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Andy Duff

Food & Agribusiness Research & Advisory do Rabobank Intl Brasil

Op-AA-31

Uma revolução incompleta

A indústria brasileira de açúcar e etanol está passando por um período de mudanças profundas. Não é difícil reconhecer que, na última década, uma série de grandes mudanças atingiram o setor. Dentre essas principais alterações, podemos citar:

A revolução no campo: o cultivo de cana-de-açúcar se expandiu para muito além das regiões tradicionais de São Paulo/Paraná, indo para as "novas fronteiras" de Goiás,
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, as quais possuem diferentes características agroclimáticas em comparação com as regiões tradicionais.

Houve também a difusão de novas tecnologias, como colheita mecanizada e, mais recentemente, o plantio mecanizado, gerando  consequências para a gestão  agrícola e a produtividade no campo.

A revolução no mercado: os carros flex, que só se tornaram comercialmente disponíveis em 2003, alcançaram recentemente 50% da frota de veículos leves. O mercado brasileiro de combustíveis tem sido submetido a mudanças profundas, nas quais alterações nos preços relativos de gasolina e etanol podem provocar grandes oscilações na demanda de cada um desses combustíveis.

Quanto mais cresce a frota flex, maiores tornam-se essas oscilações em termos de volume absoluto, impactando, assim, toda a cadeia de  combustíveis.

A revolução no controle: uma outra revolução importante ocorre no âmbito do controle das usinas. Durante a última década, várias usinas familiares se tornaram empresas abertas ou passaram a ser controladas por grandes empresas multinacionais.

Essas mudanças trouxeram consigo desafios e consequências imprevistas, mas também grande aprendizado. Agrônomos têm precisado  desenvolver novas variedades e técnicas de campo em resposta à expansão da colheita e do plantio mecanizado. Diretores comerciais precisam considerar uma série cada vez mais complexa de fatores na elaboração de seus planos de venda.

Eles precisam também se adaptar às novas medidas regulamentares que regem a comercialização e o armazenamento de etanol. Enquanto isso, CEOs e CFOs têm a responsabilidade de traçar o caminho de suas empresas vários anos à frente e garantir o capital necessário para o financiamento de suas visões. Além disso, todos os desafios têm sido, e continuarão a ser, enfrentados em um cenário de alta volatilidade dos mercados financeiros e de commodities globais.

Olhando para o futuro, fica claro que essas revoluções na indústria brasileira ainda têm um longo caminho a percorrer. Enquanto 65% da cana no Centro-Sul do Brasil são colhidos mecanicamente, em torno de apenas 10% são plantados mecanicamente. No que se refere à frota, 50% dos veículos leves ainda não são flex.

Por fim, muitas empresas ainda têm ambições de explorar os mercados de capitais ou atrair investidores estratégicos visando financiar o crescimento futuro, o que demandará, por parte delas, boas práticas de governança corporativa, bem como maior controle financeiro e de desempenho.

Lidar com alguns dos desafios associados a essas revoluções pode ter custado à indústria brasileira algumas perdas em termos de competitividade nos últimos anos. Essa questão foi agravada pela crise de produção e rendimento de cana em 2011/12.

Nos próximos anos, os esforços para recuperar a produtividade do canavial, aumentar a eficiência da colheita mecanizada e maximizar a utilização da capacidade instalada de moagem, combinados à  resiliência, flexibilidade e inovação, características dessa indústria no Brasil, devem ajudar a melhorar a sua competitividade.

Enquanto isso, as grandes questões que vêm criando essa  revolução no Brasil – como o aumento dos custos trabalhistas e a necessidade de manter o constante aumento de produtividade, a fim de compensar os custos mais elevados –  já estão começando a gerar uma crescente pressão de mudanças na indústria ao redor do mundo, notadamente em países como China, Índia e Tailândia.

Pode-se dizer, portanto, que, enquanto a revolução no campo está bem encaminhada no Brasil, ela está apenas começando nesses países. Da mesma forma que, no Brasil, eles  precisarão de tempo para lidar plenamente com esses desafios e como ocorre no Brasil atual, a  competitividade da indústria nesses países deverá  sofrer com as modificações técnicas e estruturais que serão necessárias para implementar a sua própria revolução.