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Eliana Aparecida Canevarolo

Presidente do Gegis, Grupo de Estudos em Gestão Industrial do Setor Sucroalcool

Op-AA-34

O setor sucroenergético precisa de unidade e diálogo

O setor sucroenergético é cíclico. Desde o Proálcool, que abriu efetivamente as válvulas dessa indústria, em meados da década de 1970, até os dias de hoje, muitos foram os altos e baixos desse segmento.

Especialmente nas últimas duas décadas, testemunhei de perto as nuances dessa engrenagem responsável por uma fatia estratégica da economia brasileira. Tive a oportunidade de vivenciar o debilitado álcool hidratado dos anos 1990, que abastecia uma frota antiga de veículos movidos apenas pelo biocombustível da cana.

Havia demanda de álcool anidro para ser misturado à gasolina, mas isso não era  suficiente para reerguer o projeto que havia vivido seus melhores momentos na segunda metade dos anos 1980.

Mas também vi renascer a esperança dos produtores no começo deste século, mais especificamente em 2003, quando foi lançado o primeiro modelo de carro flex, uma revolução no setor. Pouco tempo depois, o etanol, nova denominação do álcool, passou a abastecer também as pautas de importantes reuniões globais sobre sustentabilidade.

Afinal, em um planeta castigado pelos altos índices de emissão de GEE - Gases de Efeito Estufa, o estímulo ao uso de um biocombustível renovável passou a ser de fundamental importância. Concordo com os especialistas que acham o etanol uma realidade irreversível, um combustível limpo, com apelo ambiental, consolidado na matriz energética brasileira.

Mesmo com a característica cíclica do setor, é indiscutível o fato de que os produtores brasileiros somam pontos positivos para o mundo quando reiteram a aposta no combustível renovável da cana-de-açúcar. Desde 1975, por causa do Proálcool, o País substituiu por etanol pelo menos 2,2 bilhões de barris de gasolina.

A cada ano, o Brasil economiza 120 milhões de barris do combustível fóssil usando álcool da cana.

Preocupa-me, no entanto, o fato de que, na safra passada, 26 usinas não moeram cana na região Centro-Sul do País. A crise, estimulada por uma série de fatores, entre os quais problemas regulatórios e de clima, só não é maior pela diversificação da produção. Além de etanol, temos o açúcar e a cogeração de energia com palha e bagaço. Hoje, 33% da cana produzida no Brasil são destinados ao açúcar de exportação.

O setor sucroenergético brasileiro precisa crescer de forma contínua e, para isso, precisa equalizar seus pontos de apoio. No que diz respeito ao domínio tecnológico, às pesquisas agrícolas e ao envolvimento dos profissionais da cadeia produtiva, estamos bem servidos. Temos uma indústria moderna e uma lavoura desenvolvida; servidos por uma indústria de base criativa e eficiente, além de centros de excelência em pesquisas.

No entanto, sinto que precisamos de uma representatividade equilibrada, que contemple os interesses do setor de uma forma estratégica. Porque se trata de um segmento estratégico, mas vive hoje uma realidade desconfortável. Apontar um ou mais responsáveis pela instabilidade atual do setor não seria uma ação inteligente. Mas bater no peito e levantar a bandeira do diálogo, sim.

Estrutura, evolução, consolidação e visibilidade são conquistas de quem dialoga. O setor sucroenergético quer ser contemplado com incentivos públicos específicos para o segmento, assim como ocorre com os derivados de petróleo. Queremos, sim, um marco regulatório. Afinal, a falta de apoio se reflete na competitividade do produto nacional.

Como pode ser tão claro e, ao mesmo tempo, tão difícil alcançar? Quem ganha e quem perde? De quem é a culpa? Certamente de todos os interessados no setor. Por isso defendo o diálogo. A harmonia depende da coerência.

Observe, escute uma orquestra sinfônica de qualidade.
Seus inúmeros músicos e instrumentos precisam estar afinados. O maestro, com sua batuta, apenas integra o grupo. Conduz com base no que está escrito, combinado. Um ou mais solistas se destacam, mas dentro do contexto da obra. Faça essa analogia.

Presido o Gegis, um grupo de estudos em gestão industrial do setor que se reúne uma vez por mês em Sertãozinho-SP e em Dourados-MS, para promover a integração dos profissionais que vivem o dia a dia das usinas e destilarias. O Gegis foi criado há onze anos, motivado justamente pela dificuldade no intercâmbio de informações entre as unidades industriais.

Havia, na ocasião, assim como hoje, a necessidade de uma maior aproximação entre os gestores da área industrial, para que os problemas e as soluções fossem discutidos, fracassos e sucessos, compartilhados. Já no primeiro encontro, me convenci de que a comunicação entre as empresas era fundamental para uma gestão bem-sucedida.

Hoje, promovemos encontros produtivos, com temas atuais, sugeridos pelos participantes que buscam ferramentas para melhorar seus processos. Nos encontros, discutimos os indicadores de desempenho industrial das usinas associadas ao Gegis. Avaliamos, entre outros parâmetros, a eficiência e a disponibilidade da indústria, os índices de impurezas, ATR, o volume de torta produzida e a fibra da cana, a partir de dados fornecidos pelas usinas.

Os encontros mensais também contam com palestras de especialistas, das mais variadas fases do processo industrial, que apresentam o que há de mais moderno no mercado, tanto em tecnologia, quanto em pesquisas e novos conceitos. É esse o diálogo que promovemos. É a contribuição que podemos dar para ajudar o setor a caminhar em frente.

A indústria canavieira é pujante. Claro, é um setor sensível, como qualquer atividade do agronegócio, mas tem capacidade para crescer muito mais. Estamos à beira da realidade comercial do etanol de segunda geração, o que já está modificando alguns conceitos e despertando a criação de novas tecnologias.

Somos criadores de empregos e divisas. Na safra 2011/12, o setor gerou 943 mil empregos diretos e 2,1 milhões indiretos em todo o País. São 70 mil fornecedores de cana, 413 plantas industriais e R$ 50 bilhões de receita. Temos como crescer, tanto em produtividade, quanto em novas áreas, sem invadir biomas essenciais para o Brasil, com respeito à natureza.

O Brasil, por vocação, integra com louvor a lista de nações que se preocupam realmente com o meio ambiente. Temos nas mãos um "diamante" potencial, cuja lapidação vem sendo feita aos poucos. No entanto, com sinergia, podemos acelerar esse processo e tornar o setor cada vez mais resistente aos percalços. Mas, para isso, é preciso unidade. Diálogo.