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Tadeu Luiz Colucci de Andrade

Diretor da Universidade Canavieira

Op-AA-48

O desafio da formação profissional
Enfrentando e vencendo cíclicas crises, o setor sucroenergético sempre teve o suporte de evoluções tecnológicas disponibilizadas por centros de pesquisas públicos e privados. Hoje, ele se apresenta menos farto do que foi recentemente, fruto da desaceleração da economia, minguados recursos disponibilizados pelos órgãos financiadores de pesquisa e, principalmente, pouca ou nenhuma formação profissional dirigida ao setor. Na retomada de crescimento após a última crise, foi notória a falta de profissionais que pudessem atender à então promissora demanda.

Esse fato expôs a inexistência de planejamento nas unidades produtoras quanto à capacitação de seus profissionais, faltando  mão de obra minimamente preparada para atender ao crescimento das empresas. Na época, observamos que, pela primeira vez, o setor de canavieiro buscou profissionais em outras áreas da economia. Assim, a indústria de bebida e a alimentícia foram as grandes fornecedoras de uma nova geração de profissionais necessários para atender ao setor.

Vivemos novamente uma já duradoura crise no setor. Entre todas as consequências que isso traz, uma, em especial, se repete: desemprego em massa da mão de obra qualificada. Exceção a isso são as empresas que possuem área de gerenciamento de pessoas, com profissionais voltados à qualificação de seus funcionários. Essas são as empresas vencedoras de todas as crises e que, após cada período negativo, se recuperam mais rapidamente; no geral, são empresas compradoras daquelas que negligenciaram na capacitação de seu quadro de funcionários.

 
Isso está levando o setor a uma grande consolidação com a formação dos megagrupos. Para eles, no que se refere à capacitação profissional, surge um grande desafio, que é a padronização da formação profissional. Como é impossível reunir profissionais das diferentes unidades em uma mesma equipe de treinamento, o que se consegue é treinar apenas uma pequena parte deles e, no geral, com instrutores diferentes. A consequência disso é uma total falta de padronização na capacitação. Isso fica claro quando se observa a variabilidade de manutenção de alguns itens em usinas e destilarias de um mesmo grupo.

Outros setores da economia encontraram a saída para essa uniformização da capacitação profissional. Na área médica, já é possível treinamento à distância, inclusive na área cirúrgica. Cursos on-line de MBA são disponibilizados pelas melhores universidades. Vamos observar dois setores que são um bom exemplo de aprendizado para nossa área. Um deles é o da área da telefonia celular. O mesmo aparelho é vendido em milhares de pontos de venda, e a informação disponibilizada para o usuário deve ser rigorosamente a mesma, sob pena de caos nas centrais de atendimento. O mesmo acontece com as redes especializadas em eletrodomésticos. Imaginem esses dois setores sem a padronização de informação a seus funcionários.

 
A ferramenta utilizada por eles é o treinamento on-line. Todos os profissionais fazem exatamente os mesmos cursos. Reciclam de acordo com a necessidade. O material está sempre disponível na internet.  É rico em informação e de fácil acesso. Na área agrícola, essa é uma tecnologia que está apenas começando, e as empresas vencedoras, como sempre, estão saindo na frente. Hoje, todas as empresas são atendidas por uma forte área de informática, com profissionais muito bem qualificados. Essa é a estrutura básica para a adoção de uma capacitação profissional on-line. Ou seja, não necessita de investimento extra. A mão-de-obra a ser qualificada já está empregada. Então, qual é o problema?
 
É perceptível que a área de desenvolvimento de pessoas nas unidades produtoras ainda está pouco preparada para a nova e revolucionária ferramenta de desenvolvimento profissional. Tenho observado que, no geral, os responsáveis pelas áreas de treinamento raramente se utilizaram de treinamento pela internet e, dessa forma, se mostram indecisos frente ao novo, priorizando os chamados treinamentos presenciais, nos quais se “treinam” pessoas em pequenos grupos e em diferentes momentos, o que gera uma não padronização.

Além disso, enfrentam problemas de disponibilidade de agenda dos treinadores nos momentos em que as empresas mais necessitam. O treinamento on-line tem flexibilidade para ser programado de acordo com a necessidade das empresas, não dependendo de agenda dos consultores. E aqueles momentos de paradas na área agrícola ou industrial, podem ser preenchidos com  treinamentos e reciclagem dos profissionais.

 
Para atendimento a essa nova forma de capacitação profissional, as empresas-escolas especializadas no setor disponibilizam cursos on-line para as áreas de desenvolvimento agrícola, industrial e laboratorial. Os cursos são, normalmente, ministrados por profissionais-referência em suas áreas de atuação. Como sempre, não existirá vida fácil na retomada do crescimento. É preciso que o alicerce esteja pronto para a hora da retomada, e não haverá reconstrução sem profissionais qualificados. Se pouca ação temos sobre as crises econômicas, temos toda a ação possível para que a crise de mão de obra especializada não se instale novamente nas empresas.