. Se esse cenário for de 50%, o número saltará para 52 bilhões.

O Plano Decenal de Energia enxerga um consumo, para 2020, acima dos 60 bilhões de litros de etanol. Certamente, isso depende de quanto o etanol vai ser competitivo em relação à gasolina. As consultorias da Petrobras projetam que, em 2015, o valor do barril de petróleo estará entre US$ 170 (o valor mais alto) e US$ 60 (o valor mais baixo).

A Petrobras trabalha com números conservadores, entre US$ 80-95, como base para seus estudos e projeções. Nossa crença é de que o valor vai estar acima dessa faixa, próxima dos US$ 100/barril. O cenário que temos de futuro é de preços elevados do petróleo, e, cedo ou tarde, isso será trazido para o mercado interno, viabilizando, assim, uma produção competitiva de etanol.

A Petrobras tem um compromisso expresso com o desenvolvimento sustentável. Essa é a razão de ela ter estabelecido, há alguns anos, reafirmando ano a ano, como um dos pilares de sua estratégia, ao lado da produção de óleo e gás – de forma sustentável, posicionando a companhia entre as cinco maiores produtoras de petróleo do mundo; ao lado do refino –, assegurando o abastecimento nacional e a liderança na distribuição; ao lado do gás natural – atividade mais nova na qual temos crescido bastante; e, ao lado da petroquímica, temos o quinto suporte da visão estratégica do sistema Petrobras, que é atuar no Brasil e no exterior no segmento de biocombustíveis, de forma integrada a todas as demais operações do sistema Petrobras.

Essa integração se desdobra em algumas orientações, dentre as quais destaco a de buscar fazer isso de forma a assegurar o domínio tecnológico para a produção sustentável de biocombustíveis, de forma alinhada às estratégias do negócio. Estamos falando de combustíveis de segunda geração, de outros derivados do açúcar e da cana, levando a produtos de alto valor agregado.

Entre 2011 e 2015, a Petrobras vai investir US$ 225 bilhões, sendo que 2% desse valor serão investidos em biocombustíveis. Pode parecer pouco, mas representa US$ 4,1 bilhões, dos quais US$ 1,9 bilhão em etanol, US$ 1,3 bilhão em logística para o etanol, US$ 600 milhões em biodiesel e US$ 300 milhões em P&D. Temos também metas de produção, envolvendo as sociedades das quais a Petrobras Biocombustível participa, chegando a 2015 com 5,6 milhões de metros cúbicos de etanol e 855 milhões de metros cúbicos de biodiesel, o que nos colocará entre os 5 maiores produtores mundiais de biocombustíveis em 2020.

Hoje, temos 15 unidades, como operadores ou sócios. Temos 5 usinas de biodiesel em operação – com 2 projetos importantes no Pará, que trabalha com a palma, associada com reflorestamento, plantada em áreas degradadas, com uma produtividade de 5.000 litros por hectare. Temos 4 mil hectares plantados, nos dois projetos, voltados para o mercado nacional e para o mercado europeu.

Quanto ao etanol, temos 3 sociedades no Brasil, com um total de 10 usinas. O primeiro movimento foi uma sociedade com a Total Agroindústria, um projeto com um potencial de crescimento muito grande, com uma duplicação em andamento, com moagem plena prevista para 2013-14. O movimento seguinte foi a sociedade com a Guarani, empresa brasileira, pertecente ao grupo francês Tereos, que opera 7 usinas no Brasil, formando um cluster de cerca de 200 mil hectares de canaviais.

Nessa sociedade, temos também um projeto na África, em Moçambique, envolvendo uma usina que produzia apenas açúcar, com o melaço exportado para a Europa. Estamos viabilizando as condições econômicas adequadas para adaptar essa usina para a produção de etanol, visando ao desenvolvimento do mercado nacional local. Hoje, Moçambique importa 100% dos produtos de petróleo.

Temos uma terceira sociedade com a Nova Fronteira, do Grupo São Martinho, que opera a Usina Boa Vista, em Quirinópolis. Estamos desenvolvendo também o estudo de um projeto greenfield de grande potencial.

Estamos investindo em ampliações dos ativos da Guarani, junto com o grupo Tereos, R$ 780 milhões, para o aumento da capacidade de moagem e exportação de energia. Na Usina Boa Vista, na Nova Fronteira, a maior usina de etanol de cana do mundo, os  investimentos são da ordem de R$ 520 milhões; vamos aumentar a capacidade de moagem, já para a safra 2014-15, de 2,35 para 8 milhões de toneladas, aumentar a potência instalada de 80 para 155 MW e uma produção de energia de 265 para 600 GWh, dentre outros investimentos operacionais.

O fato de a Petrobras estar participando, como sócios, em usinas existentes não quer dizer que não estamos trazendo etanol novo para o sistema. Trouxemos para essas sociedades uma alavancagem de crescimento que, possivelmente, elas não fariam, na mesma proporção, se estivessem sozinhas.

Num quadro antes de nossa entrada e depois de realizados os investimentos já aprovados, na Total, a sociedade representa um aumento da capacidade de moagem de cana de 1,2 para 2,4 milhões de toneladas; na Guarani, de 17,4 para 24,5; e, na Nova Fronteira, de 2,3 para 8,0. No que se refere à produção de etanol, na Total, saímos de 103 para 204 milhões de litros; na Guarani, de 455 para 925; e, na Nova Fronteira, de 121 para 600.

Com relação à capacidade de geração de energia, saímos na Total de 32 GWh para 86; na Guarani, de 255 para 1.172; e, na Nova Fronteira, de 121 para 600. Estamos, assim, falando de aumentos expressivos da capacidade de moagem, de produção de etanol e da exportação de energia. Em todas juntas, estamos plantando, neste ano, 60 mil hectares de cana, com crescimento maior ainda no ano que vem, em função dos investimentos aprovados.

Tecnologia é um fator importante na forma como a Petrobras vê os biocombustíveis. Na área de etanol, temos investido, desde 2004, num projeto próprio de etanol de segunda geração, junto com uma empresa americana, na Dakota do Sul, numa planta piloto que era voltada para madeira, que recebeu o bagaço de cana, vindo de trem para processar os testes.

Os resultados foram muito bons em nível experimental, com 300 litros por tonelada de bagaço seco, o que nos permitirá, em pouco tempo, ter um projeto básico de uma unidade industrial, de forma sinérgica com uma usina existente. Os números  dirão se podemos iniciar imediatamente ou se deveremos esperar um pouco mais para viabilizarmos essa operação.

Temos também investimentos para a produção de combustível de jato, o biojet, a partir de açúcares. Esse é um combustível que ainda não tem substituto validado, e é o mercado que mais cresce no mundo dentre todos os combustíveis líquidos. Quem chegar lá primeiro vai ter na mão um mercado fantástico, e, por isso, investimos.

A melhor, mais eficiente e mais barata fonte de carbono renovável que existe  é a cana-de-açúcar, e podemos pensar em cadeias de valores para a produção de lubrificantes, de produtos químicos, de fármacos, e passar a fazer de tudo o que se pode fazer com carbono, a partir de carbono renovável, através da química do açúcar da cana.

Temos investimentos em melhorias de processos de etanol de primeira geração: é um ganho marginal, mas enxergamos muita agregação de eficiência, de ecoeficiência, através de uso melhor da água e dos recursos.

Estamos trabalhando também da diversificação da matéria-prima, ao lado do etanol. Por exemplo, a São Martinho está fazendo uma safrinha com sorgo, num exercício para aprender, o que será um grande agregador de valor para a capacidade existente. Dando suporte a isso tudo, temos feito investimentos crescentes e importantes em biologia sintética e molecular, pois acreditamos que, com o apoio dela, chegaremos a resultados mais rapidamente.

Com relação à expansão com produtividade e sustentabilidade, numa visão de futuro, de como podemos produzir etanol novo através do aporte de recursos de tecnologia e inovação, acreditamos que possamos sair da média atual de 6.670 litros por hectare e ter um ganho de 830 litros com a renovação, de mais 2.000 litros com ganhos tecnológicos, de mais 900 litros com a implantação econômica da safrinha e de mais 1.600 litros com a utilização de parte do bagaço de cana – utilizando as tecnologias que já estão ao nosso alcance, podemos falar em algo em torno de 12.000 litros de etanol por hectare.

É o que chamamos de crecimento vertical, crescer na mesma área plantada, o que faz todo o sentido sob o ponto de vista econômico e ambiental.