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Maurílio Biagi Filho

Presidente da Maubisa, São Paulo

Op-AA-09

Cabe a nós transformarmos o Brasil no país do presente

Como notícia boa não é notícia, apenas o que está fora de conformidade é noticiado. Enquanto isto, alguns trabalhos extraordinários realizados pelo setor sucroalcooleiro na área ambiental não são sequer mencionados. O setor deveria preocupar-se em divulgar esses trabalhos, até porque a sociedade merece ter informações claras sobre essa complexidade, que só entrava e não traz nenhum benefício ao Estado brasileiro. Particularmente, não acredito ser possível chegar a um bom resultado, sem uma grande revolução, em termos de governança ambiental.

Hoje, todos sabemos das vantagens proporcionadas pelo uso do álcool em relação ao meio ambiente. O álcool, quer como aditivo, quer como combustível misturado ou puro, melhora muito a sua qualidade do meio ambiente, combatendo diretamente o efeito estufa. Porém, uma dúvida parece persistir: qual é a relação da cana com o meio ambiente?

Fala-se muito em defesa da natureza e da melhoria da qualidade ambiental, e todos superficialmente concordamos que é o melhor caminho a seguir. Porém, temos que encarar de frente o fato que, desde há muito, a nossa cultura inclui um comportamento que usa o espaço público urbano como se fosse particular, que despeja esgotos nos rios indiscriminada-mente, que acha que a água nunca vai acabar.

E isso não é privilégio do brasileiro, infelizmente. A abundância de recursos naturais na sociedade ocidental e as dimensões continentais das terras enfatizam mais ainda esse comportamento. Se de um lado falamos muito em desenvolvimento sustentável, por outro nos faltam políticas públicas claras e mudança efetiva de cultura, que nos levem a um resultado real.

A cana-de-açúcar carrega o estigma de ter sido a principal cultura da nossa colonização, e traz consigo lembranças negativas, como injustiça, dominação, escravatura. Portanto, ainda é vista com preconceito e um ranço, que estamos tentando esclarecer há muito tempo, para que as pessoas possam ver, por trás deste preconceito, uma das culturas que trazem muito mais do que só benefícios ambientais ao País.

Os impactos ambientais gerados pelo agronegócio, normalmente estão relacionados ao manejo inadequado, falta de investimentos em controles e em técnicas de produção sustentáveis. Dentre as atividades agrícolas, a cana  é uma exceção. Ela usa poucos agroquímicos, apresenta baixo índice de erosão do solo, tem menos impacto negativo sobre os recursos hídricos e gera, efetivamente, renda e empregos, que evitam o fluxo de trabalhadores rurais para os centros urbanos.

Sobre o efeito estufa e as mudanças climáticas, destacamos que o uso da cana-de-açúcar, como fonte alternativa de energia, retira do ar mais de 20% do total de CO2 emitido. Consideremos, portanto, como notícia, o alto poder de fotossíntese da cana, já descontadas as queimadas, que a cada ano diminuem.

Ainda não nos demos conta que temos o maior Programa de Energia Renovável e Limpa do mundo, alternativa real aos combustíveis fósseis, sucesso reconhecido mundialmente. E o detalhe mais importante, baseado numa biomassa como a cana, que é capaz de conviver com nossos solos e nosso clima em rara harmonia, dentro dos padrões de qualidade ambiental necessários.

De repente, o mundo todo se volta ao etanol de cana, até porque a vantagem energética em relação ao milho é gritante. O carro flex veio agregar a tecnologia que permite ao consumidor brasileiro o que nenhum outro no mundo tem: o poder de escolher qual o combustível, ou mesmo que mistura de combustíveis, vai utilizar. Só no Brasil ainda não temos o nosso Programa de Créditos de Carbono. No Japão, por exemplo, a idéia é utilizar os Créditos de Carbono em benefício da economia.

Na Grã-Bretanha, já se estuda a possibilidade de estabelecer um limite individual de emissão de carbono, pois a poluição individual responde por 44% das emissões britânicas, ocorrendo em atividades como dirigir automóvel, andar de avião, uso de energia elétrica e aquecimento doméstico. Os cidadãos mais econômicos obteriam créditos a serem utilizados. Temos tentado, há anos, estabelecer o nosso Programa de Créditos de Carbono, em vão.

Houve até um acordo entre o governo brasileiro e o governo alemão, onde o próprio Tesouro Alemão pagaria pela obtenção dos créditos de carbono, gerados em função da Volkswagen vender 100.000 carros a álcool para Alemanha. O que nunca aconteceu. Podemos também abordar o tema da cogeração de energia a partir da biomassa como outro fator importante dentro do tema ambiental. A capacidade atual do setor é de cerca de 3.400 MW de geração e cogeração, e deve se aproximar de 6.000 MW, em 2010.

Isto quer dizer que todas as usinas são auto-suficientes em produção de energia e muitas, além do consumo próprio, ainda comercializam seus excedentes. Ainda faltam alguns ajustes na legislação para estimular um crescimento ainda maior na oferta de energia cogerada por parte das usinas. A minha famosa frase, hoje muito repetida, que havia uma Itaipu adormecida nos canaviais e que parecia um sonho, está se transformando em realidade.

Porém, por incrível que possa parecer, as instalações geradoras que já operavam antes do Protocolo de Quioto não têm direito a créditos de carbono, enquanto as posteriores o têm, apesar de serem idênticas, o que demonstra o lobby dos países ricos, responsáveis por mais de 60% da poluição universal. Diante desses fatores, a expansão do setor conta com 100 novas usinas, com investimentos previstos da ordem de R$ 33 bilhões, incluindo a necessidade de se incorporar mais de 3 milhões de hectares de terras subaproveitadas.

A área de cana total do país deverá alcançar mais de 8 milhões de hectares até 2012, contra mais de 30 milhões de hectares de área cultivada com soja. Trata-se da expansão da produção de uma biomassa compatível com as questões ambientais mais relevantes. O que nos falta é valorizar o que é nosso, as vantagens comparativas que detemos, não só produtivas, mas também ambientais, buscando consolidar a nossa liderança mundial em etanol. Não existe nenhum conjunto mais positivo para o país do que este formado pela cana, pelo álcool e pela geração de energia. O Brasil tem tudo a seu favor – cabe a nós transformarmos o país do futuro em país do presente.