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Jorge Luis Donzelli

Diretor Técnico da Lidera Consultoria e Projetos

OpAA70

Subindo a régua

O manejo agrícola desenvolvido na área da ciência agronômica tem como principal função dar suporte e criar condições adequadas para a máxima expressão gênica das variedades ou híbridos de plantas, para isso, é necessário “subir a régua”, ou seja, precisamos entender onde estávamos, aonde chegamos e onde estaremos daqui a alguns anos.


Nada melhor que se situar no tempo e na régua. Na década de 1970, no Brasil, nossa produtividade média era de 52,9 t/ha e, hoje, na safra 2020/2021, temos 75,5 t/ha, contados os efeitos adversos do clima e aplicando o manejo atual. Podemos notar, no gráfico 1, que mostra a produtividade de cana-de-açúcar na área de cultivo no Brasil nas últimas 43 safras, que tivemos uma evolução na produtividade, que propiciou a utilização de menor quantidade de terras, contribuindo para a sustentabilidade ambiental, através da introdução constante de novas tecnologias.  Subimos a régua.


Se tivéssemos, hoje, a mesma produtividade de 1977,  utilizando a tecnologia agrícola de 43 anos atrás, estaríamos utilizando 3,3 milhões de hectares de terras a mais, ou seja, aproximadamente 13,3 milhões de hectares.


Ao examinar com mais cuidado os dados desse gráfico, nota-se que, a partir do ano de 2011, tivemos uma tendência de queda de produtividade e que só voltamos a crescer a partir de 2014.


Hoje, temos uma produtividade média, no Brasil (75,5 t/ha), semelhante à obtida em 2006 (74,7 t/ha), quando a produtividade agrícola da cana-de-açúcar estava em franca ascensão. Seria esse decréscimo de produtividade ligado a alguma adoção em massa de tecnologia?


Dados comparativos obtidos pelo Censo 2020 do IAC, mostram uma relação entre adoção da colheita mecânica e um decréscimo da média móvel de ATR, a partir da safra 2006 (índice de mecanização aproximado de 30%), atingindo seu mínimo na safra 2017 (Índice de mecanização aproximado de 95%), conforme destacado no gráfico 2 – que expõe o valor de ATR na média móvel de 3 anos e índice porcentual de adoção de colheita mecânica no Brasil. Não afirmamos que essa queda é somente decorrente de adoção de colheita mecanizada, mas esse exemplo mostra os impactos, tanto positivos quanto negativos, da adoção de uma tecnologia.


Felizmente, nota-se, nos dados, uma recuperação da produtividade agrícola de 2015 até 2020 e da média móvel de 3 anos do ATR nos anos de 2018 em diante, talvez até por condições melhores de maturação da cana-de-açúcar, somadas a um aprendizado de manejo da colheita mecânica.


A recuperação de produtividade no exemplo citado pode ainda demonstrar o efeito da introdução de novos pacotes tecnológicos. Claro que, ao atingirmos níveis mais altos de produtividade de cana-de-açúcar, os recordes ficam mais difíceis de serem quebrados.


Muito investimento em ciência agronômica deve ser alocado no desenvolvimento e na transferência de tecnologia aos agricultores. Não há saltos em ciência. Existem desenvolvimentos constantes que, somados/multiplicados, atingem o famoso breakthrough, ou ruptura tecnológica. Ao público pode parecer que “estalamos os dedos” e tivemos as variedades transgênicas de cana-de-açúcar, mas anos de esforços tecnológicos e altos investimentos foi o que propiciaram o desenvolvimento dessa tecnologia.


Por falar em desenvolvimento e transferência de tecnologia, já foi dito que a melhor forma de transferir tecnologia para agricultores é fornecer a eles plantas melhoradas geneticamente.


De fato, temos assistido, anualmente, lançamentos de novas variedades de cana-de-açúcar liberadas por nossos três principais programas de melhoramento (Ridesa, IAC, CTC). A eles junta-se a GranBio, com suas variedades de cana-energia, o que abre um excepcional leque de oportunidades para o agricultor canavieiro.


Hoje, temos variedades de cana convencional, transgênicas e a cana-energia, que podem ser plantadas nos mais variados ambientes de produção edafoclimáticos.


Com tal arsenal à disposição, segundo o censo anual do IAC, utilizando dados de unidades produtoras do Centro-Sul do Brasil, a média de produtividade das últimas 10 safras (de 2010 a 2020) foi de 79,3 toneladas de cana por hectare, utilizando as médias por corte e desprezando a cana bis.


Esses dados podem parecer contraditórios com os anteriormente apresentados, mas esse valor de produtividade já pode representar um início de recuperação decorrente da aplicação de novas tecnologias de plantio, colheita e tratos culturais nas novas variedades, decorrente de um universo de empresas que são pioneiras na aplicação de novas tecnologias agrícolas. Ressalte-se que, desde 2014, temos enfrentado variações climáticas que têm afetado a produtividade final. Ainda assim, há essa constatação no censo do IAC.


O atual plantel de variedades tem se beneficiado dessas novas tecnologias. Por exemplo, a utilização dos produtos biológicos deverá crescer, em 2021, cerca de 33% na cana-de-açúcar, passando dos atuais R$ 264 milhões para R$ 353 milhões nas vendas totais. Como um todo, o mercado no Brasil teve, no último ano, o lançamento de 96 novos produtos da linha biológicos. Desde 1991, são 433 novos produtos


Na lista de tecnologias emergentes que trarão grandes benefícios para a cana-de-açúcar, está a agricultura digital, que abrange a utilização de geoprocessamento, internet das coisas, sensores de monitoramento, inteligência artificial, veículos autônomos, Big Data, tecnologia da informação e comunicação (TIC), computação em nuvem, tecnologias embarcadas em máquinas agrícolas e sistemas de irrigação autônomos. Um exemplo é o acompanhamento das falhas nos canaviais através de drones. Há um potencial de recuperação de problemas de plantio, assim como nos canaviais de estágios mais avançados.


Na decisão de replantio, considera-se, além das falhas obtidas pela análise das imagens tomadas por drones, a idade do canavial. Mas, além disso, é importante levantar também o nível dessas falhas, pois a cana tem uma capacidade de compensar esses intervalos sem plantas, principalmente aqueles menores que cinquenta centímetros, tornando os resultados aquém do esperado. Entretanto temos notícia de que empresas têm alcançado sucesso com o emprego do pacote tecnológico, com resultados de 8 a 10 toneladas, quando comparado ao controle. Há também um outro benefício, que é o aumento da longevidade desse canavial.


A lista de tecnologias emergentes para cana-de-açúcar é vasta. Como já ressaltado, há necessidade de mais investimento em pesquisa e desenvolvimento e transferência de tecnologia, para que essas novidades cheguem às mãos dos agricultores canavieiros, subindo a régua da produtividade.